Os 115 anos que o eternamente querido América FC completa neste 18 de setembro de 2019, merecem um registro, que fazemos com o coração em festa e a recordar as muitas fases de sucesso, com as conquistas que marcaram época em sua história. O América que conheci foi o da Rua Campos Salles 118, no coração da Tijuca, em 1958, ano em que iniciei minha vida profissional de repórter no Rio.
INSPIRAÇÃO – Primeiro clube com o nome do continente, o América FC inspirou a criação, no país e no exterior, de vários outros com seu nome. Assim surgiram o Club América, da Cidade do México – 12/10/1916 – e o América FC, de Cali (Colômbia), em 21/12/1918. Em Manaus, o América FC, fundado pelos irmãos Arthur e Amadeu Teixeira, em 2/8/1939, um mês antes do meu nascimento, e que vi em tantos jogos no saudoso Parque Amazonense.
RELÓGIOS DE OURO – O primeiro dos sete títulos cariocas do América foi o de 1913, em que se destacaram o goleiro Marcos Carneiro de Mendonça, o zagueiro Belfort Duarte, presentes nas 12 vitórias e 3 derrotas, e o artilheiro Fernando Ojeda, com 9 dos 40 gols. Além de banquete no Filhos do Céu, melhor restaurante da época na Tijuca, cada campeão ganhou um relógio de ouro do presidente Alberto Carneiro de Mendonça.
A BOLA E A ENGENHARIA – O América voltou a ser campeão carioca três anos depois, ganhando o título de 1916 como único time que não teve convocado para a seleção brasileira no primeiro Sul-Americano, ganho pelo Uruguai. Foi o último campeonato do chileno Fernando Ojeda, de novo artilheiro do time, com 9 dos 19 gols. Ojeda formou-se em Engenharia e deixou o futebol, jogado por puro diletantismo.
DIVINA DAMA – No terceiro título, em 1922, o América foi consagrado como Campeão do Centenário da Independência e teve como destaque um dos maiores jogadores de todos os tempos, Osvaldinho, na época centro-médio, de futebol refinado, que lhe valeu o apelido de Divina Dama, comédia de sucesso da época. Foi o último campeonato, desde 1906, em que não havia jogador negro, em time algum do Rio.
CONVITE DA ARGENTINA – A campanha do quarto título do América foi marcada por atuações tão destacadas, que o clube recebeu convite da AFA – Associação do Futebol Argentino – para se apresentar em Buenos Aires. Um dos destaques, o goleiro Joel, que em 1930 estaria com a seleção na primeira Copa do Mundo no Uruguai.
PELO TELEFONE – Na rodada final de 1931, o América venceu (3 x 1) o Bonsucesso, mas só poderia comemorar seu quinto título, se o Botafogo vencesse o Vasco, em jogo que começaria depois. Não havia transmissão pelo rádio e os jogadores do América foram para a sede esperar o resultado. E comemoraram depois que, pelo telefone, um diretor informou: Botafogo 3 x 0. O estoque de cerveja terminou…
TICO-TICO NO FUBÁ – Dois anos após o profissionalismo ser implantado, o América foi o campeão de 1935. E seu sexto título valeu ao seu ataque o apelido de Tico-tico no Fubá, pela altíssima velocidade, como a do choro composto pelo mineiro Zequinha de Abreu, que morreu no mesmo ano, e um grande sucesso mundial na voz de Carmen Miranda.
VALE RECORDAR que o Tico-tico no fubá foi tema de seis filmes nos Estados Unidos, estrelados por Ester Williams – 1921 – 2013-, belíssima nadadora e atriz, consagrada como a Sereia de Hollywood. Ela era tão sucesso quanto o ator Johnny Weissmuller, o mais famoso Tarzan do cinema, recordista mundial de natação e ganhador de cinco medalhas de ouro olímpicas.
TICO-TICO NO FUBÁ, sucesso que o ataque do América fez no Campeonato Carioca de 1935, foi gravado pela orquestra do maestro Ray Conniff, obrigado a tocar em todas as suas apresentações no mundo. Foi a música-tema da seleção brasileira de nado sincronizado no Mundial de Esportes Aquáticos de 2013, em Barcelona. E a música de encerramento dos Jogos Rio 2016, com Roberta Sá interpretando Carmen Miranda.
ÚNICO NO MARACANÃ – O sétimo e último título de campeão carioca do América foi o único no Maracanã. O Fluminense, campeão do último título do Distrito Federal, em 1959, levou a virada (2 x 1), no domingo, 18 de dezembro de 1960. Pinheiro fez o gol de pênalti, e na volta do intervalo o ponta Nilo e o lateral Jorge marcaram os gols do título de Primeiro Campeão do Estado da Guanabara, diante 99 mil pagantes.
OS CAMPEÕES – Pompeia (Ari), Jorge, Djalma Dias, Wilson Santos e Ivan; Amaro e João Carlos; Calazans, Antoninho, Quarentinha e Nilo. 27 anos mais novo que Zezé Moreira, técnico do Fluminense, que tinha 53, Jorge Vieira, aos 26 anos, foi o técnico mais jovem a ganhar o Campeonato Carioca. Depois foi campeão no Corinthians e no América do México.
OS ARTILHEIROS – Luizinho Lemos – 3/10/1952 – 2/6/2019 – foi o principal artilheiro do América, com 311 gols, e o terceiro da história do Maracanã. Edu Coimbra, com 212 gols, o maior ídolo do clube e um dos últimos campeões no Maracanã, em 1974, com a Taça Guanabara. Maneco – 1922 – 1956 – só jogou no América e foi o terceiro artilheiro, com 187 gols. Fez parte do ataque notável do Tico-tico no fubá: China, Maneco, Cesar, Lima e Jorginho. Na época em que o ataque era formado por cinco.
Entre os ex-jogadores do América que me trazem as melhores lembranças, Plácido, quarto artilheiro do clube com 167 gols. Campeão carioca em 1933 no Bangu e em 1935 no América, como centroavante matador, Plácido de Assis Monsores foi o técnico do Madureira na Volta ao Mundo de 1964, a primeira viagem que fiz como repórter. Aprendi muito com ele, que sabia demais.
Fotos: Trivela, wix, gatospingados.no.comunidades, Toque de Bola e Histórias do Futebol