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Alegra-me recordar o primeiro título que Telê Santana, um dos meus grandes amigos no futebol, ganhou em sua carreira vitoriosa como técnico, dos mais capazes e competentes da história. Hoje, 15 de junho de 2019, faz 50 anos que ele dirigiu o Fluminense, campeão carioca de 1969, ganhando (3 x 2) o Fla-Flu da tarde do domingo 15 de junho de 1969, no Maracanã, diante de 166.551 pagantes, com o gol da vitória de Flávio, artilheiro do campeonato.

FIO DE ESPERANÇA – Quando chegou de Itabirito, a 60 km de Belo Horizonte, Telê era muito magro, e para ganhar peso, chegava a comer feijoada quatro vezes por semana, na concentração dos juvenis do Fluminense. O diretor Benício Ferreira Filho ofereceu cinco mil cruzeiros, valor bem alto na época, a quem ganhasse o concurso do Jornal dos Sports, lançado pelo jornalista Mario Filho, irmão mais velho de Nelson Rodrigues – ambos tricolores -, com a criação de um apelido. Fio de Esperança ganhou.

GOLS DO TÍTULO – Telê – o sobrenome Santana só foi adotado quando passou a técnico – era ponta-direita, mas no segundo jogo da final de 51 com o Bangu, Zezé Moreira – sua inspiração como técnico –, tirou Carlyle e o colocou de centroavante. Fluminense 2 x 0, campeão com dois gols de Telê. No ano seguinte, campeão invicto da Taça Rio, o Mundial de clubes da época, no Maracanã, com 3 x 0 no Peñarol, base da seleção uruguaia, campeã do mundo em 50, no Maracanã, com a virada (2 x 1) no Brasil. 

TÍTULO INÉDITO – Telê continuou como um dos gigantes do time, primeiro carioca a ganhar, invicto, o Torneio Rio-São Paulo de 57, depois de sete anos consecutivos de domínio dos paulistas. Dois anos depois, outro título carioca em 1959, já na meia e com o paulista Maurinho na ponta-direita. Telê saiu do Fluminense em 60, vice-campeão carioca, em decisão que o América venceu (2 x 1 de virada). Foi o terceiro que mais vestiu (e honrou) a camisa tricolor, em 557 jogos, e o quinto artilheiro (165 gols).

TÉCNICO CAMPEÃO – Campeão de 68 dirigindo os juvenis (na época não havia juniores), Telê assumiu o comando dos  profissionais e ganhou o campeonato de 69, com 12 vitórias, 4 empates, 2 derrotas, 35 gols a favor e 14 contra. O primeiro título de sua notável carreira como técnico. Time campeão: Félix, Oliveira, Galhardo, Assis e Marco Antonio; Denilson e Lulinha; Wilton, Flavio, Claudio e Lula, junto com Marco Antonio, em todos os 18 jogos da vitoriosa campanha. O presidente era Francisco Laport.

30 ANOS DEPOIS – Como treinador, detalhista ao extremo, Telê Santana foi o único campeão em quatro estados: carioca no Fluminense; mineiro no Atlético – único título de campeão brasileiro em 1971 -; gaúcho no Grêmio, e 30 anos depois do Santos, campeão da Libertadores e Mundial de clubes, em 62-63, na época de ouro do Rei Pelé, levou o São Paulo aos mesmos títulos em 92 e 93, ganhando decisões históricas com o Barcelona e o Milan. Mestre Telê, assim passou a ser chamado pelos torcedores do São Paulo, depois de ser o único técnico do mundo a ganhar quatro títulos internacionais no mesmo ano (1993): Libertadores, Supercopa Libertadores, Recopa Sul-Americana e Mundial de clubes.

AMIGOS PELO CORREIO – Garoto em Manaus, ouvindo futebol pelo rádio, lendo revistas que chegavam com uma semana de atraso, escrevi uma carta para Telê e nem acreditei quando a resposta chegou na casa da Rua Frei José, onde nasci e fui criado. Em 58, quando comecei a trabalhar na Rádio Nacional, fui conhecê-lo nas Laranjeiras e nossa amizade deixou então de ser só pelo correio. Quando ele estava no Madureira, indicou-me a jornalista da delegação da Volta ao Mundo, de abril a junho de 64, a melhor viagem da minha carreira profissional, incluídas as oito Copas do Mundo consecutivas que cobri de 70 a 98. Bom dizer: na época, os clubes não poderiam viajar para o exterior sem jornalista convidado. Era lei do Conselho Nacional de Desportos.

COMIDA ÁRABE – Ao fim de um treino, pouco antes do meio dia, no estádio da Rua Conselheiro Galvão, Telê me disse que iríamos almoçar na Saara, região do comércio popular no Centro do Rio, a convite do Nazir Nasser, diretor do Fluminense. E quis saber: “Você gosta de comida árabe?” Nunca comi, Telê. Daquele almoço em diante, voltei muitas vezes ao Sírio Libanês, do rubro-negro Joel, há anos, meu vizinho no Leblon. Fiquei fã de pasta de grão de bico com azeite, quibe cru e frito, pão árabe, míchui, cafta e, principalmente, esfiha. Nem em Jeddah, onde estive em 78 com a seleção, se come comida árabe mais gostosa.

SAUDOSISTA de carteira assinada, recordar os 50 anos que se passaram, as conversas com Telê, Castilho, Píndaro e Pinheiro, só me fazem lembrar, o quanto aprendi com quem sabia do universo da bola. Era impossível não aprender com Telê Santana da Silva, o mineiro multicampeão de Itabirito, que no próximo 26 de julho completaria 88 anos. Qualquer dúvida, perguntem ao ZicoFalcãoLeandroJúnior e a tantos que tiveram lições inesquecíveis. Só não posso deixar de citar IvoneteRenêeSandra, esposa e filhos. A bela família que mestre Telê Santana tanto adorava e era sua fonte inesgotável de inspiração.