Alegra-me registrar neste último sábado (29) de junho de 2019, os 65 anos de Júnior, recordista de jogos do Flamengo, cuja camisa vestiu e honrou de 6 de novembro de 74 a 19 de agosto de 93, em 876 apresentações, com marcantes 508 vitórias e títulos históricos, como os da Libertadores e do Mundial de clubes de 81, além de quatro Campeonatos Brasileiros. Júnior fez parte da geração de ouro do futebol do Flamengo, em que os profissionais vestiam a camisa com espírito de amadores.
BOM OLHEIRO – Foi no Juventus, do Posto 3 – time do coração do ex-árbitro Armando Marques -, que Júnior, morador da Rua Domingos Ferreira, em Copacabana, começou e logo chamou a atenção de Modesto Bria. O craque paraguaio, que formava a linha média do primeiro tricampeonato do Flamengo, em 42-43-44, com Biguá e Jayme, convidou Júnior para treinar na base, em 73-74. Bria não chegou a vê-lo no futebol de salão (hoje, futsal) do Sírio Libanês, na Rua Marquês de Olinda, em Botafogo.
TRÊS POSIÇÕES – O início de Júnior foi como volante, na base, mas em 74, primeiro ano como profissional, ganhou o Carioca na lateral-direita, posição de seu técnico Jouber. Em 76, Claudio Coutinho o escalou na lateral-esquerda, onde se firmaria, e colocou Luxemburgo, tratado pelo prenome Vanderlei, na reserva. No mesmo ano, levou-o na seleção aos Jogos Olímpicos do Canadá, mas, sem explicação, preferiu improvisar Edinho na Copa do Mundo de 1978, deixando Júnior de fora.
O ÚNICO GOL – Júnior esteve entre os destaques da seleção que Telê Santana montou e encantou o mundo na Copa de 82, e marcou seu único gol em Copas, nos 3 x 1 na Argentina. Os caprichos da bola impediram que Júnior, Leandro, Zico, Falcão e outros nomes de prestígio fossem campeões. Um ano antes, no Uruguai, a seleção já havia sido injustiçada com a perda do Mundialito. Júnior deixou marca na seleção, de 79 a 92, com algumas exibições de gala em seus 88 jogos.
O PANDEIRO – Observando o jeito simples do manuseio do tio, Júnior aprendeu a tocar pandeiro aos oito anos. Gosta do samba, é figura do Carnaval nos desfiles de todos os anos da Mangueira, a escola do coração, e lançou um compacto em 82, com Voa Canarinho, e um CD, em 95, para comemorar o ano do centenário do Flamengo. Em 93, ao encerrar a carreira, resumiu: “Não sei se trocaria a Copa do Mundo pelos quatro Brasileiros, a Libertadores e o Mundial de clubes”.
NA ITÁLIA – Júnior viveu momentos desagradáveis no derbi de Turim, vítima do racismo dos torcedores da Juventus, mas contou com a reação imediata dos torcedores do Torino, que abriram uma faixa de desagravo: “Melhor negro do que juventino“. Em San Siro, foi insultado por torcedores do Milan, que até cuspiram em sua direção. Saiu do Torino com o carinho e a admiração de todos, que sempre exaltaram sua técnica e sua correção profissional.
HOMENAGEM – Ao sair do Torino, vice-campeão italiano em 87, Júnior tornou-se o primeiro estrangeiro a jogar pelo Pescara, e com a braçadeira de capitão. Na despedida, em 89, uma homenagem que tocou fundo no seu coração: o clube organizou um jogo das seleções da Itália e do Brasil, que se enfrentaram na Copa de 82. Não faltou nem mesmo o carrasco Paulo Rossi, que marcou os três gols. O coração de Júnior voltou a sentir outra emoção forte, ao voltar à Itália, em 2006, quando foi homenageado na festa dos 100 anos do Torino.
PEDIDO DO FILHO – Em 1989, aos 35 anos, voltou a pedido do filho Rodrigo, que não o tinha visto jogar pelo Flamengo. Ganhou a Copa do Brasil de 90, o Carioca de 91 e o Brasileiro de 92, já aos 38 anos. E fez um gol de falta, nos 3 x 0 da decisão com o Botafogo. Com certeza, Júnior está entre os muitos que nasceram fora de época no futebol: aos 30 anos, vice-campeão italiano pelo Torino, ele foi comprado do Flamengo por… dois milhões de dólares, a metade do que a Udinese pagou por Zico… Não faz tanto tempo, o Flamengo comprou Vitinho por 40 milhões!… E ninguém foi preso.
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