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Embora só um tenha sido bicampeão do mundo, o Botafogo é o time com mais laterais-esquerdos na história das 21 Copas do Mundo da única seleção cinco vezes campeã. Nilton Santos foi reserva de Bigode, na Copa de 50, e titular em todos os jogos nas Copas de 54, 58 e 62. Na Copa de 66, reserva de Paulo Henrique nos dois primeiros jogos, Rildo só entrou no último e fez o gol da derrota (3 x 1), que selou a eliminação do Brasil.

PERSONAGEM – Marinho Chagas, personagem central desta matéria, foi titular na Copa de 74 em que o Brasil perdeu (1 x 0) para a Polônia a decisão do terceiro lugar. O jogo teve mais uma de suas muitas polêmicas porque se excedia nos avanços e se descuidava da marcação. Deixou espaço livre e o ponta Lato aproveitou para decidir o jogo. O goleiro Leão, que também tinha pavio curto, discutiu com ele e tentou agredi-lo no vestiário. 

JOGADOR SHOW – Depois que o preparador físico Admildo Chirol evitou a briga, Leão voltou a falar grosso com Marinho: “Você é mal-educado, indisciplinado, não é mais que um peladeiroMarinho achou graça e mandou: “Eu não sou peladeiro nem jogador comum, não. Eu sou um jogador show. O torcedor paga para ver um jogo bonito, um espetáculo e isso eu sei fazer“.

DESDE A ESTREIA – Marinho estreou no Botafogo pelo Brasileiro, em 9/9/72, no 1 x 1 com o Santos, no Maracanã, e não queria começar perdendo. Numa falta, na entrada da área, Jairzinho se preparou para bater, ele se antecipou e fez o gol. Jairzinho abriu os braços e mandou: “Que porra é essa?”, ao que Marinho sorriu e respondeu: “Foi gol, campeão. Foi gol”. Quase no fim, Marinho deu um lençol em Pelé. O Rei não gostou e reagiu quando o jogo acabou: “Vê se respeita, hem. Sem essa de outro lençol no próximo jogo”.

NA MODA – Fora de campo, Marinho seguia a moda: usava calça boca de sino (bem larga), anéis, colares, pulseiras e carro com descarga solta, quanto mais barulhento, melhor. No último jogo da única Copa que disputou em 74, ele usou uma pulseira escura de couro, bem fina, que contrastava com a brancura de seu braço. Na véspera, voltou a tingir o cabelo (gostava de ser louro) e ficava esvoaçante em suas piques. Era o único em campo com adereço.

“ARTILHEIRO” – Os laterais do Botafogo sempre fizeram poucos gols na seleção. Nilton Santos – 1925 – 2013 – só marcou 3 em 85 jogos (64 vitórias), dois no Paraguai e o único em Copa, nos 3 x 0 na Áustria em 58. Rildo, na Copa de 66, fez 1 na derrota (3 x 1) para Portugal, e Marinho – 1952 – 2014 – fez 4 em 36 jogos (24 vitórias). O primeiro, no Maracanã, o da vitória (1 x 0) sobre a Eslováquia, aos 43 do segundo tempo, em amistoso em 7/4/74.

GIRATÓRIA – Sempre disposto a criar, Marinho lançou a paradinha giratória ao bater pênaltis na decisão do torneio Teresa Herrera, na Espanha, onde chegou como grande atração do Fluminense, que defendeu em 77-78. Ele corria para a cobrança, e antes do chute, girava em torno do próprio corpo. Ele ria e dizia: “Tem que criar, tem que ser diferente”. No ano seguinte, chegou ao Cosmos, fez 9 gols em 30 jogos, e dividia as atenções com Beckenbauer.

NA SUÉCIA – Marinho estreou na seleção em 25/6/73, em amistoso em que a Suécia venceu (1 x 0), no mesmo estádio de Rasunda, onde havia levado a goleada de 5 x 2 do Brasil na final da Copa de 58. O último jogo dele na seleção, 0 x 0 com a Iugoslávia, foi em 26/7/77, no Mineirão. Em 36 jogos, 24 vitórias e a seleção não sofreu gol em 22. Marinho foi campeão das Copas Roca e Rio Branco, e do torneio do bicentenário dos Estados Unidos, em 76.

13 FILHOS – Garrincha tem um filho sueco, não da Copa de 58, mas do ano seguinte, quando voltou com o Botafogo. Marinho foi além: dos seus 13 filhos, cinco são estrangeiros e oito nasceram no Brasil. O norte-riograndense, que começou no Riachuelo, time da Marinha de Natal, descoberto por um sargento, em 67, não gostava de atacar só em campo, não. 

É A MESMA LUA?  – Na volta ao Brasil, Marinho foi campeão paulista de 81 no São Paulo, que defendeu até 83, e retornou aos Estados Unidos, em 86-87 para jogar no Los Angeles Heat. O último, em 87-88, foi o Augsburg. Antes de viajar para a Alemanha, jantamos na Gaúcha, na Rua das Laranjeiras. Vendo a lua linda, eu disse: Marinho, aqui, noite de lua, e lá na Alemanha o sol está quase nascendo. Com sua santa inocência, ele me perguntou: “Deni, essa lua é a mesma que tem lá na Alemanha”?…

Foto capa: Frankie Marcone / 17-08-1999 Geral: Blog do Assis Ramalho, CBF, UOL, Recanto das Letras, Notícia da Serrra, Fox Sports e Gazeta do Povo.