A exemplo de outros notáveis, Johan Cruyff, considerado segundo melhor de todos os tempos, faz parte da seleção dos que não foram campeões do mundo, mas estão com o nome na história do futebol. Cruyff completaria 73 anos hoje, 25 de abril de 2020, 46 anos depois de ter encantado o mundo na Copa de 1974. Ele era o capitão da seleção da Holanda, que na final de 1974 levou a virada (2 x 1) da Alemanha, em Munique.
A MUDANÇA – Melhor jogador da Europa do século 20, foi nessa Copa, a única que disputou, que Cruyff iniciou a mudança tática no futebol, liderando o famoso Carrossel Holandês, do técnico Rinus Mitchels, ex-professor de ginástica de crianças surdas. Juntos, eles transformaram o então semiprofissional Ajax em time de ponta, octacampeão nacional, pentacampeão da Copa da Holanda, tricampeão europeu e campeão mundial de clubes.
HORA CERTA – Cruyff tinha conceitos definidos: “A rapidez do corpo é tão importante quanto à do pensamento“. Sobre velocidade: “É preciso saber a hora certa de começar a correr para ganhar a jogada e fazer o gol“. Frase curta: “Futebol se joga com a cabeça; as pernas só ajudam“. Sobre dinheiro: “Por que um time não pode ganhar de outro mais rico? Nunca vi um saco de dinheiro fazer gol“. A bola: “Se temos a bola, o adversário não vai fazer gol“.
ORGULHO – Feyenoord, arquirrival do Ajax, foi o primeiro holandês campeão europeu, em 1970. Cruyff disse que, “com o orgulho ferido”, o Ajax reagiu e foi o primeiro e único holandês tricampeão da Champions, em 71-72-73. O Ajax eliminou Inter, Juventus, Bayern, Real Madrid e o grego Panathinaikos, dirigido pelo genial Ferenc Puskas. Cruyff ganhou duas vezes consecutivas, em 71 e 72, a Bola de Ouro de melhor do mundo. E foi para o Barcelona.
PEÇA DE MÁQUINA – 30 milhões de pesetas (moeda da época), era muito dinheiro e o Ajax até já havia recebido, mas o governo espanhol não aprovou a compra. O Barcelona então registrou o negócio como compra de uma peça de máquina agrícola… Cruyff reencontrou seu técnico Rinus Mitchels, e os ainda remanescentes dos anos 50 – Kubala, Czibor, Kocsis, Evaristo -, e o Barcelona voltou a ser campeão espanhol depois de catorze anos!
QUE HISTÓRIA!!! – Para poder estrear no maior clássico, Cruyff antecipou em uma semana o nascimento (cesariana) do primeiro filho, que batizou com nome catalão (Jordi), em homenagem ao patrono da Catalunha (San Jordi), na época em que o idioma era proibido pela ditadura do general Franco – 1892 – 1975 -, e teve que fazer o registro em cartório da Holanda. Cruyff, de personalidade muito forte, teve alguns problemas com o governo espanhol.
QUE ESTREIA!!! – Barcelona 5 x 0 Real Madrid, com 90 mil torcedores no estádio Santiago Bernabeu, em Madrid. Cruyff fez dois gols, um deles driblando quatro e o goleiro, e não esperava aplauso da torcida do arquirrival. 1973, ano de ouro: campeão espanhol, ganhou a terceira Bola de Ouro de melhor do mundo da revista France Football e ainda classificou a Holanda, que desde 1938 não ia à Copa do Mundo e foi vice-campeã em 1974.
PAI E MÃE – Hermanus, pai de Cruyff, era dono de mercearia e fornecia frutas ao Ajax. A mãe, Petronella, ao ficar viúva, foi trabalhar como faxineira do clube e era também doméstica, na casa do técnico Vic Buckingham. Depois, casou-se com Rutger, porteiro do clube. Quando Cruyff já havia encerrado a carreira, a mãe revelou que em criança ele tinha má formação dos pés, o que o obrigou a usar aparelhos ortopédicos por alguns anos.
GANDULA – O futuro craque Johan Cruyff tinha 15 anos, em 2 de maio de 1962, quando foi gandula da final da Liga dos Campeões da Europa, na época denominada Taça dos Clubes Campeões Europeus, em que o Benfica venceu (5 x 3) o Real Madrid, no Estádio Olímpico de Amsterdam. Puskas fez os três do Real Madrid, e José Águas, Cavém, Mario Coluna e Eusébio (2) deram o segundo título ao campeão português.
