Ele nasceu Domingos Elias e fez das primeiras letras do nome – Dé –  a abreviatura de sua marca registrada no futebol, que jogou 18 anos, criando sempre histórias interessantes. Selecionei algumas para homenageá-lo nesta quinta (16), em que comemora 72 anos bem vividos. Ele foi parte importante da minha vida de repórter e não foram poucas as entrevistas que me deu, sempre atenciosas, inteligentes e com seu refinado bom humor.

SOBRENATURAL – O primeiro clube em que  jogou como profissional foi o Bangu, de 67 a 70. Dirigido pelo técnico Martin Francisco, estreou com o primeiro gol nos 2 x 0 no Fluminense – o segundo gol foi de Paulo Borges -, logo aos cinco minutos, no Maracanã, pela Taça Guanabara de 67. O Bangu levou oito bolas na trave e o goleiro Ubirajara Mota fez defesas impossíveis. No dia seguinte, Nelson Rodrigues escreveu: Só posso atribuir a derrota de ontem ao Sobrenatural de Almeida”. Poucos sabem: nascia um dos grandes personagens do notável escritor e dramaturgo.

GOL DE GOLEIRO – Era repórter de rádio, ficava sempre atrás de uma das traves, e vi de perto, em 68, quando um chute de efeito de Dé foi bem defendido pelo goleiro Valdir, do Vasco. Na reposição, Valdir fez gol contra com a mão direita, lançando a bola no fundo do próprio gol. Os companheiros correram para abraçar Dé, sem que ele ainda não tivesse visto que seu chute de efeito havia se transformado em gol contra e no resultado final (1 x 1).

A PEDRA DE GELO – Flamengo x Bangu, campeonato de 69, sábado à noite, no Maracanã. Bangu 1 x 0, gol de Aladim. Para esfriar a pressão do Flamengo, o zagueiro Luis Alberto caiu em campo. O massagista Pastinha entrou com um balde e Dé pegou uma pedra de gelo, que usou para desviar a bola do pé do zagueiro paraguaio Reyes, assim que o jogo recomeçou. O goleiro Sidnei saiu para tentar evitar, mas  o driblou e fez o gol. No desespero do Flamengo, que era líder, o Bangu recuou e fez mais dois em contra-ataques: 4 x 0.

CARTÃO DO ÁRBITRO – Em torneio no fim de 1970, Vasco e Bangu jogavam no estádio do Botafogo. Dé arrancou do meio do campo e quando ia fazer o gol, após driblar o goleiro, o árbitro Nivaldo Santos apitou. Ele pensou que estivesse impedido, mas o árbitro havia marcado pênalti e expulsado Renê, que dera soco em Acelino. Dé tirou o cartão da mão do árbitro e começou a mastigar, até destruí-lo, mas ouviu: “Pode sair. O senhor está expulso”.

TÍTULOS – Dé foi campeão brasileiro em 74 e da Taça Guanabara em 76 no Vasco, onde jogou com Andrada, Joel Santana, Moisés, Zanata, Alcir e Roberto Dinamite, ao voltar de Lisboa, campeão português e da Taça de Portugal com o Sporting. No Botafogo, em 77, com Mendonça, Paulo Cesar, Gil e Mario Sergio. Em 79, no América, clube do coração. Em 80 e 81, campeão da Copa do Rei da Arábia Saudita com o Al Hilal.

MUITO MAIS sobre o filho querido do seu Nini e da dona Elza, nas 170 páginas de As Incríveis Histórias do Dé, o Aranha, da produtora literária Denise Menezes, da editora Aldatena. Li e reli o livro, muito bem produzido e com historinhas muito bem contadas. Só não sei se fiz por merecer a dedicatória.

Fotos de Fernando Pimentel, Pintrest, Os Gigantes da Colina, Daniel Castelo Branco / Agência O Dia