ÚLTIMO LANCE do primeiro Fla-Flu decidido no Maracanã, com mais de 180 mil torcedores, no domingo, 15 de dezembro de 1963. O zagueiro Luis Carlos (3) ergue os braços, o lateral Murilo (2) corre de braços abertos, entre o ponta Escurinho (ao fundo) e o meia Evaldo vê de perto o goleiro Marcial fazer a última defesa. Ao fundo, a multidão na geral e na arquibancada,e o placar, só com as iniciais dos clubes.
O Fla-Flu de domingo (12) e quarta (15) será o décimo segundo decisivo do Campeonato Carioca em 70 anos de história do Maracanã, e o terceiro em dois jogos, como aconteceu em 1991 e em 2017, com o Flamengo campeão em ambos. Em onze finais, cada time ganhou cinco jogos, e o Flamengo foi campeão uma vez com o empate. O resumo é bom para que os mais velhos recordem e os mais novos conheçam um pouco da história do clássico, disputado pela primeira vez em 7 de julho de 1912.

FLA-FLU DO RECORDE – Tive a alegria de cobrir como repórter de rádio o primeiro Fla-Flu decisivo do Campeonato Carioca no Maracanã, na tarde ensolarada do domingo, 15 de dezembro de 1963, Flamengo campeão com a vantagem do empate. Não houve gol, mas sobrou emoção do início ao fim, com muitas chances, que pararam em boas defesas do mineiro Marcial, do Flamengo, e do carioca Castilho, recordista de jogos (698) no Fluminense, entre 1947 e 1964.
- Recorde mundial de público – 177.020 pagantes – em jogo de times da mesma cidade. Último título do recordista Flávio Costa, técnico oito vezes campeão carioca (cinco no Flamengo, em 1939, 1942-43-44, 63, e no Vasco, invicto em 47 e 49, e primeiro campeão no Maracanã, em 1950). Time-base campeão de 63: Marcial, Murilo, Ananias, Luis Carlos e Paulo Henrique; Carlinhos e Nelsinho; Espanhol, Airton, Dida e Osvaldo. 17 vitórias, 5 empates, 2 derrotas (América 3 x 1, Bangu 2 x 1). Bianchini, do Bangu, artilheiro do campeonato com 18 gols.

TELÊ SANTANA – Campeão como ponta em 1951 e meia em 1959, Telê ganhou o primeiro título carioca em 1969 como técnico, quando passou a ser chamado também pelo sobrenome. Na final de 15 de junho, diante de 171.599 pagantes, Wilton, Claudio e Flavio fizeram os gols do Fluminense. Liminha e Dionísio, os do Flamengo. Os campeões: Félix, Oliveira, Galhardo, Assis e Marco Antonio; Denilson e Lulinha (Samarone); Wilton, Flavio, Claudio e Lula (Gilson Nunes).
- Flavio, artilheiro do campeonato com 15 gols, em um time de muita regularidade, com 12 vitórias, 4 empates e 2 derrotas (2 x 0 América, 3 x 1 Botafogo), 35 gols marcados e 15 sofridos. Telê Santana creditava o equilíbrio de suas equipes às muitas lições de seu melhor técnico, Zezé Moreira, que convidou para observar os adversários da seleção que comandou na Copa de 1982.

ESTRELA DE ZAGALO – O Flamengo voltou a ser campeão carioca em 1972, depois de sete anos, no terceiro título do técnico Zagalo, bi em 67-68 no Botafogo. Na final de 7 de setembro, com 136.829 pagantes no Maracanã, venceu (2 x 1), com os gols do argentino Doval e de Caio, que ganhou o apelido de Cambalhota, ao comemorar junto dos torcedores da geral com três cambalhotas em câmera lenta. Jair fez o gol do Fluminense quando já estava 2 x 0.
- Os campeões: Renato, Moreira, Chiquinho, Reyes e Rodrigues Neto; Liminha e Zé Mario; Rogerio, Caio, Doval e Paulo Cesar, campeões cariocas no ano do Sesquicentenário da Independência do Brasil, com 17 vitórias, 7 empates, 3 derrotas (Fluminense 1 x 0, Olaria 2 x 1 e São Cristóvão 1 x 0). Doval, artilheiro do campeonato, 17 gols em 27 jogos. Pela primeira vez, uma final carioca com árbitro paulista, Oscar Scólfaro, que expulsou o lateral Moreira.

