A morte de Beth Carvalho, no final da tarde desta terça (30), deixa o samba e o Botafogo tristes, com a perda de uma de suas grandes estrelas. Muito mais que uma cantora versátil, com voz bonita e agradável, Beth Carvalho foi uma intérprete que soube valorizar como poucas as grandes composições. E foram tantas, todas de muito sucesso, as que gravou ao longo da carreira.

Beth Carvalho nasceu com o dom de interpretar com o coração e com a alma as composições que selecionou, entre elas as obras-primas As rosas não falam, de CartolaFolhas Secas, de Nelson Cavaquinho, mangueirenses notáveis iguais a ela, apaixonada pelo verde e rosa da Estação Primeira.

PIANO E VIOLÃO – O gosto da carioca Beth Carvalho pela música começou em casa e muito cedo. A mãe, Maria, era exímia pianista clássica. Em maio de 56, Beth ganhou do pai João Francisco o melhor presente de seu aniversário de 10 anos, um violão. João era amigo de Elizeth Cardoso e Silvio Caldas, cantores famosos da época, que gostava muito de ouvir.

BOSSA NOVA – Nos anos 60, sob a influência da Bossa Nova, Beth Carvalho não só cantava como compunha. Passou a ir com o pai aos ensaios das escolas de samba e das rodas de samba, onde também aprendeu a dançar e desde logo com muita desenvoltura. Passou a dar aulas de violão para uma turma de 40 anos, em junho de 64, três meses depois que o pai foi cassado pelo regime militar de 31 de março. Ela herdou a convicção dele, simpatizante dos políticos de esquerda, tipo Brizola.

FESTIVAIS – Beth Carvalho participou de vários e estreou com sucesso em 68, ganhando com Andança – título do seu primeiro LP, gravado em 69 –, o Festival Internacional da Canção, no Maracanãzinho. A partir de 73 passou a gravar e a lançar um long-play por ano, como já faziam outros cantores. E estourou com sucessos como Vou Festejar, 1.800 Colinas e Coisinha do Pai. Beth ganhou 17 Discos de Ouro e 9 Discos de Platina.

OS AFILHADOS – Pagodeira do Cacique de Ramos, Beth Carvalho lançou nomes que se tornaram bem conhecidos do público e viraram seus afilhados. Do Grupo de Quintal até Almir Guineto, Jorge Aragão, Arlindo Cruz, Luis Carlos da Vila e Zeca Pagodinho, que passou a ser o mais famoso de todos. Ela ganhou os títulos de Madrinha do Pagode e Diva dos TerreirosDepois, outro que dizia guardar também no fundo do coração: Madrinha do Samba.

BUSTO NA GRÉCIA – Entre os muitos shows fora do Brasil, Beth Carvalho recordava sempre o da Olimpíada Mundial da Canção, em Atenas, onde ganhou um busto. Com a amiga Mercedes Sosa, notável artista argentina, Beth participou doSem Fronteiras, projeto que lotou o Luna Park, maior ginásio de Buenos Aires. Ela também recordava com muita alegria das três vezes em que esteve no Festival da Música de Montreux, na França. 

NO JAPÃO – De todas, a maior expressiva homenagem que Beth Carvalho recebeu no exterior foi a da Faculdade de Música de Kyoto, no Japão. Sem nunca ter se apresentado no país, ele teve o currículo musical incluído nas aulas dos alunos japoneses. Um outro local, mundialmente famoso, onde fez shows que levantaram o público para aplaudi-la foi na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos.

SAMBÓDROMO – No Rio, entre as múltiplas homenagens, Beth Carvalho dizia que nenhuma foi tão marcante quanto à do Carnaval de 84, quando se tornou a primeira campeã do Sambódromo, inaugurado naquele ano. Ela foi o enredo da Unidos do Cabuçu: Beth Carvalho, enamorada do samba. No ano seguinte também foi homenageada como enredo da Boêmios de Inhaúma.

ESPAÇO SIDERAL – Seu sucesso Coisinha do Pai serviu de despertador para “acordar” o robô em Marte, programado pela engenheira brasileira Jaqueline Lira, da Nasa, em 97, durante uma das viagens ao espaço sideral. Beth dizia ser impossível mensurar a dimensão dessa homenagem em órbita.

FUTEBOL & CASAMENTO –Beth Carvalho casou-se em 79 com o volante Edson Barbosa, revelado no Bonsucesso, que depois jogou no Palmeiras, São Paulo e Corinthians, onde ganhou o apelido de Cegonha, por ter as pernas muito compridas. Sua única filha, Luana Carvalho, nasceu em 81, tornando-se também cantora e atriz. Beth dizia que seguia o conselho da mãe Maria, que só quis tê-la como única filha.

A COLUNA – Os problemas de saúde começaram em 2010, quando Beth Carvalho teve fissura no sacro, osso da base da coluna vertebral, agravado por uma neuropatia, por ter permanecido muito tempo na mesma posição, durante a cirurgia da coluna. O problema na coluna foi causado por uma artrose no fêmur, o maior osso do corpo humano. Internada desde janeiro, Beth Carvalho morreu às 17h30m de ontem (terça, 30), no Pró-Cardíaco, em Botafogo, zona sul do Rio, com infecção generalizada.

O CORPO de Beth Carvalho está sendo velado no salão nobre da sede do Botafogo, clube do coração, na Avenida Wenceslau Brás, e será sepultado neste 1 de maio, no cemitério do Caju, na zona portuária do Rio.

Nascida em 5 de maio de 1946, Beth Carvalho completaria 73 anos no próximo domingo. Amanhã (2), antes de Botafogo x Bahia, pela segunda rodada do Brasileirão 2019, será observado um minuto de silêncio em respeito à sua memória. Desejamos que Deus a receba e dê muita luz ao seu espírito.

Foto: divulgação