Maracanã, 10 de agosto de 1975, Fluminense 4 x 1 Vasco. Em pé, Félix, Zé Maria, Silveira, Zé Mário, Assis, Marco Antônio e Deni Menezes, que entrou na foto a convite do time. Agachados, Gil, Pintinho, Manfrini, Rivellino e Paulo Cesar.
O ano começa com o aniversário de Rivellino, que completa 73 anos neste 1 de janeiro de 2019. Um dos canhotos mais brilhantes da história do futebol, marcou época no Fluminense – bicampeão carioca 75-76 – e na seleção tricampeã, a primeira, dos cinco títulos do Brasil, a vencer todos os jogos em Copa do Mundo. Foi dele, em primorosa cobrança de falta, o primeiro dos dezenove gols nos seis jogos da inesquecível campanha de 1970. A primeira das oito Copas consecutivas que cobri como repórter.
ESTREIA NO CARNAVAL – Roberto Rivellino, paulistano, tinha 29 anos quando estreou no Fluminense, em pleno sábado de Carnaval, na tarde de 8 de fevereiro de 1975. Pela primeira vez, Rivellino fez três gols em um jogo, nos 4 x 1 sobre seu ex-time – o Corinthians provou do próprio veneno – e o Maracanã, 25 anos após a inauguração, registrou 40.547 pagantes, no primeiro jogo em pleno Carnaval, que atraiu milhares de turistas europeus, a maioria de italianos, alemães e franceses.
PRIMEIRO TÍTULO – Rivellino formou-se na base do Corinthians de 63 a 65, embora o pai, Nicola, tenha tentado levá-lo para o Palmeiras, assim que despontou no futsal. Tornou-se profissional aos 19 anos, e até os 28 jogou no Corinthians – 65 a 74 -, saindo em 75 para o Fluminense, onde ganhou o primeiro título em 75 e voltou a ser campeão em 76. Saiu em 79 para o Al Hilal – 23 gols em 57 jogos – e encerrou a carreira, em 81, com o total de 217 gols em 686 jogos. Foi tricampeão saudita.
GOL DO ELÁSTICO – No bicampeonato carioca, Rivellino fez 11 gols nos 24 dos 30 jogos da campanha de 75 – 18 vitórias, 6 empates, 6 derrotas, 53 gols pró, 22 contra – e 11 gols nos 32 jogos da campanha de 76 – 23 vitórias, 7 empates, 2 derrotas, 74 gols pró, 26 contra -, registrando-se em 76 o maior público da história de 90 anos do Campeonato Carioca, com 3.070.016 pagantes. Foi o primeiro ano da Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro, com o melhor presidente de sua história, Octávio Pinto Guimarães.
Rivellino marcou o famoso gol do elástico –, aos 40 do segundo tempo, com o drible sobre Alcir, capitão do Vasco, e depois passou por mais dois marcadores, antes de deslocar o goleiro argentino Andrada, fechando a goleada (4 x 1), em 10/8/75. Os outros gols foram de Manfrini, Paulo Cesar e Gil. Edu, que antes brilhara no América, fez o gol do Vasco quando estava 2 x 0. Entre 75 e 78, Rivellino marcou com a camisa tricolor 53 em 158 jogos, 53 gols. Nenhum mais bonito que o gol do elástico.
PÉ DO ACELERADOR – O único dos 144 gols da carreira que o canhoto Rivellino marcou de pé direito – o pé do acelerador, como dizia – foi em 1972, na inauguração do estádio do Canindé, quando foi cedido pelo Corinthians para o amistoso em que a Portuguesa ganhou (2 x 0) do FK Zeljeznicar, da então Iugoslávia. Ele só jogou 40 minutos.
TORNEIO DE PARIS – Rivellino foi a principal atração do time que ganhou o Torneio de Paris, marcando os dois gols da estreia – 2 x 0 no PSG, em 22/6/76 – e depois com os lançamentos para Doval, Paulo Cesar e Pintinho, nos 3 x 1 da final com a seleção da Europa, em que se destacava o holandês Rosenbrink, da seleção vice-campeã do mundo em 74. O antigo Parque dos Príncipes, com sua lotação máxima de 50 mil torcedores, aplaudiu de pé o time do Fluminense que Mario Travaglini comandava.
