COMO DISSE O POETA Vinícius de Moraes, apaixonado pelo Botafogo, “o futebol é uma cachaça”. A frase vale para Luiz Felipe Scolari, o Felipão, de 74 anos, que vai assumir o Atlético Mineiro, sete meses após anunciar a aposentadoria: “Vivi tudo que eu não esperava ganhar no futebol”, resumiu depois de 3 x 0 no Botafogo, em 13 de novembro de 2022, levando o time de 13º ao 6º do Campeonato Brasileiro, com a vaga direta na fase de grupos da Libertadores.

FAZ 41 ANOS QUE SCOLARI iniciou a carreira bem-sucedida de técnico, aos 34 anos, após ganhar o único título como zagueiro de muita força e pouca técnica, campeão alagoano de 1982 no CSA de Maceió, que voltou a dirigir, por pura gratidão, em 1986. Nos anos 90, o bi gaúcho (95-96), a Copa do Brasil (94), a Libertadores (95), o Brasileiro e a Recopa Sul-Americana (96) no Grêmio, e a 1ª Copa do Brasil (98) e a 1ª Libertadores do Palmeiras (99), fecharam a década com oito títulos expressivos

NOS ANOS 2000, SCOLARI voltou a levar o Palmeiras ao pódio, com a Copa do Brasil de 2012 e o Campeonato Brasileiro de 2018, sem que possa passar sem registro a única Copa do Brasil do Criciúma, que ganhou em 1991, nem que Felipão foi campeão do mundo em 2002, com a segunda seleção que ganhou todos os jogos, depois da que Zagallo comandou em 70. A primeira Copa na Ásia, e em dois países, teve um diferencial nas conquistas do novo técnico do Galo mineiro.

FOI NA COPA DE 2002, na Coreia do Sul e no Japão, que Scolari começou a se tornar o único técnico da história de 21 Copas do Mundo, de 1930 a 2022, a ganhar 11 jogos consecutivos: os sete com a seleção brasileira e os quatro com a seleção portuguesa, que comandou na Copa de 2006, merecendo a honra da condecoração com a medalha de Comendador, entregue por Aníbal Antonio Cavaco Silva, 19º presidente da República de Portugal.

SCOLARI É O 33º TÉCNICO a trabalhar no Atlético e no Cruzeiro, tais como Dorival Junior, Levir Culpi, Abel Braga, Cuca e Vanderlei Luxemburgo, que fez do Cruzeiro único mineiro com a Tríplice Coroa, campeão estadual, brasileiro e da Copa do Brasil, em 2003. A bola da discussão está levantada no ponto central da Praça Sete de Belo Horizonte, e Scolari é aprovado por 50% dos torcedores. Bom dizer: no Cruzeiro, Scolari só ganhou a irrelevante Copa Sul-Minas, que teve vida curta (2000 a 2002).

SÓ DOIS TÉCNICOS são unanimidade entre os atleticanos: Telê Santana, do primeiro título brasileiro (1971), e Cuca, que resgatou a conquista, depois de meio século, em 2021, oito anos depois de ter sido o primeiro a ganhar a única Libertadores em que o Atlético cantou de galo em 2013. Scolari assume o Atlético em 4º, com 18 pontos, menos 6 que o líder Botafogo, e estreia 4ª feira (21), no jogo com o Fluminense, no Estádio da Cidadania, em Volta Redonda.

O ATLÉTICO MINEIRO anuncia contrato até dezembro de 2024, prazo que depende sempre de vitórias. Com a saída de Scolari, só seis meses como diretor técnico, saiu também Paulo Turra, gaúcho de 49 anos, assistente que indicou como técnico e foi demitido após 24 vitórias, 7 derrotas, 4 empates, e deixou o time em 7º, com 16 pontos, no Brasileiro. O paulista Carlos Pracidelli, de 66 anos, treinador de goleiros da seleção em 2002, será o assistente de Scolari no Atlético.

EM CURITIBA, a decisão de Scolari, de voltar a ser técnico, foi recebida com surpresa e como traição, pelo menos na visão do colunista Augusto Mafuz, da Tribuna do Paraná, que até citou a personagem Capitu, que traiu Bentinho com Escobar, no romance Dom Casmurro, de 1899, uma das obras primorosas do notável Machado de Assis, o Pelé dos escritores, fundador e primeiro presidente da Academia Brasileira de Letras (1897). Em sua coluna, Mafuz escreveu com ironia: “Capitu é um exemplo de fidelidade perto de Felipão”…

Fotos: UmDois Esportes e Terra