A vitória sobre a Inglaterra, na Copa de 70, foi no único jogo em que o Brasil só fez um gol e não sofreu nenhum gol, no domingo de 40 graus, ao meio-dia, no estádio Jalisco, em Guadalajara, de onde a seleção só saiu, depois de cinco vitórias, para golear a Itália, na final de 21 de junho no estádio Azteca. Jairzinho, único brasileiro da história das 21 Copas, de 1930 a 2018, a fazer gol em todos os jogos, marcou aos 14 do segundo tempo, com assistência de Pelé, após três dribles de Tostão.

BRASIL 1 x 0 INGLATERRA foi em 7 de junho de 1970, diante de 66.843 torcedores e com arbitragem do israelense Abraham Klein, que só aplicou um cartão amarelo, no ponta Francis Lee, por falta no lateral Everaldo. O árbitro errou em não expulsar Lee, grosseiro ao atingir a cara do goleiro Félix, caído, após uma das muitas defesas, em sua atuação mais segura na Copa. Bom lembrar: foi a primeira das três vitórias do Brasil sobre campeões do mundo na Copa de 70.

A DEFESA DAS COPAS – Um dos lances marcantes e inesquecíveis da história das Copas, aos 11 minutos. Jairzinho, forte e rápido, driblou três marcadores e, antes que a bola saísse, cruzou, sob medida, da linha de fundo. Pelé, com extraordinária impulsão, cabeceou forte no canto direito. O goleiro Gordon Banks saltou e desviou com a mão direita por cima do travessão. A maior e mais inacreditável defesa de um goleiro em todas as Copas.

MAIS QUE O TÍTULO – Antes de morrer aos 81 anos, em fevereiro de 2019, Gordon Banks, campeão em 1966, no único título mundial da Inglaterra, teve que explicar, muitas e muitas vezes, como pôde ter feito aquela defesa. Mesmo campeão do mundo e com 73 jogos pela seleção, o ex-goleiro dizia: “Quando conversam comigo, não me falam de outra coisa, só daquela defesa. Fico pensando que deve ter sido mesmo a coisa mais importante que fiz na vida”.

JOGO AÉREO – Havia muita preocupação com os cruzamentos pelo alto, principalmente com a impulsão de Geoff Hurst, único da história das Copas a fazer três gols em uma final, nos 4 x 2 da decisão de 66 com a Alemanha. Mas Carlos Alberto Torres e Everaldo, os laterais, impediram as tentativas, e as poucas bolas cruzadas foram dominadas pelos zagueiros Brito e Piazza. Mais que a final com a Itália, Zagallo confessou ter sido com a Inglaterra, então campeã do mundo, o jogo que o deixou mais tenso.

QUE ATUAÇÃO! – Na estreia, 4 x 1 na Tchecoslováquia, Paulo Cesar já havia substituído Gerson, que saiu com distensão muscular aos 25 minutos e não se recuperou. No 1 x 0 na Inglaterra, ele fez uma atuação primorosa, considerada por Zagallo, do ponto de vista tático, notável. O técnico, que o dirigiu no Botafogo, bicampeão carioca 67-68 (primeiros títulos de Zagallo), sempre disse: “Paulo Cesar é o melhor ponta-esquerda do Brasil, pela técnica, domínio da bola, precisão nos passes e finalização”.

ROBERTO MIRANDA – Foi a Copa das duas primeiras substituições, mas Zagallo só fez uma, no 1 x 0 na Inglaterra: tirou Tostão e colocou Roberto Miranda, outro artilheiro notável do bicampeonato do Botafogo, aos 23 do segundo tempo. O técnico prendeu o avanço dos zagueiros e a participação de Roberto, deslocando-se com inteligência, foi importante. Bom lembrar: no intervalo, a seleção deixou os ingleses “torrando” ao sol de 40 graus e só voltou cinco minutos depois do tempo previsto. 

MARCADOR – Quem esteve sempre mais perto de Pelé foi Bobby Moore, zagueiro forte, duro na marcação, capitão da seleção campeã do mundo em 66 e que o técnico Alf Ramsey manteve com a braçadeira em 70. Pelé disse ter sido seu melhor e mais leal marcador. Bobby Moore disputou a Copa de 70 em prisão domiciliar: ele só podia sair do hotel para treinar e jogar, vigiado por agentes mexicanos, acusado de furtar bracelete de ouro em uma loja de shopping em Bogotá, pouco antes da Copa.

  • A Inglaterra foi a única das seis seleções a não fazer gol no Brasil na Copa de 70, e também a única a sofrer apenas um gol da seleção brasileira, que nos outros cinco jogos marcou pelo menos três gols nas outras seleções: 3 x 2 na Romênia, 4 x 2 no Peru, 3 x 1 no Uruguai e 4 x 1 na Itália.
  • Poucos hão de se recordar, mas a seleção brasileira, sempre de meias brancas, usou meias cinzas no jogo com a Inglaterra. Como o Botafogo sempre jogou de meias cinzas, chegou a ser pensado que fosse mais uma das muitas superstições de Zagallo, mas o técnico preferiu ficar calado.
  • A Liga Inglesa mandou ofício à CBD (hoje CBF) informando que o café do Brasil poderia ser considerado doping nos exmes pós-jogo. A CBD respondeu que o chá da Inglaterra poderia ter efeito mais efeito de doping que o café brasileiro. Os ingleses não voltaram ao assunto.
  • Doze anos depois, o árbitro Abraham Klein voltaria a apitar jogo do Brasil em Copa do Mundo. Só que em 1982, no antigo estádio Sarriá, em Barcelona, ele dirigiu Itália 3 x 2, com os três gols de Paolo Rossi que eliminaram a seleção de Telê Santana nas semifinais.
  • Mario Vianna quase voltou ao Rio, após Brasil 1 x 0 Inglaterra. O comentarista chamou o árbitro de judeu alemão safado, por não ter marcado pênalti em Jairzinho. A Brahma, de judeus alemães, patrocinava as transmissões, e eles falaram direto com Roberto Marinho, que ligou para Waldir Amaral. O narrador conseguiu contornar. 

Fotos: Lance / reprodução, Mirrorpix, Pintrest, Hitc, Glasgowtimes, Pinterest e Haaretz.