120 JOGOS, 40 GOLS – São os números de Rivellino na seleção brasileira, desde a estreia em 16/11/65, até o último jogo, em 24/6/78, quando o Brasil, pela primeira vez, terminou uma Copa do Mundo invicto, mas em terceiro lugar. A seleção da estreia: Marcial, Galhardo (Jair Marinho), Eduardo, Clóvis e Edson; Dino Sani e Rivellino; Marcos, Flávio, Ney e Geraldo, que perdeu (2 x 0) para o Arsenal, em amistoso no Highbury Park, em Londres. A seleção tinha dois técnicos: Oswaldo Brandão e José Teixeira.
Na despedida, Brasil 2 x 1 Itália, no Estádio Monumental de Nuñez, no décimo segundo e último jogo da seleção em 1978, o Brasil ficou com o terceiro lugar da Copa: Leão (Palmeiras), Nelinho (Cruzeiro), Oscar (Ponte Preta), Amaral (Corinthians) e Rodrigues Neto (Botafogo); Batista (Internacional), Cerezo (Atlético Mineiro) depoisRivellino (Fluminense) e Dirceu (Vasco); Gil (Botafogo) depois Reinaldo (Atlético Mineiro), Jorge Mendonça (Palmeiras) e Roberto Dinamite (Vasco).
EM SUA TERCEIRA e última Copa, em 78, Rivellino teve problema de contusão. Fez o jogo de estreia (1 x 1) com a Suécia, e só voltou no penúltimo jogo (3 x 1 na Polônia), quando substituiu Cerezo, o que se repetiu no jogo seguinte, 2 x 1 na Itália, na decisão do terceiro lugar. Na seleção, 40 gols em 120 jogos – 81 vitórias, 27 empates, 12 derrotas -, com seis gols dos 36 que o Brasil marcou em 20 jogos de que participou em 70, 74 e 78.
O PRIMEIRO GOL – Rivellino fez o primeiro dos seis gols em Copas do Mundo, na tarde de 3/6/70, diante de 52 mil torcedores, no estádio Jalisco, em Guadalajara. Foi o gol de empate, com chute forte em cobrança de falta, aos 24, treze minutos depois que Ladislav Petras abriu o placar, aos 11 minutos, para a então Tchecoslováquia. A virada foi de 4 x 1, com os gols de Pelé e dois de Jairzinho, que ali iniciava a arrancada para se tornar o primeiro e único brasileiro a fazer gol em todos os jogos de uma Copa.
Na Copa de 74, que o Brasil terminou em quarto, perdendo a decisão do terceiro lugar para a Polônia (1 x 0, gol de Lato), no Estádio Olímpico de Munique, Rivellino marcou um gol nos 3 x 0 no Zaire, o gol da vitória (1 x 0), em outra bela cobrança de falta, sobre a então Alemanha Oriental, e um gol nos 2 x 1 na Argentina. Bom lembrar: Jairzinho ficou no meio da barreira da Argentina e se agachou, “matando” o goleiro Jurgen Croy, que não teve tempo de chegar na bola. Rivellino e Jairzinho combinaram, e deu certo.
Depois da Copa de 70, Rivellino ganhou mais dois títulos com a seleção: o da Copa Independência, em 1972, para comemorar os 150 anos da Independência – na final, 1 x 0 sobre Portugal, gol de Jairzinho no minuto final, em 9/7/72, diante de 99.138 pagantes, no Maracanã – e o torneio dos 200 anos da Independência dos Estados Unidos, em 1976, com a goleada (4 x 1) na Itália, em 31/5/76, no Yale Stadium, em New Haven, diante de 37 mil torcedores. Gil (2), Zico e Roberto Dinamite, depois que Fabio Capello, logo aos dois minutos, fez o gol italiano.
CURIÓ DAS LARANJEIRAS – O Roberto Rivellino, que neste 1 de janeiro de 2019 completa 73 anos, continua o mesmo: simples, humilde, alegre e tratando bem a todos. Depois de ser o Reizinho do Parque, da época em que o estádio do Corinthians era o Parque São Jorge, ganhou também os apelidos de Bigode, que usou por muitos anos, e Curió das Laranjeiras, dos torcedores do Fluminense. Pelo chute certeiro e muito forte, foi também chamado de Patada atômica, na Copa de 70, por Waldir Amaral, o mais criativo dos narradores esportivos de todos os tempos.