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Andrada, o goleiro argentino do Vasco, campeão carioca de 70 e brasileiro de 74, ficou marcado como “O arqueiro do Rei”, ao sofrer na noite da quarta-feira, 19 de novembro de 1969, diante de 65.517 torcedores, no Maracanã, o gol 1000 do Rei Pelé, em jogo do Torneio Roberto Gomes Pedrosa, o Campeonato Brasileiro da época.

TOCOU NA BOLA – O Vasco vencia no primeiro tempo (1 x 0) com o gol do meia Benetti. Na volta do intervalo, cresceu a expectativa pelo gol 1000 de Pelé. O Santos empatou com o gol contra de Renê, zagueiro que nesse jogo foi meio-campo, e aos 34 minutos, o zagueiro Moacir fez o pênalti em Pelé, no gol à esquerda da Tribuna de Honra.

VALORIZADO – Depois que o árbitro Manoel Amaro de Lima, da Federação Pernambucana, marcou o pênalti, o lance foi muito valorizado e a cobrança teve um ritual com demora de quase cinco minutos. O nome de Pelé era gritado em coro em todo o estádio e não havia, nem mesmo vascaíno, que não quisesse que o gol fosse feito.

CANTO ESQUERDO – Pelé não tomou tanta distância da bola. Bateu de pé direito no canto esquerdo, rente à trave. Andrada, que os argentinos apelidaram de El Gato, por seus saltos incríveis, foi na direção certa, chegou a tocar na bola, mas não evitou o gol. O jogo foi interrompido por uns 15 minutos, com o gramado invadido pelos repórteres.

SALVE REI PELÉ – Os times voltaram do vestiário, lado a lado, segurando a Bandeira do Brasil – 19 de novembro é o Dia da Bandeira -, que Pelé hasteou ao som do Hino da Bandeira executado pela Banda do Corpo de Fuzileiros Navais. A Banda desfilou no gramado e formou a frase Salve Rei Pelé, enquanto o craque, aplaudido de pé, dava a volta olímpica com a camisa 1000, sem ter como evitar emoção e choro.

VASCO – Andrada, Fidélis, Moacir, Fernando e Eberval; Buglê e Renê; Acelino (Raimundinho), Benetti, Adílson e Danilo Menezes (Silvinho). Técnico – Celio de Souza, que  revelou Roberto Dinamite e o lançou no time principal, tornando-o o maior artilheiro da história do Campeonato Brasileiro com 190 gols.

SANTOS – Agnaldo, Carlos Alberto Torres, Ramos Delgado, Djalma Dias (Joel Camargo) e Rildo; Clodoaldo e Lima; Manoel Maria, Edu, Pelé (Jair Bala) e Abel. Técnico – Antoninho. Pelé dedicou o gol às crianças brasileiras, pedindo que o governo tivesse mais atenção com a saúde e a educação.

ANDRADA 1970 – Um ano após comprado do Rosário, em 69, o argentino Edgardo Norberto Andrada, então aos 30 anos, formou, com o volante Alcir e o artilheiro Silva, os pilares da campanha do título carioca de 1970, no time montado pelo técnico Tim: Andrada, Fidélis, Moacir, Renê e Eberval; Alcir e Buglê; Luis Carlos, Valfrido, Silva e Gilson Nunes.

Andrada participou de 16 dos 18 jogos e só perdeu um.O Vasco ficou 11 anos sem ganhar o Campeonato Carioca. Depois do inédito supersuper de 1958 – último título de Moacir Barbosa, disparado o maior goleiro da história do clube -, o Vasco só voltou a erguer a taça com o capitão Alcir Portela, em 1970. Era o único dos quatro grandes que não tinha jogador da seleção campeã do mundo.

GOMOS DE ALGODÃO – Andrada usava gomos de algodão para demarcar os trechos mais importantes da área. Os goleiros da época gostavam de fazer tipo uma vala da linha do gol à marca do pênalti: Andrada cobria com algodão. Em jogos em que ventava, ele aumentava os gomos e os umedecia para que não fossem levados pelo vento: “Os gomos me orientam” – disse-me, em entrevista antes de um jogo.

ANDRADA 1974 – O goleiro do primeiro título brasileiro do Vasco era realmente felino nos saltos e preciso nas defesas com a mão trocada, quando a bola parecia que ia entrar no ângulo. Tinha um sentido extraordinário de colocação; orientava como poucos a barreira, e os zagueiros saíam na certa para o desarme, com as observações que fazia.

Agathyrno Silva Gomes, um dos melhores presidentes do Vasco, de cuja amizade privei, descobriu, com um golpe de mestre, uma brecha no regulamento, e a decisão do Brasileiro de 74 saiu do Mineirão para o Maracanã. Vasco 2 x 1 Cruzeiro, na noite de 1 de agosto, abrindo com chave de ouro os festejos dos 76 anos da fundação do Gigante da Colina.

ANDRADA foi um dos goleiros que marcaram época no Vasco. Sua morte, na noite de ontem (4), devido à parada cardiorrespiratória, deixa tristes os torcedores que o viram e os profissionais que com ele conviveram. Era simpático, solícito, e mesmo nos piores resultados do time, não se negava a falar. Em sua época, os goleiros eram tratados como arqueiros. Ele não gostava, mas depois de certo tempo até ria quando o chamavam de Arqueiro do Rei. Que Deus dê muita luz ao seu espírito.

Fotos: Blog do Luciano Seixas, superesportes e Mauro Beting – UOL