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AUTOR DO GOL QUE MANTEVE A ESPERANÇA DO FLAMENGO, Michael tem histórias comoventes da vida real, que revelam o drama de cada um, nem sempre contado com toda sinceridade, como relembra o pai, Manuel Messias de Oliveira: “Ele estudou em várias escolas e sempre arranjou um jeito de sair, de preferência atrapalhando a aula para a professora perder a paciência e expulsá-lo da sala. Aí ele ficava feliz, e ia jogar bola, o que sempre mais gostou de fazer”.

MICHAEL Richard Delgado de Oliveira nasceu na terça-feira, 12 de março de 1996, em Poxoréu, pequeno município do Mato Grosso, a 240 km da capital Cuiabá. Aos 14 anos, envolveu-se com drogas e sofreu seis tentativas de assassínios, por não pagar as dívidas. Foi para Goiânia, e para ajudar as tias nas despesas da casa, ganhava 20 reais nas peladas da várzea. Chegou a jogar cinco peladas, no mesmo dia, para levar 100 reais.

MONTE CRISTO – A exemplo de Túlio, artilheiro e campeão no Botafogo, Michael começou amador no Euro Brasil de Goiânia e foi contratado em 2015 pelo Monte Cristo, da terceira divisão. No ano seguinte, estava no Goianésia, da primeira divisão, mas só estreou em março de 2017, marcando três gols nos 5 x 1 no Vila Nova. Saiu para o Goiás e foi muito criticado ao disputar a divisão de acesso: “Eu acordava às 3 da manhã para rezar, confiante em Deus”.

A BÍBLIA – Michael relembra que afastou as más companhias: “Eu era convidado para sair todas as noites e ficar tomando cerveja, mas agradecia e dizia que preferia ler a Bíblia. Eles riam muito de mim, sem saber que o Deus a que passei a servir era grande, todo-poderoso. Voltei para o Goianésia, sem ganhar nada, nem 1 real. Debochavam de mim quando entrei no time: “Aquele peladeiro é igual ao estilingue, vai e volta, e não vai passar disso”.

ASCENSÃO – Em abril de 2017, Michael foi apresentado no Goiás, mas estreou em maio e só marcou o primeiro gol em julho. Em 2018, com 7 gols e 9 assistências em 35 jogos, ajudou o Goiás a subir à Série A, e ainda ganhou o prêmio de maior driblador da Série B. Em 2019, com 9 gols e 5 assistências, Michael voltou a ganhar o prêmio de maior driblador, e o de revelação da Série A: “Com a ajuda de Deus, as coisas estavam melhorando” – dizia o atacante.

NO FLAMENGO – Michael ficou com 15% dos direitos econômicos; o Goiás com 5%, e o Flamengo com 80%, ao comprá-lo por 35 milhões de reais, em 20 de janeiro de 2020. Em fevereiro, em seu sétimo jogo, marcou o primeiro gol. Em março de 2021, foi o que deu mais assistências na Série A, e em abril, ganhou a Supercopa do Brasil, convertendo pênalti nos 6 x 5 da final com o Palmeiras, em que Diego Alves defendeu três. 

DEPRESSÃO FORTE – Certa noite, Michael foi visto por um segurança do Flamengo, dormindo dentro do próprio carro, no Centro de Treinamento, e relatou ao médico do clube, que mobilizou recursos para ajudá-lo. Só em julho de 2021, o jogador contou porque não rendeu bem em 2020: “Tive depressão, sofri muito e não tenho vergonha em dizer. Depressão quase todos têm, mas poucos assumem. É um orgulho que não serve pra nada, só pra nos matar”.

SUICÍDIO – Michael segue o relato: “Eu estava no hotel e pensei em me suicidar. Gritei por socorro, pelo nome da minha mulher, de companheiros da equipe, do médico e de dirigentes. Queria ajuda. Precisava de ajuda. Era importante que me ajudassem. E todos estenderam a mão, todos me ajudaram, inclusive funcionários do clube, no momento de desespero em que mais precisei de ajuda. A gratidão que tenho por todos será para sempre” – ressalta Michael.

O AUTOR DO GOL DE ONTEM (30), no Maracanã, completou na carreira 248 jogos, 45 gols, 27 assistências. Campeão goiano em 2018 no Goiás, Michael chegou aos 15 gols em 94 jogos pelo Flamengo, campeão carioca, brasileiro, da Supercopa do Brasil e da Recopa Sul-Americana em 2020, mesmo sem participar de boa parte dos jogos. E diz que aumentou a esperança de incluir no currículo de 2021 outro título brasileiro e o seu primeiro da Libertadores: “Se Deus quiser. Com a ajuda de Deus”.

Foto: Sagres Online, Sportbuzz, R7 Esportes, Futebol Bahiano, Boal Vip Brasil