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João Saldanha foi técnico da seleção brasileira em 17 jogos – 14 vitórias, 1 empate, 2 derrotas -, entre 7 de abril de 69 e 8 de março de 70 -, e inovou, logo na primeira entrevista coletiva, antecipando a escalação para a estreia nas eliminatórias, no estádio El Campin, em Bogotá, onde Tostão marcou os gols dos 2 x 0 na Colômbia. O marketing da época já era bem agressivo e rotulou os jogadores como As Feras do Saldanha. O Santos foi a base da primeira convocação, com seis titulares.

SALDANHA SÓ QUIS três amistosos antes da estreia nas eliminatórias. Os dois primeiros com o Peru, 2 x 1 no Beira Rio e 3 x 2 no Maracanã, onde venceu (2 x 1 de virada) a Inglaterra, antes da viagem para Bogotá. O Brasil dominou a Colômbia e decidiu antes de sair para o intervalo, com os gols de Tostão aos 38 e aos 44. Não havia motivo para mudar a escalação no segundo jogo, quatro dias depois (10 de agosto), em Caracas, porque, como ele gostava de dizer, “a Venezuela é uma carne assada”.

FÉLIX, Carlos Alberto Torres, Djalma Dias, Joel Camargo e Rildo (Everaldo); Piazza e Gerson; Jairzinho (Paulo Cesar), Tostão, Pelé e Edu – a seleção que iniciou os 2 x 0 na Colômbia e Saldanha repetiu nos 5 x 0 do jogo seguinte em Caracas, com uma diferença: ele se irritou muito com o rendimento do primeiro tempo (0 x 0), fechou a porta do vestiário e ficou com a chave. Os jogadores bateram várias vezes na porta, dizendo que queriam água e usar o banheiro, mas ele gritou: “Não tem água nem banheiro”.

SALDANHA, só com os roupeiros e os massagistas no vestiário, bradou: “Também não vai ter conversa nenhuma. Voltem para o campo e façam o que vocês sabem fazer: jogar bola”. Os jogadores conseguiram um vestiário alternativo, água mineral (na época, ainda sem copinho, só em garrafa) e arrebentaram no segundo tempo. Tostão fez os três primeiros gols em 16 minutos e Pelé marcou os outros dois em 7 minutos. Com 5 x 0, os 10 minutos finais foram de exibição, sob muitos aplausos.

AS FERAS do Saldanha fizeram o terceiro jogo consecutivo fora, ganhando (3 x 0) do Paraguai, no Defensores del Chaco, em Assunção, e as eliminatórias foram concluídas, no Maracanã, com 100% de aproveitamento: 6 x 2 na Colômbia – único jogo em que sofreu gol -, 6 x 0 na Venezuela, com 122.841 pagantes, e 1 x 0 no Paraguai, gol de Pelé, e bom lembrar: o recorde dos recordes de pagantes, 183.341, superando no domingo, 24 de agosto de 69, o recorde de 177.020 pagantes da final de 15 de dezembro de 63, em que o Fla-Flu (0 x 0) se tornou o jogo com mais público do futebol mundial entre times da mesma cidade.

JOÃO SALDANHA foi um dos grandes companheiros da minha vida profissional. Trabalhamos bom tempo na antiga sede da Rua Irineu Marinho 35. A redação no segundo andar; a rádio, no quarto andar. Na Copa de 70, em que cheguei a Guadalajara bem antes da seleção, Ignacio Matus, diretor de redação do ESTO, principal diário esportivo do México, do qual fui correspondente no Brasil por mais de dez anos, não sabia como me agradecer por ter conseguido que Saldanha escrevesse uma coluna diária para o jornal. Haja saudade!

Foto: Terceiro Tempo