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Entre muitas histórias e recordes, nos 70 anos do Maracanã, o gol de barriga de Renato Gaúcho, na final do Campeonato Carioca de 1995, que completa 25 anos nesta quinta, 25 de junho de 2020, faz parte das grandes marcas do então maior estádio do mundo. A maioria dos 112.285 torcedores, como sempre, do Flamengo, esperava comemorar o título especial, no ano do centenário do clube, que investiu pesado na compra de três campeões do mundo e na contratação do técnico bicampeão brasileiro, e tinha a vantagem do empate, diante de um Fluminense sem tantos valores e que só com a vitória poria fim ao jejum de dez anos.

O CARRO-CHEFE – Seis meses após ganhar a Copa do Mundo de 94, artilheiro da seleção e destaque do Barcelona, Romário voltou da Espanha para ser o carro-chefe do centenário do Flamengo. Com ele, mais dois campeões mundiais: Branco, dez anos antes tricampeão no Fluminense, e Mazinho, bicampeão brasileiro 93-94 no Palmeiras, de onde também veio o técnico bicampeão Vanderlei Luxemburgo. Do outro lado, Joel Santana, que usava prancheta e era debochado porque tropeçava no português…

A SURPRESA – Como todo clássico, Fla-Flu em especial, o Fluminense iniciou melhor e aos poucos o Flamengo equilibrou, mas parecia sentir mais o campo pesado porque a chuva caía forte. Quase caindo, Renato Gaúcho fez 1 x 0 aos 30, e Leonardo marcou o segundo aos 42, no rebote do goleiro Roger, em chute fraco de Marcio Costa. O Fluminense saiu para o intervalo com 2 x 0 e o Flamengo não obrigou o goleiro Wellerson a fazer defesa difícil. O resultado, de certa forma, foi uma surpresa.

A REAÇÃO – O Flamengo encontrou o Fluminense bem fechado na volta do intervalo, só saindo na boa, em contra-ataques. O jogo, bem equilibrado, só empolgou nos quinze minutos finais. Depois do gol de Romário, aos 26, o campo ficou maior.  Sorley, zagueiro do Fluminense, e o meia Marquinhos, trocaram empurrão e foram expulsos. O volante Fabinho, destro muito habilidoso, driblou três e empatou de canhota, no cantinho direito, aos 32, levantando a massa. O empate daria o tão esperado título ao Flamengo.

A BARRIGA – A empolgação da galera aumentou, dois minutos após o empate, porque o Fluminense ficou com menos um, Lira expulso, pelo carrinho duro em Fabinho, que quase não voltou. O coro de campeão parou aos 41. O ex-rubro-negro Ailton deu dois dribles desconcertantes em Charles Guerreiro e bateu forte de canhota. Renato Gaúcho, que jogou com a fitinha do Porcão na testa, para prender o cabelo liso esvoaçante,apareceu no meio dos zagueiros, abriu os braços para evitar qualquer toque de mão, e desviou a bola. Primeiro gol de barriga em um Fla-Flu! Único de um campeão em 70 anos no Maracanã!Na história!

A FRASE – O correto Leo Feldman, árbitro do Fla-Flu histórico do gol de barriga, registrou na súmula gol de Aílton, mas não há tricolor que tenha deixado de comemorar como Gol de barriga de Renato. Durante algum tempo, conversei com Luis Mendes sobre o gol e a súmula, perguntando a ele se a súmula vale ou não vale. Do alto da sua sabedoria gaúcha, o ex-colega de tantas jornadas, resumia: “Vale, mas às vezes vale pouco, e o pouco que vale não vale nada”…

BOM LEMBRAR – Fluminense – Wellerson, Ronald, Lima, Sorley e Lira; Marcio Costa, Ailton, Djair e Rogerinho (Ézio); Renato Gaúcho e Leonardo (Cadu). Técnico – Joel Santana. Os campeões venceram 17 jogos, empataram 7 e só perderam 3, marcando 49 gols e sofrendo 18. Flamengo – Roger, Marcos Adriano (Rodrigo), Gelson Baresi, Jorge Luis e Branco; Charles Guerreiro, Fabinho, Marquinhos e William (Mazinho); Romário e Sávio. Técnico – Vanderlei Luxemburgo. Nos quatro jogos em 1995 com o Flamengo, o Fluminense ganhou três (4 x 3, 3 x 1 e 3 x 2) e um 0 x 0.

NELSON RODRIGUES resumia no dia seguinte em sua coluna: “O Fluminense nasceu com a evocação da eternidade. Tudo pode passar, só o Tricolor, eterno e imortal, não passará jamais”. Nas ruas, os torcedores ironizavam, pela campanha de 1995 em que o Flamengo passou em branco: “Ano do centenário ou ano do sem ter nada”… Em 2012, na festa dos 100 anos do Fla-Flu, o Fluminense ganhou, com o primeiro gol de Fred no clássico. É outra história, fica para julho. 

Fotos: Torcedores e Netflu.