PRIMEIRO BRASILEIRO artilheiro com oito gols em cinco jogos e melhor jogador da 3ª Copa do Mundo, em 1938 na França, o carioca Leônidas da Silva, nascido no bairro imperial de São Cristóvão, no sábado, 6 de setembro de 1913, completaria 110 anos hoje. Um dos notáveis da história, com 37 gols em 37 jogos pela seleção, foi chamado pelos franceses de Diamante Negro, que virou marca de chocolate, saboreado há mais de 80 anos pelos brasileiros.
LEÔNIDAS DA SILVA fez nove anos de base no São Cristóvão, desde os 10 anos, em 1923, mas se destacou no Bonsucesso, com 55 gols em 51 jogos, entre 1930 e 1932. Após se profissionalizar, foi o primeiro brasileiro a se transferir para outro país, comprado pelo Peñarol do Uruguai, em 1934, pela fortuna de 100 mil Réis, primeiro dinheiro brasileiro (1822); o segundo foi o Cruzeiro (1942), e o terceiro, o Real, 50 anos depois (1992). Em 25 jogos, 28 gols pelo campeão uruguaio.
LEÔNIDAS DA SILVA tornou-se torcedor do Fluminense, encantado com o time tricampeão carioca de 1936-37-38, em que brilhavam o goleiro Batatais, o meia Tim, que driblava mais rápido que o próprio apelido, e os atacantes Romeu e Hércules, adversários no Fla-Flu, mas companheiros na seleção na Copa de 38. Foi então chamado pelo jornalista francês Raymond Thourmagem, da revista Paris Match, de Diamante Negro e Homem-Borracha, por sua elasticidade.
NA VOLTA AO BRASIL, onde se recuperou de torção do tornozelo, Leônidas foi campeão carioca e artilheiro pelo Vasco, em 1934, com 27 gols em 29 jogos. Em 1935, campeão pelo Botafogo, com 26 gols em 36 jogos. De 1936 a 1941, 153 gols em 149 jogos pelo Flamengo, mas só foi campeão carioca em 1939. Saiu em 1942, brigado com o presidente Gustavo Carvalho, que lhe negou aumento. Em 1941. Leônidas falsificou atestado de reservista para conseguir emprego público e ficou um mês preso no Exército.
LEÔNIDAS DA SILVA tornou-se nos anos 40, figura tão popular quanto Getulio Vargas, presidente da República, e Orlando Silva, o cantor das multidões, que superlotava o auditório da Rádio Nacional, no programa das tardes de sábado de Cesar de Alencar. 70.281, o público pagante da estreia de Leônidas no São Paulo (3 x 3 com o Corinthians), no domingo, 24 de maio de 1942. Na despedida, 2 x 2 com o Nacional, 71.313 pagantes, no domingo, 23 de dezembro de 1950.
ÍDOLO E ARTILHEIRO, Leônidas formou gerações de torcedores do São Paulo, com os títulos de campeão paulista de 1943, 1945-46 e 1948-49, disse Laudo Natel – 1920 – 2020 -, duas vezes governador do estado, presidente e patrono do São Paulo, que sugeriu, sete anos depois, a contratação de outro notável, Zizinho, aos 37 anos, campeão paulista de 1957. Leônidas fez 153 gols e ganhou 137 dos 149 jogos pelo São Paulo.
POUCOS SABEM, mas a primeira namorada de Leônidas foi Elizeth Cardoso, A Divina, intérprete da geração de ouro de Dalva de Oliveira, Nora Ney, Angela Maria e Maysa. Conheci Leônidas na Copa de 74, quando ele comentava na Jovem Pan, e me contou que na estreia da Copa de 38 (6 x 5 na Polônia), em que marcou três gols, no 3º estava descalço porque chovia muito, o gramado virou um lamaçal e a chuteira prendeu na grama enquanto corria. O 1º gol de bicicleta de Leônidas foi na vitória do Bonsucesso sobre o Carioca por 3 x 2, em 1932.
CHOCÓLATRA, eu não poderia deixar de perguntar, o que ganhou pelo lançamento do Diamante Negro, em 1939, um ano depois de voltar artilheiro e com o 3º lugar, então a melhor colocação do Brasil em uma Copa do Mundo. Leônidas resumiu: “Ganhei três mil réis, e nunca mais recebi nada, nem uma caixa do chocolate”. Ele morreu aos 90 anos, em 1 de janeiro de 2004, no município paulista de Cotia, onde um ano depois o São Paulo inaugurou o Centro de Treinamento que tem revelado valores, tais como Oscar, Casemiro, Rodrigo Caio e Eder Militão.
Foto: Reprodução, Terceiro Tempo