BOM INICIAR FEVEREIRO registrando os 74 anos que o carioca Zé Mário, campeão no Flamengo, Fluminense e Vasco, comemora nesta 4ª feira (1). Foi um dos valores de destaque de sua época, pela extraordinária aplicação tática, reconhecida por todos os técnicos que o dirigiram, a partir de Zagallo, o do primeiro título, em 72, aos 23 anos.
TAMBÉM CAMPEÃO COMO TREINADOR, no Brasil e na Ásia, Zé Mário gostou muito da primeira decisão de 2023 do futebol brasileiro, e diz que há tempos não conseguia ver um jogo até o fim: “O Palmeiras x Flamengo me prendeu até o último minuto, e parabenizo as equipes pelo jogo típico do futebol brasileiro que praticaram”.

ZÉ MÁRIO considera que “o Flamengo tem o melhor elenco da América do Sul”, mas vê o técnico do Palmeiras sabendo usar bem seu grupo: “Ele utiliza a tática de acordo com os jogadores que tem e torna os contra-ataques do Palmeiras difíceis de serem contidos, pela velocidade dos atacantes e pelo apoio dos meias”.
DEPOIS DE CINCO COPAS sem Copa, Zé Mário vê o futebol brasileiro em retrocesso: “É muito importante o técnico saber respeitar a caracteristica do jogador. O futebol brasileiro sempre criou protagonistas, mas passou a copiar o europeu, tornando-se simples coadjuvante. Isso fez o futebol brasileiro entrar em regressão”.
ZÉ MÁRIO E O NOVO TÉCNICO: “As últimas seleções brasileiras tinham mais de 90% dos jogadores na Europa, treinados por europeus e jogando como europeus. Talvez seja melhor trazer um deles para o Brasil, mas eu, se sou a CBF, só chamaria 40% dos que jogam fora. O Pelé só surgiu porque a CBD não permitia jogador de fora”.
NA OPINIÃO DE ZÉ MÁRIO, “a seleção fechou as portas aos técnicos brasileiros”, e ele é franco: “Na verdade, o futebol brasileiro nunca teve tradição de técnicos treinando times europeus. Mas, pior do que não ganhar espaço na Europa, foi termos perdido o mercado da Ásia, que também se fechou aos técnicos brasileiros”.
– Você aprendeu mais jogando ou com os técnicos?

– Tive na base o Pinheiro, excelente. Sabia orientar e a formar o profissional com muita correção. No Bonsucesso, Alfredo Abraão e Murilo de Carvalho, de quem guardo a lição mais importante. Após três passes certos, ele deu falta contra mim. Estranhei, e ele me disse: “Você fez o óbvio. Vai continuar sempre no Bonsucesso”.
Aprendi também vendo bons jogadores, tipo Liminha, meu parceiro no Flamengo; Carlos Roberto e Gerson, bicampeões no Botafogo, e um meia argentino, Ardilles, excepcional.
– Até quando os campeonatos estaduais conseguirão se manter?
– O problema maior é a falta de administração dos clubes, que não traçam planejamento. Não há preocupação com o trabalho bem feito, só com resultados. Começam o ano com técnico novo, contratam jogadores que nunca se viram e querem ser campeões. Aí vem a troca de técnico, a rotina do futebol.
– Vem aí a Copa de 2026 com 48 seleções. É a visão do lucro em prejuízo da técnica?
– Faz tempo que o futebol virou só lucro. Esquecem que o futebol é o esporte preferido porque sempre foi arte. Na Fórmula 1 também foi assim. Depois que os carros ficaram mais importantes que os pilotos, a preferência não é a mesma.

– Em que país o futebol mais evoluiu, Zé Mário?
– O futebol só evoluiu fisicamente, Deni. A preparação fisica faz parte da ciência, que evolui. Em técnica e tática, quando o jogo começa, nem sempre 2 + 2 são 4. Em cada metro quadrado do campo, tudo muda a cada jogada.
– E o VAR?
– Apareceu para tornar o jogo sonolento, com suas paradas de 2, 3 minutos. Nada de novo, mais de 50 anos depois. O Brasil ganhou as três primeiras Copas com centro-avante, o Vavá, em 58-62. Em 70, Pelé e Tostão. Pontas invertidos, em 66 o major Murilo, técnico do Bonsucesso, já usava, só que driblavam para o meio batiam forte no gol. Diferente de hoje, os pontas não driblavam para trás, cruzavam na área.
– Itália, quatro Copas, mas fora das duas últimas. Tem a ver com excesso de estrangeiros nos times?
– Sem dúvida, e a Espanha também tem esse problema. O Real Madrid ganhou o último Campeonato Espanhol só com dois ou três jogadores estrangeiros.
– Qual a diferença maior entre jogador sul-americano e europeu?
– O jogador europeu não joga por prazer. Ele desempenha uma profissão como outra qualquer. Ganhar ou perder, tanto faz, só se importa em cumprir bem a missão. O europeu tem muita passividade. O sul-americano é diferente, quer ganhar sempre.
– O Messi, talvez poucos se lembrem, era muito rejeitado na Argentina por essa passividade, ganhou, ganhou, perdeu, perdeu. Houve muitos que quando o jogo estava ruim, pediam a bola para resolver, e resolviam. Pelé, Maradona, Zico, Rivellino. O sul-americano não aceita a decepção da derrota, quer ganhar sempre.
– Campeonato Brasileiro com 20, subindo e descendo 4…
– É justo, obriga a melhorar a qualidade do trabalho, principalmente dos que forem rebaixados.
JOSÉ MÁRIO de Almeida Barros, campeão carioca em 72 e 74 no Flamengo; em 75 no Fluminense, e em 77, na grande campanha do Vasco, campeão do turno e do returno, com 25 vitórias em 27 jogos, sem sofrer gol em 16. Sente saudade de Roberto Dinamite, o artilheiro com 25 gols: “Só preciso lembrar do amigo, do companheiro e da figura humana. O jogador notável todos conheceram”.
TÉCNICO DO BOTAFOGO em 82-83, no América em 92, Zé Mário foi campeão em 87 e 91 no Goiás, e do Internacional no torneio internacional de 2001 no Chile. Campeão do Catar em 93 no Al-Arabia; do Japão, em 98, no Kashima, e dos Emirados Árabes, em 2007, no Al-Wasl.
Fotos: EBC, Museu da Pelada, Twitter, Tarde de Pacaembu,