As seleções do Brasil e da Itália ouvem os hinos nacionais, antes da decisão de 21 de junho de 1970 no estádio Azteca.

Que agradável coincidência: 21 de junho de 2020, em que comemoramos os 50 anos do terceiro título mundial do futebol brasileiro, também é domingo, como foi o 21 de junho de 1970, em que pouco antes das duas da tarde, na hora do México, o árbitro alemão Rudi Glockner apitava o fim de Brasil 4 x 1 Itália, no Estádio Azteca, consagrando a geração de ouro da última Copa de Pelé e da primeira de Zagallo, seu companheiro de ataque nas de 1958 e 1962, campeão como jogador e técnico.

Zagallo, com sua prancheta de anotações, acena ao ser carregado por torcedores no gramado do Azteca, logo após os 4 x 1, enquanto Deni Menezes, único repórter em campo, aguarda para entrevistá-lo.

ALEGRA-ME, e muito, recordar a primeira das oito Copas consecutivas que cobri como repórter, convivendo com a seleção desde as eliminatórias, até o momento da consagração de Carlos Alberto Torres. Vi de perto o mais jovem capitão erguer, pela última vez, repetindo Bellini na Suécia e Mauro no Chile, a Jules Rimet, taça de ouro maciço, como a qualidade do futebol da seleção. Entrar em campo, e esperar Zagallo descer dos ombros mexicanos para entrevistá-lo, uma emoção inesquecível.

AO ESCREVER hoje, 50 anos depois, é como se ainda estivesse no clima da festa, em meio aos mais de 120 mil torcedores, tão alegres e felizes, por uma das finais mais primorosas das Copas. O mundo não viu seleção igual, a primeira a ganhar todos os jogos, com valores que encantaram pela qualidade e pelo talento, deixando os nomes gravados, para sempre, no mais alto patamar. A seleção irretocável, do único a fazer gol em todos os jogos, o furacão Jairzinho.

A VIRADA DA ESTREIA

Estádio Jalisco, 3 de junho. O Brasil iniciou a Copa em desvantagem, sem se abater com o gol de Ladislav Petras, que se ajoelhou e fez o sinal da cruz para comemorar, aos 11 minutos, em protesto contra os anticatólicos tchecos. Segura e confiante, a seleção empatou aos 24, com Jairzinho saindo da barreira, em jogada treinada, para a bola passar, na falta de Rivelino. Na volta do intervalo, a virada com Pelé, e Jairzinho completando a goleada, no único dos seis jogos em que marcou dois gols. 

O MELHOR JOGO DA COPA

Domingo, 7 de junho. O estádio Jalisco mais parecia um forno, com sensação acima de 40 graus. O Brasil fez do 1 x 0 na Inglaterra o melhor jogo da Copa, em que basta lembrar a defesa de Gordon Banks, na cabeçada mortal de Pelé, e a obra-prima  do gol de Jairzinho, em jogada genial irretocável, de Tostão e Pelé, com o toque suave para a finalização. 66 mil torcedores foram ao delírio, vendo a seleção brasileira vencer os campeões da Copa anterior.

OS 29 CAMPEÕES DE 1970 – Em pé, a partir da esquerda, Rogerio – cortado por contusão no tornozelo, foi observador dos adversários do Brasil -, Claudio Coutinho, Carlos Alberto Parreira, Félix, Joel Camargo, Leão, Fontana, Brito, Clodoaldo, Zagallo e Admildo Chirol. No meio, massagista Mario Americo e o sombrero, Rivellino, Carlos Alberto Torres, Baldochi, Piazza, Everaldo, Paulo Cesar, Tostão, Marco Antonio e Ado. Sentados, Edu, Zé Maria, Dario, Gerson, Roberto Miranda, Jairzinho, Pelé e o massagista Nocaute Jack.

VELHINHAS NA PISCINA

Estádio Jalisco, 10 de junho. No primeiro jogo em que sofreu dois gols, ficou a impressão de que a vitória (3 x 2)sobre a Romênia foi difícil, mas o Brasil manteve o domínio, com 2 x 0 em 15 minutos – Pelé e Jairzinho -, e voltou do intervalo (2 x 1) com Pelé fazendo o terceiro, aplaudido pelos 50 mil torcedores. O segundo dos romenos foi no fim, sem tempo para mais nada, a não ser para que, eliminados, voltassem para o hotel, onde gostavam de se distrair, empurrando velhinhas na piscina.

MUITO SENTIMENTAL

Domingo, 14 de junho. Brasil 4 x 2 Peru, um jogo muito sentimental. Zagalo e Didi, campeões no Botafogo, titulares em todos os jogos de 58 e 62, amigos de verdade, em lados opostos. Em quatro minutos, 2 x 0, Rivelino e Tostão, que no segundo tempo faria outro (3 x 1). Gallardo e Cubillas – craque revelação da Copa – deram aos peruanos a esperança de reação, mas Jairzinho fez o quarto e último dos 4 x 2, com 54 mil aplausos. No final, a linda troca de abraços entre Pelé, Zagalo e Didi.

Sonaldo Vital, seguidor do nosso trabalho, acompanhou no blog todas as matérias da Copa de 70 e nos mandou o ingresso da final, em que conseguiu autógrafos dos autores dos gols: Pelé, Gerson, Jairzinho e Carlos Alberto Torres. Uma relíquia!

SEMPRE O FANTASMA

17 de junho, último jogo do Brasil no estádio Jalisco. 51 mil torcedores viram a seleção, na segunda virada, exorcizar o fantasma de 50 na semifinal. O baixinho Luis Cubillas fez 1 x 0 aos 18 e Clodoaldo empatou no último lance. Na volta do intervalo, “o gol que Pelé não fez”, do meio do campo, encobrindo Mazurkiewicz e o travessão. Depois, o drible no goleiro, sem tocar na bola, e o chute rente à trave. A final foi garantida, com Jairzinho aos 30 e Rivelino aos 44.

A CONSAGRAÇÃO

Domingo, 21 de junho, 1970 – Céu nublado, 104 mil torcedores no Azteca. Quem ganharia o terceiro título, na decisão entre dois realmente bicampeões: Itália 34-38, Brasil 58-62. Vinte minutos depois do 1 x 0 na cabeçada de Pelé, Roberto Bonisegna empatou aos 37. Na volta do intervalo, com Gerson de fora da área; Jairzinho entrando com bola e tudo, e Carlos Alberto Torres, único capitão a fazer o último gol de uma Copa, com passe genial de Pelé, os 4 x 1 da consagração do tri.

PELA PRIMEIRA VEZ, o Brasil foi campeão ganhando todos os jogos: Félix, Carlos Alberto, Brito, Piazza e Everaldo; Clodoaldo, Gerson e Tostão; Jairzinho, Pelé e Rivelino. Pela primeira vez, um campeão como jogador e técnico (grande Zagalo). Pela única vez, um brasileiro marcou gol em todos os jogos (grande Jairzinho). Na última Copa de Pelé, outra marca histórica do Rei, único três vezes campeão do mundo!!! Seleção de 1970, um passado sempre presente no coração da torcida brasileira!!!

Fotos: Blog Três pontos / Paste Magazine, CBF, Seguidor do Blog do Deni Menezes no Facebook, Joe.ie, getty images, Jovem Pan, Pintrest, Fifa.com, These Football Times, Twitter, squadrophenia.com, Lemyr Martins/VEJA, blogdovitorprates.com.br