Os vice-presidentes do Flamengo compareceram à CPI da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, mas Rodolfo Landim não foi. Logo ele, que deveria ser o primeiro a se apresentar, por ser a principal figura do clube. Um ano depois da tragédia, no início do seu mandato, por que o presidente tem tanto medo do contato direto?

SEM EXPLICAÇÃO – Um ano depois, o presidente não marcou sequer uma única entrevista coletiva para atender, frente a frente, às perguntas dos jornalistas. O muito que fez foi gravar matéria, produzida e apresentada, pelo próprio clube, para exibir no canal da Fla TV. Estranho. Muito estranho. Não faz sentido que se esquive em caso tão doloroso.

JUSTIFICATIVA – Uma semana antes, na primeira audiência, Landim não foi. Ontem (14), voltou a faltar porque estava com o time em Brasília. Mas, o vice de futebol Marcos Braz, que faz bom trabalho e poderia, esse sim, estar com a equipe, como tem feito desde que assumiu, compareceu, ainda que sua convocação tenha sido um equívoco da CPI.

SURPREENDE, e causa muita estranheza, que o presidente não esteja presente, frente a frente, olho no olho, em caso tão chocante e doloroso. O registro ficará na história do clube para sempre: 10 jovens morreram em incêndio, no Ninho do Urubu, do Flamengo, na época sob a presidência de  Rodolfo Landim, no dia 8 de fevereiro de 2019.

INACEITÁVEL é também o argumento de que o presidente estava liberado da reunião da CPI porque o Flamengo poderia ser representado pelos vice-presidentes. Foi, e bem representado, mas a presença do presidente, figura máxima do clube, era absolutamente obrigatória. E ele não apareceu nas duas reuniões em que não poderia faltar.

LADO HUMANO – O vice-presidente Rodrigo Dunshee de Abranches reconheceu, durante a audiência, a falha do Flamengo no aspecto humano da questão, e disse que o clube constituiu comissão para tratar do caso. Pais e pessoas das famílias dos jovens mortos voltaram a se queixar da frieza do presidente e a lamentar que não tenha comparecido.

SÓ DINHEIRO – A Defensoria Pública e o Ministério Público pedem que o Flamengo pague vinte milhões de reais por danos morais coletivos, e cinco milhões de reais, em todo 8 de fevereiro, dia da tragédia. Presume-se ser o cálculo do valor das dez vidas. Só não se ouve falar em condenação do culpado ou dos culpados da tragédia, como o caso exige. 

ANULAÇÃO – Foi também solicitada na audiência de ontem (14), na Assembleia Legislativa, a anulação dos acordos individuais já feitos pelo clube com três ou quatro das famílias. Alguns deputados sugeriram a realização de um jogo, com renda total em benefício das famílias, algo difícil pela falta de data no apertado calendário do futebol brasileiro.

CONSTRANGIMENTO – Vários deputados não puderam evitar o constrangimento pela volta de Chiquinho da Mangueira (PSC) e Marcos Abrahão (Avante), presos em novembro de 2018, acusados de envolvimento em corrupção de R$54 milhões, em troca de apoio ao ex-governador Sergio Cabral, preso, e condenado a mais de 200 anos.

Foto: Ricardo Moraes/Reuters