OS PORCOS – Tal qual o nosso Nilton Santos, Cruyff disse algumas vezes que era seu último jogo. A primeira, em 78, quando o Ajax foi goleado (8 x 0) em amistoso pelo Bayern. Era uma espécie de desempate: o Ajax havia sido tricampeão europeu em 71-72-73 e o Bayern em 74-75-76. Cruyff investiu em criação de porcos e perdeu muito dinheiro. Teve que voltar a jogar e foi ganhar dólares no Los Angeles Aztecs e depois no Washington Diplomats.
QUADRO-NEGRO – Antes de um jogo do Washington Diplomats, Cruyff levantou-se do auditório, após a preleção do técnico, apagou o quadro-negro e falou aos companheiros: “Vamos fazer tudo diferente do que ele acabou de pedir“. Inconformado e ainda com o técnico presente na sala, o capitão do time também se levantou e reagiu: “Lamento que o clube tenha esquecido de mandar algodão para taparmos os ouvidos”…
ARQUIRRIVAL – Depois dos dólares, Cruyff voltou à Holanda e aos 34 anos ainda foi bicampeão no Ajax, mas uma surpresa do arquirrival estava reservada: encerrar a carreira no Feyenoord, da cidade portuária de Roterdam. O time estava há 10 anos sem título. Cruyff, aos 36, foi campeão holandês e campeão da Copa da Holanda, únicos títulos que o clube ganhou na década de 80. Os fanáticos do Ajax não o perdoaram: “Verrader”. Traidor.
SEQUESTRO – Cruyff contou que não foi à Copa de 1978, por dois motivos: 1 – Era contra o regime militar da Argentina. 2 – Havia sofrido tentativa de sequestro, em 72, em Buenos Aires, antes do primeiro jogo do Mundial de clubes com o Independiente. Confessou: “Fiquei um ano e meio com segurança particular porque me ameaçaram de morte onde eu estivesse”.
TROFÉU CRUYFF – Desde 1996 a Real Associação de Futebol da Holanda criou o Troféu Cruyff, ao campeão da Copa da Holanda, doze anos após sua aposentadoria. Em julho de 1974, prêmio do governo holandês: Cavaleiro da Ordem da Casa de Orange, e em 2004, prêmio de sexta maior personalidade da Holanda, à frente de nomes como Anne Frank, Rembrandt e Vincent van Gogh.
O TÉCNICO – Depois de encerrar a carreira com o total de 514 gols em 660 jogos, sendo que no Ajax, de 64 a 73, fez mais gols (352) do que jogos (321), e de 60 gols em 180 jogos no Barcelona, de 73 a 78, Johan Cruyff foi técnico do Ajax em 104 jogos, de 86 a 88, e do Barcelona, em 315 jogos, de 88 a 96. Na seleção da Holanda, de 1966 a 1977, 33 gols em 48 jogos. Fumante inveterado, morreu de câncer no pulmão, em 24 de março de 2016, em Barcelona.
DOIS ESTÁDIOS – Cruyff é uma das raras figuras do futebol que tem o nome em dois estádios. No dia em que faria 70 anos, o Ajax trocou de Amsterdam Arena para Johan Cruyff Arena. O FC Barcelona, onde foi campeão como jogador e técnico, construiu um estádio de seis mil lugares, apenas para treinos e jogos das divisões de base, dando-lhe o nome de Estádio Johan Cruyff.
OS TÍTULOS – No Ajax, 8 vezes campeão da Holanda, sendo hexa de 65-66 a 72-73; bi em 81-82 e 82-83; cinco vezes campeão da Copa da Holanda e três títulos consecutivos da Liga dos Campeões da Europa (70-71, 71-72 e 72-73). No Barcelona, campeão espanhol 73-74 e Copa do Rei 77-78. No Feyenoord, 83-84 campeão holandês e da Copa da Holanda. Técnico tetracampeão espanhol 90-91 a 93-94 e da Supercopa da Espanha 91, 92, 94.
FRASE FINAL – A Holanda fez 1 x 0 logo aos cinco minutos, em cobrança de pênalti de JohanNeeskens, na final da Copa do Mundo de 1974, no antigo Estádio Olímpico de Munique. A virada da Alemanha, ainda no primeiro tempo, foi com o pênalti de Paul Breitner, aos 25, e Gerd Muller, artilheiro da Copa, aos 43. A frase final de Cruyff: “A Alemanha não ganhou a Copa; nós é que perdemos”.
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