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Raul, goleiro de 228 jogos no Flamengo, o homenageado Andrade, e Deni Menezes, ao lado do busto, na foto do rubro-negro Marcello Freitas.

O Flamengo inaugurou ontem (6), em sua sede na Lagoa, o busto em homenagem ao ex-apoiador Andrade, quatro vezes campeão brasileiro como jogador e que em 2009 ganhou como técnico o título que o clube não conquistava há dezessete anos. Depois de Junior, Zico, Adílio e Jordan (do primeiro tricampeonato no Maracanã, em 53-54-55), Andrade é o quinto que mais vestiu a camisa rubro-negra, em 568 jogos, marcando 28 gols, de 1976 a 1988.

PARCEIROS – Além de sócios e torcedores, que pediram selfies ao lado do busto, Andrade ficou feliz com a presença de cinco parceiros do único time da história de 125 anos do Flamengo, campeão da Libertadores e do Mundial de clubes, em 1981: o goleiro Raul, o zagueiro Marinho, o meia Adílio e os atacantes Nunes e Lico. Andrade recorda: “Éramos uma família unida e determinada a ganhar. Todos irmãos, só com sobrenomes diferentes”.

PARECIDO – Quando lhe pedi que comparasse, Andrade respondeu logo: “O time atual é bem parecido com o do meu tempo na forma de jogar. Joga com alegria, sem medo de correr risco. Joga pra frente, no campo do adversário. É um time mágico, que não se apavora quando fica em desvantagem, como na final da Libertadores em que fez a virada no River. Perdeu para o Liverpool, mas fez jogo igual, sem receio, com disposição”.

OS TÍTULOS – Andrade foi quatro vezes campeão carioca, ganhou seis Taças Guanabara, cinco Campeonatos Brasileiros – o último como técnico -, a Libertadores e o Mundial de clubes. Ele recorda que o último Brasileiro como jogador foi em 1989 pelo Vasco: “Hoje, poucos se lembram, porque a minha identificação com o Flamengo supera tudo. Mas faço questão de repetir que também fui muito bem tratado no Vasco”.

OS TÉCNICOS – Andrade diz que aprendeu muito em campo, mas também com os técnicos que teve: “Coutinho foi um dos meus grandes treinadores, assim como CarlinhoseCarpegiani, e Carlos Alberto Silva e Parreira na seleção. Ele diz ter aplicado muitas lições quando passou a técnico: “A orientação começa nos treinos e pode mudar muito durante o jogo. Há técnicos especialistas em fazerem o time voltar para o segundo tempo com outra postura”.

613 JOGOS – O taurino Jorge Luis Andrade, mineiro de Juiz de Fora, é de 21 de abril de 1957, entrou no Flamengo em 74 e se profissionalizou em 76, saindo em 77 para o Ula da Venezuela, onde não foi bem-sucedido, tal qual como em 88-89, com apenas nove jogos na Roma. Fez 19 jogos no Vasco em 89-90, e só mais dois no Flamengo. A carreira de 613 jogos e 28 gols foi encerrada em 1999 no Bangu, depois do Internacional de Lages (SC), do Atlético Paranaense (na época, sem h)e na Desportiva Ferroviária, do Espírito Santo.

O GOL QUE EU VI –  Enquanto repórter de rádio, cobri toda a carreira de Andrade, na campanha inteira da Libertadores, do Mundial de clubes e no Torneio do Bicentenário da Austrália. Mas foi em 4 de agosto de 88, no amistoso (2 x 0) com a Áustria, no estádio Pratner, em Viena, que o vi fazer seu único gol nos onze jogos pela seleção. Andrade passou por quatro marcadores e finalizou de três dedos, antes da meia-lua, no ângulo. Pintura!

RACISMO – É um tema, como todos os outros, que Andrade analisa sem rodeios, como último técnico negro  a ganhar o Campeonato Brasileiro de 2009: “É um problema criado pela falta de cultura, embora o preconceito que sofri não tenha sido de injúria racial. O que sofro é quando vou almoçar em restaurante e o único negro sou eu. Quando fiz Faculdade, o único negro era eu”

ANDRADE lembra também que ano passado (2019), Marcão, técnico do Fluminense, e Roger, técnico do Bahia, usaram antes do jogo no Maracanã a camisa do Observatório da Discriminação Racial no Futebol, com a frase Chega de preconceito. Ele diz ainda que a falta de cultura responde por tantas manifestações que refletem também a falta de educação, e resume: “O valor do ser humano não está na cor”. Andrade simboliza bem o valor da raça negra. Um dos grandes campeões da história centenária do Flamengo.