CAMPEÃO NO AGUACEIRO – A força do Fla-Flu foi comprovada na noite de 22 de agosto de 1973. Apesar do aguaceiro que quase parou a cidade, 74.073 pagantes no Maracanã. O Fluminense só precisava empatar e saiu para o intervalo com 2 x 0, Manfríni e Lula. O Flamengo empatou com dois gols de Dario – artilheiro do campeonato com 15 em 22 jogos -, mas Manfríni e Dionísio, ex-Flamengo, fecharam os 4 x 2. Os campeões: Félix, Toninho, Silveira, Assis e Marco Antonio; Pintinho e Rubens Galaxe; Cafuringa, Manfríni, Dionísio e Lula. Técnico – David Ferreira (Duque).
- Pelo segundo ano consecutivo com o campeonato em três turnos, a final carioca foi apitada por um paulista, José Favile Neto, que trocou a chuteira pouco antes, passando a usar trava alta, devido ao aguaceiro. Dos 24 jogos, o Fluminense ganhou 12, empatou 7 e perdeu 5 (Botafogo 2 x 1, Olaria 2 x 0, América 1 x 0, Vasco 1 x 0 e 1 x 0). Parreira iniciava como preparador físico.
O PRIMEIRO GOL DE ASSIS – Os torcedores do Flamengo comemoravam o título, mas ficaram em silêncio no último lance da decisão de 11 de dezembro de 1983. Na época, o placar do Maracanã marcava o tempo de jogo e Arnaldo Cezar Coelho olhou no cronômetro, quando Adílio, bem inocente, deu a bola com a mão para Delei bater seu impedimento. Delei foi rápido e encontrou Assis, que tocou rasteiro no canto direito, na saída do goleiro Raul, já passando dos 45 minutos. Os campeões: Paulo Victor, Aldo, Duílio, Ricardo Gomes e Branco; Jandir, Delei e Assis; Leomir, Washington e Paulinho.
- O time foi dirigido no turno pelo ex-meia Claudio Garcia, campeão em 69, e no returno pelo ex-apoiador José Luis Carbone. Na campanha, 13 vitórias, 6 empates, 5 derrotas (Vasco 2 x 0, América 1 x 0, Bangu 1 x 0, Flamengo 2 x 1, Goytacaz 2 x 1), com 30 gols marcados e 13 sofridos. Luizinho Lemos, do América, artilheiro do campeonato com 22 gols em 22 jogos.
REPETECO DO CARRASCO – No terceiro campeonato consecutivo com triangular decisivo, Assis voltou a ser o destaque, tornando-se o carrasco do Flamengo, ao marcar de cabeça o gol do bi, com o goleiro argentino Ubaldo Fillol só olhando, diante de 153.520 pagantes, no domingo, 16 de dezembro de 1984. O cruzamento de Aldo foi sob medida e Assis cabeceou no ângulo esquerdo, aos 30 do segundo tempo. Os campeões: Paulo Victor, Aldo, Duílio, Vica e Renato; Leomir, Renê e Assis; Romerito, Washington e Tato.
- O técnico Luis Henrique foi substituído por Carlos Alberto Torres, na campanha de 16 vitórias, 5 empates, 3 derrotas (Botafogo 4 x 2, Flamengo 1 x 0 e Vasco 2 x 1), com 40 gols marcados e 16 sofridos. O campeonato teve dois artilheiros com 12 gols, Claudio Adão, do Bangu, e Baltazar, do Botafogo. O Fluminense havia ganho pouco antes o primeiro Campeonato Brasileiro entre equipes da mesma cidade, em decisão com o Vasco (1 x 0, gol de Romerito, e 0 x 0).
PRIMEIRA EM DOIS JOGOS – Depois de seis decisões em jogo único, Flamengo e Fluminense decidiram, pela primeira vez em dois jogos, em 1991. Dia 15 de dezembro, 1 x 1, gols de Ézio, de pênalti, e Paulo Nunes, diante de 43.718 pagantes, com arbitragem de Daniel Pomeroy. Domingo, 19, sob muita chuva, Flamengo 4 x 2, Uidemar, Gaúcho, Zinho e Junior, e Ézio (2). 49.975 pagantes e arbitragem de Claudio Cerdeira. Os campeões: Gilmar, Charles Guerreiro, Gotardo, Jr.Baiano e Piá; Uidemar, Junior, Nelio (Marcelinho) e Zinho; Paulo Nunes e Gaúcho. O técnico Vanderlei Luxemburgo foi substituído por Carlinhos.
- Na campanha, o Flamengo obteve 17 vitórias, 7 empates e só perdeu (2 x 1) para o Fluminense. O time marcou 44 gols e sofreu 20. Aos 37 anos, Junior foi o destaque do campeonato, que teve em Gaúcho o artilheiro, com 17 gols em 25 jogos, pelo segundo ano consecutivo (havia feito 14, em 22 jogos, no ano anterior). A terceira decisão em dois jogos será agora, em 2020.

