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3 de junho de 1973, estádio Cinco de Julho, na Argélia, no único jogo seleção brasileira em gramado artificial. O repórter Deni Menezes e o placar, com os nomes das seleções, em árabe e em francês, os autores e o tempo dos gols. Foto inédita.

Hoje, 3 de junho de 2020, faz 47 anos que a seleção brasileira realizou seu único jogo em gramado artificial, ao iniciar os amistosos de preparação, no exterior, para defender na Alemanha, em 74, o título mundial que ganhou, pela terceira vez, em 70 no México. Foi no estádio Cinco de Julho, em Argel, bela cidade da costa do Mediterrâneo e capital da Argélia, país mais extenso do Norte da África. O estádio foi inaugurado em 5 de julho de 62, quando a Argélia se tornou independente da França.

O PRIMEIRO – Mais jovem técnico campeão do mundo aos 38 anos, Zagallo foi o primeiro a dirigir a seleção em duas Copas consecutivas, mas só contava com cinco remanescentes de 70: Piazza, Marco Antonio, Clodoaldo, Rivelino e Paulo Cesar, todos titulares no primeiro jogo internacional de 73, fora do Brasil. O gramado artificial obrigou o goleiro Renato a jogar de calça comprida, a fim de evitar corte nas pernas quando precisasse cair para uma defesa.

BOM RITMO – Desde o treino da véspera a seleção não estranhou o campo artificial e desenvolveu bom ritmo no jogo. Paulo Cesar marcou o primeiro gol aos 42, e o segundo, na volta do intervalo, foi de Rivelino, aos 6 minutos. Fraca, a seleção argelina atacou pouco, mas bateu muito e só mesmo com habilidade os brasileiros se livraram de várias entradas duras. O árbitro Ali Bei, da Tunísia, foi complacente, ignorando as muitas faltas grosseiras.

A SELEÇÃO – Renato (Flamengo), Zé Maria (Corinthians), Chiquinho (Flamengo), Piazza (Cruzeiro) e Marco Antonio (Fluminense); Clodoaldo (Santos), Rivelino (Corinthians) e Paulo Cesar (Flamengo); Valdomiro (Internacional), Leivinha (Palmeiras) e Edu (Santos).  Raro, mas não houve sequer uma substituição. No jogo seguinte, em Túnis  4 x 1 na Tunísia -Wendell, goleiro do Botafogo, entrou, e no terceiro, em Roma  0 x 2 com a Itália -, Leão (Palmeiras), que seria o titular na Copa de 74, foi efetivado.

O PRÊMIO – João Havelange, presidente da CBD – hoje CBF -, foi justo com a seleção na derrota em Roma para a Itália – 2 x 0, gols de Gigi Riva e Fabio Capello, que seria técnico -, e mandou o tesoureiro Sebastião Alonso (Nininho) pagar prêmio, como se o Brasil houvesse ganho. A atuação do árbitro francês Robert Heliès foi desastrosa, validando os gols italianos em impedimentos vergonhosos.

SÓ UM GOL – Nos cinco amistosos seguintes, nada além de um gol: 1 x 1 em Viena com a Áustria; 1 x 0 na Alemanha, golaço de Dirceu, em Berlim; 1 x 0 na Rússia, golaço de Jairzinho, em Moscou; 0 x 1 com a Suécia, em Estocolmo; 1 x 0 na Escócia, em Glasgow, e na despedida, 4 x 3 na Irlanda, em Dublin. Bom lembrar: na véspera do jogo com a Escócia, assisti em Glasgow ao grande filme da época: Último Tango em Paris, com a cena de sexo anal do americano Marlon Brando e a linda  parisiense Maria Schneider, em que ele usou manteiga e a galera foi ao delírio no cinema.

MANIFESTO – Nos dois últimos jogos, a comissão técnica e os jogadores cortaram relações com os jornalistas. Após o jogo com a Suécia, em passeio de barco, o zagueiro Luis Pereira e o atacante Leivinha, ambos do Palmeiras, foram fotografados ao lado de louras, de biquíni, pela Folha de S.Paulo. Ao ligarem para casa, com amor e saudade, ouviram o que não queriam: as esposas haviam visto a foto no jornal e os xingaram com tudo a que tinham direito… A ideia do que ficou conhecido como Manifesto de Glasgow, foi de Claudio Coutinho. Toda a comissão técnica e os jogadores assinaram.

O TRAVESSEIRO – Um dos momentos raros da viagem, pelo pedido feito por um coleguinha, aconteceu na recepção do Hotel Hilton, em Berlim. A meu lado, fazendo o check-in, o bom repórter Luis Orlando, filho do querido e saudoso Orlando Batista, não fez por menos: pediu ao gerente que mandasse colocar travesseiro com pena de cisne em sua cama…

Foto: Acervo pessoal