Em pé, Ari, Pompéia, Jorge, Djalma, Leônidas, Amaro, Wilson Santos, Décio, Ivan e o massagista Olavo.Agachados – Fontoura, Calazans, Antoninho, Quarentinha, João Carlos e Nilo / cacellain.com.br
Hoje faz 58 anos que o América foi campeão carioca pela última vez, na tarde do domingo 18 de dezembro de 1960, na primeira decisão transmitida ao vivo pelas três emissoras de televisão da época. Foi o primeiro campeonato do recém criado estado da Guanabara, em 14 de abril de 1960, quando o Rio deixou de ser a capital da República, transferida uma semana depois, para Brasília, ainda em obras, que levaram anos para serem concluídas. O título anterior do América havia sido ganho em 1935.
ÚLTIMO E PRIMEIRO – Último campeão do Distrito Federal em 1959, o Fluminense manteve a base e o técnico, credenciando-se como amplo favorito na final, ainda mais que só precisava do empate para ser bi. Além de vencer, o América teria que superar a desvantagem, na volta do intervalo, quando o Fluminense ganhava (1 x 0) com o pênalti convertido aos 26 minutos pelo zagueiro Pinheiro, capitão do time, após a rebatida do goleiro Ari, que não conseguiu segurar o chute fortíssimo.
PONTA E LATERAL – O América empatou logo aos quatro minutos, com o chute forte do canhoto Nilo, e aos poucos passou a dominar. O gol da virada e do título, aos 33, teve de novo a participação de Nilo. O chute dele foi muito forte e o goleiro Castilho teve que rebater. O lateral-direito Jorge, que acompanhava o lance, aproveitou e bateu de pé direito. Não conseguiu diminuir o pique e entrou no gol se enrolando nas redes, onde foi sufocado na comemoração.
TRÊS VEZES VICE – Os cinco primeiros títulos de campeão carioca do América foram na época do amadorismo: 1913, 1916, 1922, 1928 e 1931, de vez que o profissionalismo no futebol do Rio só foi implantado em 1933. Depois da conquista de 1935, o sétimo e último título, em 1960. Antes, o América chegou a duas decisões: vice em 50 com o Vasco (2 x 1), na primeira final do Maracanã, e vice em 55 com o Flamengo (4 x 1), depois de perder o primeiro jogo (1 x 0) e de ganhar o segundo (5 x 1).
OS CAMPEÕES – O time-base do último título, em 18/12/60, no 4-2-4 da época, Pompéia, Jorge, Djalma, Wilson Santos e Ivan; Amaro e João Carlos; Calazans, Antoninho, Quarentinha e Nilo. Na campanha de 22 jogos, 16 vitórias, 5 empates e a única derrota, para o Bangu, na quinta rodada do turno (21/8/60), 1 x 0, gol do zagueiro Zózimo, irmão do ponta-direita Calazans, e que dois anos depois formaria com Mauro, do São Paulo FC, a zaga da seleção bicampeã do mundo em 1962, no Chile.
METADE DA IDADE – O técnico do campeão de 1960 foi Jorge Vieira – 18/7/34 – 25/7/2012 -, carioca, ex-lateral do Madureira, torcedor do Fluminense, que tinha a metade da idade de Zezé Moreira – 16/10/1907 – 10/4/1998 -, técnico do Fluminense, campeão carioca pela primeira vez no Botafogo, em 1948, aos 41 anos, quando Jorge Vieira tinha apenas 14. Profissional competente e educado, Jorge Vieira sabia tratar com muito respeito e só se referia a Zezé Moreira como mestre Zezé.
OUTROS TÍTULOS – Jorge Vieira levou o Galícia EC, de Salvador, ao último título de campeão baiano (1968). Campeão paulista no Corinthians em 79 e 83. Fez do Coritiba o primeiro time do Paraná a disputar a Libertadores, em 1986, ano em que também dirigiu a seleção do Iraque na Copa do Mundo. Jorge Vieira também marcou época no México, dirigindo o Puebla e o América (bicampeão 87-88), e comandou a seleção de El Salvador, após ser vice-campeão brasileiro no Palmeiras, em 78.