O GOL DE BARRIGA – O Flamengo investiu pesado para ganhar o título de 1995, ano de seu centenário, contratando os campeões mundiais de 94 Romário, Branco e Mazinho, mas acabou perdendo a decisão para o Fluminense, na noite de 25 de junho, diante de 109.204 pagantes. Renato e Leonardo fizeram Fluminense 2 x 0, mas na volta do intervalo, Romário e Fabinho empataram. Quando a torcida comemorava, Ailton deixou Charles Guerreiro caído com dois dribles e chutou. Na trajetória, Renato Gaúcho, que jogou com a fitinha do Porcão, desviou. Fluminense campeão com o primeiro gol de barriga da história.
- O placar de 3 x 2 foi registrado pela segunda vez em Fla-Flu decisivo, em que o Fluminense saiu campeão com 17 vitórias, 7 empates, 3 derrotas (Madureira 1 x 0, na estreia, Volta Redonda 2 x 1 e Botafogo 1 x 0). Os campeões: Wellerson, Ronald, Lima, Sorlei e Lira; Marcio Costa, Ailton, Djair e Rogerinho (Ézio); Renato Gaúcho e Leonardo (Cadu). Técnico – Joel Santana.
SEGUNDA EM DOIS JOGOS – Faz três anos que o Flamengo ganhou a segunda decisão com o Fluminense em dois jogos. No primeiro, em 30 de abril de 2017, o ponta Everton fez o gol, diante de 34.926 pagantes. No segundo, dia 7 de maio, Henrique Dourado marcou de cabeça logo aos 3 minutos, e no segundo tempo, Guerrero empatou aos 39 e Rodinei fez o da virada aos 50 minutos, com 58.399 pagantes. Os campeões: Alex Muralha, Pará, Rever, Rafael Vaz e Renê; Marcio Araújo, Trauco (Rodinei) e Arão; Berrio (Gabriel), Guerrero e Everton (Juan). Técnico – José Ricardo Mannarino.
- Foi o sexto título invicto do Flamengo, igualando-se ao Vasco. O zagueiro Rever recebeu a Taça Carlos Alberto Torres, homenagem ao capitão campeão do mundo de 1970, falecido em outubro de 2016 aos 72 anos. O peruano Paolo Guerrero foi o artilheiro do campeonato com 10 gols. O árbitro Wagner Magalhães expulsou o goleiro Diego Cavalieri. O gol de Rodinei foi sofrido pelo meia equatoriano Jeferson Orejuela.