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Nesta quinta, 11 de outubro de 2018, a Charanga do Flamengo – primeira torcida organizada do futebol brasileiro – completa 76 anos, o que me faz sentir muita saudade de Jaime de Carvalho, seu fundador, que tive o prazer de conhecer em 58, ao chegar de Manaus para trabalhar na Rádio Nacional, a maior emissora da América Latina, símbolo da história do rádio. Jaime era baiano e uma figura doce, extremamente agradável e simpática, tanto quanto Laura, a portuguesa com quem se casou.
Jaime era de poucas letras, mas muito fino e educado. Mesmo sabendo que sou tricolor, ele arranjou um jeito, sem me ferir, de contar porque virou rubro-negro: “Logo que cheguei ao Rio fui ver um jogo do Fluminense e gostei do time. Dias depois, quis conhecer a sede, mas não me deixaram entrar. Ali perto ficava o Flamengo, na Rua Paissandu. Fui lá, o estádio estava aberto, assisti o treino e fui muito bem tratado. Ia ser tricolor; virei rubro-negro”.
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PRIMEIRO TRI – A criação da Charanga coincidiu com o empate (1 x 1) no Fla-Flu da tarde de 11 de outubro de 1942, que deu ao Flamengo o primeiro tricampeonato carioca de sua história. Jaime recordou comigo, certa vez, na porta do antigo Cineac, no Centro da cidade, onde as sessões eram contínuas: “Pirilo fez 1 x 0 e Carreiro empatou para o Fluminense, que precisava ganhar, mas o Jurandir fechou o gol no segundo tempo. Um jogão”.
ARY BARROSO – Autor de “Aquarela do Brasil”, maior sucesso da música brasileira no mundo em todos os tempos, Ary Barroso, que tinha pavor de avião, era apaixonado pelo Flamengo, a ponto de ter ido de teco-teco – avião bimotor da época – ao Paraguai, trazer Modesto Bria, um dos notáveis da história rubro-negra. Na transmissão do Fla-Flu, na Rádio Nacional, Ary resumiu: “Isso não é uma banda musical, nem aqui nem na China. Isso não passa de uma charanga”. O termo foi marcado.
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A CHARANGA estreou no Fla-Flu e continuou impulsionando o time em 43 e 44, quando o Flamengo foi tri: “Um time maravilhoso, que se consagrou com o gol do Valido na final (1 x 0) com o Vasco, na Gávea. Daí tivemos que esperar um bom tempo para comemorarmos o primeiro tri (53-54-55) no Maracanã” – relembrava Jaime, comparando Biguá, Bria e Jaime com Jadir, Dequinha e Jordan, e também Valido, Zizinho e Pirilo com Joel, Evaristo e Índio.
TOURADAS EM MADRID – Jaime levou a Charanga ao Maracanã, em um dos jogos mais marcantes da Copa de 50, na tarde de 13 de julho, com mais de 150 mil pagantes. O Brasil fez 6 x 1 na Espanha, e os torcedores, a plenos pulmões, cantavam Touradas de Madrid, sucesso do carnaval do compositor Braguinha. Em 47, a Charanga já havia incentivado a seleção na conquista da Copa Rio Branco (Brasil 3 x 2 Uruguai, 1/4, em São Januário). Jaime foi às Copas de 54 e 62, a convite da CBD.
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CHEFE DOS CHEFES – Jaime de Carvalho – 9/12/1911 – 4-5-1976 – foi homenageado pelo compositor Wilson Batista com a marcha “Flamengo joga amanhã, eu vou pra lá/Vai haver mais um baile no Maracanã”, e pelo Vasco em festa em São Januário, como chefe dos chefes de torcidas organizadas. Ganhou o carinho e o abraço dos outros chefes Tarzan (Botafogo), Paulista (Fluminense) e Dulce Rosalina, criadora da torcida Renovascão, Vasco campeão. Tudo em harmonia.