Maio começa triste desde 1994. Foi nesse Dia do Trabalhador que o esporte brasileiro perdeu, ainda jovem, um de seus maiores ídolos. Fazendo o que mais gostava, o paulistano Ayrton Senna, tricampeão mundial, morreu aos 34 anos, na terceira corrida do ano, quando a barra de direção da sua McLaren quebrou e o carro chocou-se contra o concreto do muro da curva Tamburello, em Ímola, província de Bolonha, norte da Itália. A curva foi transformada, no ano seguinte, em um chicane (desvio artificial para diminuir a velocidade).
HOMENAGEM – A última grande homenagem do futebol a Ayrton Senna foi no 1 de maio de 2014, com o minuto de silêncio respeitado em três clássicos dos campeonatos estaduais: Flamengo x Vasco, Palmeiras x São Paulo e Cruzeiro x Atlético. O momento mais tocante foi no Morumbi, quando o árbitro paraguaio Juan Escobar apitou aos cinco minutos, parando o jogo para a homenagem, antes que o goleiro Zetti, do São Paulo, batesse o tiro de meta.
AJOELHADO – O volante Cesar Sampaio, do Palmeiras, não conteve a emoção: ajoelhou-se, levou as mãos ao rosto e chorou até o reinício do jogo. Os 60 mil torcedores bateram palmas e entoaram o coro Olé, olê, olê, olá, Senna, Senna. Hoje, 1 de maio de 2020, infelizmente, o futebol não poderá repetir a homenagem, 26 anos após a morte do ídolo e extraordinário piloto, torcedor do Corinthians, time mais popular do estado onde nasceu.
OS TÍTULOS – Ayrton Senna já estreou vitorioso na Fórmula 1, ao ganhar o primeiro GP Brasil em 1984, ano em que sofreu paralisia facial, tratada pelo especialista Nuno Cobra, que o recuperou rápido. Em 85, deu sequência à série de seis conquistas consecutivas no GP Brasil, ganhando então em 1988 o primeiro mundial, repetido em 90 e 91. Aos 31 anos era o mais jovem tricampeão da Fórmula 1, encantando os torcedores de todo o mundo.
41 VITÓRIAS – Números expressivos da carreira vitoriosa de Ayrton Senna: 41 vitórias e 80 pódios em 161 GP de Fórmula 1, com 10 voltas mais rápidas e 65 pole-positions. A primeira vitória no Brasil, sob intenso delírio dos fãs, foi ao ganhar o tri, em 1991, com sua McLaren. Em 1993, a primeira consagração na Europa, com o recorde de seis vitórias no circuito de Monte Carlo, um dos dez distritos da luxuosa estância francesa do Principado de Mônaco.
O INÍCIO – O primeiro kart de Senna, aos quatro anos de idade, foi montado por Milton, seu pai, com motor de máquina de cortar grama. Aos nove anos, já dirigia jipe na propriedade do pai. Em julho de 73, aos 13 anos, ganhou a primeira prova de kart, no Kartódromo de Interlagos, hoje com seu nome. Antes de ser tricampeão brasileiro (78-79-80), já havia sido campeão sul-americano de kart em 77, feito que repetiu em 1980.
RECORDE – Quatro vitórias em um só dia, na inauguração do kartódromo de Uberlândia, com mais de 150 pilotos, foi o primeiro recorde de Senna, em 1978: duas na categoria 100 cilindradas e duas na categoria 125 cilindradas. Em 1979, Senna fez a estreia internacional no kart, em Portugal, no GP do Estoril, quando usou, pela primeira vez, o capacete que se tornaria marca registrada da sua vitoriosa carreira de piloto bem-sucedido.
EUROPA – Em 1981, Senna estreou na Fórmula Ford e conseguiu 12 vitórias, em 20 corridas no campeonato inglês, pela equipe Ralf Firman. Por falta de patrocínio, teve dificuldade para se manter na Europa e voltou a São Paulo, em janeiro, para gerenciar a loja de material de construção do pai. Irriquieto e otimista, em fevereiro de 82, Senna resolveu retomar a carreira na Europa, e ganhou 22 das 27 corridas de Fórmula Ford 2000 do campeonato inglês.
O SOBRENOME – É comum na Europa a pessoa ser tratada pelo último nome. Nascido Ayrton Senna da Silva, em 21/3/1960, ele trocou o sobrenome Silva pelo Senna e assim participou como Senna, pela primeira vez, da Corrida das Celebridades em 30 de maio de 82, no circuito Oulton Park, no sudeste inglês. Pilotando um Talbot, ganhou a prova com a melhor volta. Em 83, foi campeão da Fórmula 3 inglesa com 13 vitórias (nove consecutivas) em 21 corridas. Recebeu um telegrama de congratulações do então presidente, general João Batista Figueiredo.
PRIMEIRO TESTE – Ainda em 1983, Senna ganhou o GP de Macau e fez os primeiros testes com a Williams, com carro de Fórmula 1, batendo o recorde com 1m00s5, em 83 voltas. Impressionou Ron Dennis, chefe da equipe, e depois, em Silverstone, com a Toleman, foi o mais rápido em pistas seca e molhada. Finalmente, em 1984, estreou na Fórmula 1 e marcou o primeiro ponto no circuito de Kyalami, na África do Sul.
MUITA CHUVA – Em 1985, Senna ganhou as duas primeiras corridas sob muita chuva. Em abril, no autódromo de Estoril, em Portugal, e em maio, no famoso circuito de Spa-Francorchamps, na Bélgica, onde se tornou o rei das pole-positions. Duas coisas, que constratavam, eram as que mais impressionavam os chefes e integrantes de suas equipes, assim como os adversários: a determinação sempre otimista e a tranquilidade com que competia.
FORTUNA E AJUDA – Com a morte de Senna, que era solteiro, a irmã Viviane assumiu o patrimônio, avaliado em mais de 400 milhões de dólares, e criou, como ele queria, o Instituto Ayrton Senna. Ele pedia que suas ajudas aos carentes nunca fossem divulgadas, porque não queria que parecessem promoção pessoal. Entre muitas, fez doação de 45 mil dólares, em março de 94, ao programa Saúde sem limites, de apoio aos filhos de seringueiros do Acre.
NEGÓCIOS – Senna teve patrocínios especiais do Jeans Pool, Banerj, John Player Special, e só do Banco Nacional ganhava sete milhões de dólares. Com o uso do boné azul, o nome e a logo, fez do Banco, o mais popular do Brasil, com aumento de 150% do número de correntistas. Uma das pessoas de sua estreita relação de amizade e que o apresentou a diversas personalidades foi Antonio Carlos de Almeida Braga, torcedor fanático do Fluminense.
SENNINHA – Ayrton Senna aprovou de primeira, por ser voltado às crianças, o projeto Senninha, criado pelo cartunista Maurício de Souza, lançado em quadrinhos no início de 1994. Vinte anos após sua morte, Senna foi homenageado no Carnaval carioca pela Unidos da Tijuca, escola campeã com o enredo Acelera Tijuca. O enterro de Senna, no jazigo 11, quadra 15, setor 7 do Cemitério do Morumbi foi na quinta, 5 de maio de 1994. O cortejo da Assembleia Legislativa, onde o corpo foi velado, ao cemitério, foi acompanhado por dois milhões de fãs.
Fotos: Trivela, Museus de Imagens, Pais-e-Filho- UOL, site Ayrton Senna . com.br e cronicasmacaenses.com.