DOIS ARTILHEIROS – No título de 1960, o América não sofreu gol em 10 dos 22 jogos. Marcou 39 gols – média de 1,77 por jogo – e os artilheiros do time, Antoninho e Nilo, fizeram 9, menos 16 que Quarentinha, do Botafogo, artilheiro do campeonato com 25. O América só teve dois artilheiros do Campeonato Carioca: Plácido Monsores, com 17 gols no título de 1935, e Luisinho Lemos – maior artilheiro da história do clube -, com 26 no campeonato de 1974 e 22 gols no campeonato de 1983.
MAIS PÚBLICO – Mesmo com a TV Continental, TV Tupi e TV Rio transmitindo, ao vivo, o jogo final, América 2 x 1 Fluminense, em 18/12/1960, teve 98.099 pagantes no Maracanã. Na moeda da época, a renda foi de 3 milhões, 973 mil, 606 cruzeiros. O total de ingressos vendidos no Campeonato Carioca de 1960 foi de 1.445.200, mais 67.275 do que os ingressos vendidos em 1959. O correto árbitro Wilson Lopes de Souza não foi notado em campo. Um dos bons amigos que tive entre tantos árbitros.
ITÁLIA E ESTÁDIO – Na esteira do título de 1960, o América negociou o ponta Nilo e o zagueiro Djalma com o Palmeiras, onde passou a ser Djalma Dias porque já havia o lateral Djalma Santos (bicampeão mundial 58-62), e o voo mais alto foi o do notável apoiador Amaro, negociado por 72 milhões de cruzeiros (na época, uma fortuna) com a Juventus, onde formou com o argentino Omar Sívori um dos meios-de-campo mais técnicos e brilhantes do time mais antigo do Campeonato Italiano.
Com o fim do mandato de Álvaro Waldir Pereira da Motta, presidente campeão, o superagitado Wolney Braune, funcionário graduado da Caixa Econômica, assumiu a presidência e impulsionou o América. Por 60 milhões de cruzeiros, ele comprou a área do Andaraí, onde hoje há um shopping, e fez um estádio que ganhou seu nome. A inauguração, em 67, foi com América 1 x 1 Fluminense.
LAMARTINE BABO – Nascido no mesmo ano da fundação do clube, o tijucano e torcedor fanático Lamartine Babo – 10/1/1904 – 16/6/1963 -, desfilou em carro aberto, pelas ruas da Tijuca e do Centro, fantasiado de diabo (símbolo do clube), comemorando o título. Autor de grandes sucessos – O teu cabelo não nega, Linda morena, Serra da Boa Esperança, entre muitos -, Lamartine também compôs, em 1949, os hinos de todos os clubes cariocas. Lógico que o primeiro foi o do seu América.
CHICO ALVES – Embora de família portuguesa, Francisco Alves – 19/8/1898 – 27/9/52 -, que tinha voz de tenor, mas se tornou barítono, como seu ídolo Vicente Celestino, era apaixonado pelo América. O Rei da Voz gravou, entre outros sucessos, Aquarela do Brasil, Ai que saudade da Amélia e Canção da Criança, com os meninos da Casa de Lázaro compondo o coro que o acompanhava. Chico Alves morreu em desastre de automóvel quando o carro que dirigia, na volta ao Rio, pegou fogo e o corpo dele ficou carbonizado. Ele ia ao Maracanã ver um jogo do América. Vazia, a cadeira perpétua dele foi fotografada e apareceu em todos os jornais.
DOIS NA COPA – Quando a seleção brasileira estreou na primeira Copa do Mundo, em 14 de julho de 1930, no Parque Central, em Montevidéu – Iugoslávia 2 x 1 Brasil -, dois jogadores do América estavam em campo, escalados pelo técnico Píndaro de Carvalho, ex-zagueiro do Flamengo: o goleiro Joel e o meio-campo Hermógenes, campeões cariocas de 1928. O último jogador do América convocado para uma Copa do Mundo foi o meia Hermínio de Brito, em 1938, na França.