Entristece-me registrar a morte de Valdir Espinosa, profissional competente e de fino trato, que embora tenha trabalhado em vários clubes, incluídos os quatro grandes do Rio, tinha o Grêmio e o Botafogo no coração. Os motivos eram bem especiais: em 1983, cinco anos após encerrar a carreira de lateral-direito, ele ganhou como técnico a Libertadores e o Mundial de clubes, feito que poucos conseguiram no mesmo ano. E cinco anos depois, tirou o Botafogo da fila de espera de 21 anos para ganhar o Campeonato Carioca em decisão com o Flamengo.
LEMBRANÇA – Tive muitos contatos pessoais com Valdir Espinosa, sempre atencioso e sorridente, mas o que guardo a lembrança mais marcante foi o de uma conversa de longa distância. Era noite no Rio e madrugada na Suíça, quando o cumprimentei, via rádio, e o coloquei para falar com o Dr. Lídio Toledo, médico do Botafogo, e com o volante Alemão, que havia saído do Botafogo para jogar no Atlético de Madrid, que também estavam felizes e emocionados.
QUASE CHORANDO – O título carioca superou a tristeza da derrota que a seleção havia sofrido na tarde anterior para a Suíça, no antigo estádio São Jacó, na Basileia, agradável como todas as cidades suíças. Quase chorando, com o título carioca conquistado minutos antes, o doutor Lídio e Alemão, que haviam combinado comigo descer à portaria do hotel, às quatro da madrugada, se o Botafogo fosse campeão, falaram felizes com Valdir Espinosa.
OS HERDEIROS – A morte de Espinosa, nesta última quinta (27) de fevereiro de 2020, deixa entristecidos todos os campeões de 89, que ele soube dirigir com equilíbrio e inteligência. Nenhum, entretanto, há de estar mais abatido que Mauro Galvão, não só por também ser gaúcho, mas porque, com a braçadeira de capitão, era o próprio técnico a orientar os companheiros. Eles se completavam, pela tranquilidade e por saberem muito de futebol.
OS TÍTULOS – Valdir Espinosa foi campeão também em outros clubes – Ceará, Londrina, Athletico, Brasiliense – e a marca do seu trabalho ficou igualmente registrada com os títulos na Arábia Saudita e no Paraguai, campeão com o Cerro Porteño. Sorridente e sempre bem-humorado, gostava de frases. A mais recente, quando o Botafogo trouxe de volta Paulo Autuori, foi uma das boas: “Se com um campeão do mundo era bom, agora com dois será melhor”.
JUVENTUDE – Bem antes, lá atrás, Valdir Espinosa comentava sobre a chegada da idade, quando lhe perguntavam se tinha medo da velhice, ele seguia sorrindo, com seu bom-humor de sempre: “Não posso ter medo de algo que não se evita quando chega a hora. Eu sou um jovem. Tudo depende de como a gente se olha. Eu olho para a minha juventude”. Passado sempre presente no coração de quantos o conheceram, Espinosa é como os diamantes. Os diamantes são eternos. Deus há de recebê-lo bem, como merece, e de dar muita luz ao seu espírito.
FOTO: RODRIGO RODRIGUES/GREMIO FBPA