A IMAGEM MAIS EXPRESSIVA do quarto dia da Copa de 2022 foi a dos jogadores da seleção da Alemanha, ao posarem com a mão na boca, antes de levarem a virada histórica do Japão por 2 x 1, nesta 4ª feira (23), no Estádio Internacional Khalifa, em Doha, capital do Catar. Os alemães decidiram enfrentar a Fifa com protestos duros.

“NÃO VAMOS NOS AJOELHAR DIANTE DA FIFA”, disse Steffen Simon, diretor da Federação Alemã de Futebol, acrescentando: “Fomos submetidos a uma chantagem extrema”. Por sua vez, Bernd Neuendorf, presidente da Federação, resumiu: “Não é mensagem política. Entendemos que os direitos humanos não são negociáveis”.

NA TRIBUNA DO ESTÁDIO, ao lado do suíço-italiano Gianni Infantino, presidente da Fifa, a social-democrata Nancy Faeser, ministra alemã do Interior, de blusa branca de manga curta, fez questão de exibir a braçadeira multicolorida One Love (Um Amor), banida pela Fifa, ao cumprimentar, sem sorrir, as autoridades do Catar.

NO GRAMADO, DEPOIS QUE A SELEÇÃO posou para as fotos com a mão na boca, o goleiro e capitão Manuel Neuer, de 36 anos, colocou a braçadeira, fez questão de exibir as chuteiras com as cores do arco-íris, e disse: “Queremos dar o exemplo da seleção, em que vivemos e convivemos em respeito mútuo, sem discriminação”.

QUANDO IVAN BARTON, de 31 anos, professor de Química Orgânica em El Salvador, único árbitro da América Central, autorizou o início do jogo, os alemães tomaram a iniciativa. No entanto, o domínio só chegou ao placar aos 33 minutos, quando Ilkay Gundogan, meia destro de 33 anos, converteu o pênalti do goleiro Gonda em Raum.

A VIRADA DO JAPÃO passou pelas três mudanças feitas no intervalo pelo técnico Hajime Moriyasu, ex-volante de 54 anos, que assumiu em 2018. Por coincidência, os autores dos gols da virada jogam em times alemães: o meia destro Ritsu Doan, de 24 anos, é do Freiburg, e o atacante Takuma Asano, de 28, do Bochum.

NO GOL DE EMPATE, aos 30, Ritsu Doan aproveitou o rebote do goleiro Neuer. Doan foi comprado pelo Freiburg por 9 milhões de euros, em julho, após ganhar com o PSV a Copa da Holanda. No gol da virada, aos 38, Asanu chutou forte no canto. Ele não joga no Japão desde 2016, quando foi comprado pelo londrino Arsenal.

MERECE DESTAQUE a atuação do goleiro Suichi Gonda, de 33 anos, 1,90m, nascido na capital Tóquio. Se fez o pênalti no gol alemão, no 2º tempo ele operou cinco daquelas defesas ditas impossíveis. Campeão da Copa da Ásia de 2011, Gonda é do Shimizu S-Pulse, e Zé Ricardo, ex-Vasco, foi seu técnico na campanha de 2022.

  • A PRIMEIRA VITÓRIA do Japão, em 11 jogos em Copas do Mundo, desde a 1ª, em 1998 na França, foi também a primeira sobre um campeão do mundo, em Copa do Mundo. Em estreias, o Japão havia perdido em 1998 para a Argentina por 1 x 0, gol de Batistuta, e em 2006 para o Brasil por 4 x 1, com dois gols de Ronaldo Fenômeno.
  • HANS-DIETER FLICK, ex-meia de 57 anos, é o técnico com menos tempo no comando da seleção alemã, antes de uma Copa do Mundo. Ele assumiu em maio, na saída de Joachim Low, de quem foi assistente de 2006 a 2014, e dirigirá a seleção até 2024, quando a Alemanha será sede da Eurocopa de seleções.
  • YUTO NAGATOMO, lateral de 36 anos, o mais velho da seleção, levou os japoneses ao delírio na TV, durante a entrevista do pós-jogo, ao gritar três vezes a palavra Hitari (Bravo!). Ele voltou ao FC Tokyo, onde iniciou em 2008, após 13 temporadas na Europa, no Cesena, Internazionale, Galatasaray e Marselha. Fez o 125º jogo pela seleção.

GOLEIROS BRILHARAM NO 0 x 0

NO SEGUNDO JOGO do terceiro dia da Copa, os goleiros Livakovic e Bono brilharam na estreia da Croácia, vice-campeã em 2018, e do Marrocos, participante pela sexta vez. O canadense Bono, de 31 anos, joga na Espanha há 10 anos e no Sevilha desde 2020, e o croata Livakovic, de 27 anos, é do Dinamo, da capital Zagreb.

LUKA MODRIC, de 37 anos, prêmio Fifa de melhor da Copa de 2018, comandou as ações da Croácia, tal como faz no meio-campo do Real Madrid. Ele não só deu o chute mais perigoso, rente à trave, como também criou boas situações, que nenhum dos atacantes soube aproveitar, principalmente no segundo tempo.

ACHRAF HAKIMI, lateral de 24 anos, do PSG, e Hakim Ziyech, ponta de 29 anos, do Chelsea, criaram pela direita as melhores jogadas da seleção marroquina, mas os atacantes falharam nas finalizações ou pararam em boas defesas do goleiro Bono. Em jogo sem tantas emoções, o resultado se ajustou bem.

  • CROÁCIA 0 x 0 MARROCOS registrou 59.407 torcedores no estádio Al Bayt, com a maioria de marroquinos radicados no Catar. O árbitro argentino Fernando Rapallíni marcou 27 faltas (11 do Marrocos) e só usou o cartão amarelo para advertir o meia Nordin Amrabat, de 35 anos, holandês que joga no AEK da Grécia.
  • ZLATKO DALIC, ex-volante de 56 anos, está na segunda Copa, depois de levar a Croácia ao vice em 2018 na Rússia, onde perdeu a final para a França por 4 x 2. O Marrocos é treinado pelo ex-lateral Walid Regragui, de 47 anos, marroquino de origem francesa, que se espelha muito no futebol inglês.
  • O TÉCNICO CARIOCA JOSÉ FARIA fez a melhor campanha de Marrocos, com o 11º lugar na Copa de 86, após 0 x 0 com Polônia e Inglaterra, e 3 x 1 sobre Portugal. Foi a primeira vez que uma seleção africana passou da 1ª fase de uma Copa, só eliminada nas oitavas de final pela Alemanha (1 x 0), que decidiu com a Argentina.
  • JOSÉ FARIA revelou alguns valores na base do Fluminense. Depois de anos em Rabat, capital do Marrocos, converteu-se ao islamismo, acrescentando Mehdi e Ben ao nome de batismo. Em 2013 foi homenageado em amistoso entre ex-jogadores da seleção que comandou e o Real Madrid, ganhando a camisa do ex-zagueiro Fernando Hierro, que também era o capitão da seleção espanhola.

Fotos: R7, Lance!, Claudio Villa / Getty Images