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FORAM OS GOLS EM FINAIS HISTÓRICAS, que marcaram Nunes como artilheiro das grandes decisões. A do Brasileiro de 1980, diante de 155 mil torcedores no Maracanã, no domingo, 1 de junho, com o terceiro gol do 3 x 2 sobre o Atlético Mineiro, aos 37 do 2º tempo, e os dois do Mundial de 1981, com 65 mil torcedores no Estádio Nacional de Tóquio, no 3 x 0 no Liverpool, campeão europeu invicto, no domingo, 13 de dezembro de 1981. Fiz a cobertura das duas decisões.

NUNES TINHA 27 ANOS, no auge da carreira em que marcou 99 gols em 214 jogos com o manto sagrado rubro-negro, tornando-se um dos ídolos de sempre da maior torcida do país: “Era de arrepiar, desde o momento da entrada em campo” – recorda o sergipano de Cedro de São João, município a 95 km da capital Aracaju, maior produtor de carne de sol, onde nasceu na 5ª feira, 20 de maio de 1954. Nunes tinha 14 anos quando começou no infantil do Flamengo.

O FLAMENGO LIQUIDOU o Liverpool em 28 minutos, com Nunes abrindo o placar aos 13, ao encobrir o goleiro Bruce Grobelaar, após lançamento sob medida de Zico, o garçom de luxo da final inesquecível: “Tive tanta certeza do gol que comemorei antes de a bola entrar” – relembra Nunes, sempre fazendo questão de destacar o espírito de equipe: “O grupo era muito unido e essa união foi que nos deu em sequência o Brasileiro, a Libertadores e o Mundial”.

O SEGUNDO GOL FOI de Adílio, aos 34 minutos, depois de falta batida pelo capitão Zico. O goleiro rebateu, Lico chutou e o zagueiro Phil Thompson, capitão do Liverpool, afastou, mas Adílio estava atento, dominou a bola e finalizou para as redes. Na comemoração, beijinhos para a esposa, com quem sairia, logo depois do jogo, para a tão esperada lua de mel no Hawai. Aos 41, Nunes aproveitou outro lançamento primoroso de Zico e finalizou na saída do goleiro.

O MUNDIAL DE 1981 DO FLAMENGO, que recordamos nesta 2ª feira, 13 de dezembro de 2021, foi o primeiro a registrar o placar de 3 x 0, só repetido nove anos depois, quando o Milan venceu a decisão de 1990 com o Olímpia, do Paraguai, e quando o Estrela Vermelha, da então Iugoslávia, hoje Sérvia, ganhou a decisão de 1991 com o chileno Colo Colo. Com a diferença de que a exibição do Flamengo foi de nível técnico muito acima dos dois campeões europeus.

RAUL, LEANDRO, MARINHO, MOZER E JUNIOR; ANDRADE, ADÍLIO E ZICO (c); TITA, NUNES E LICO – únicos campeões mundiais da história do Flamengo, dirigidos por Paulo Cesar Carpegiani, que em 75-76, no bicampeonato brasileiro do Internacional, formou com Paulo Roberto Falcão um dos meios-de-campo mais talentosos da história. Carpegiani foi dirigido no time campeão brasileiro de 1980 por Claudio Coutinho, a quem sucedeu no comando da equipe.

OS CAMPEÕES MUNDIAIS DE 1981 tiveram um dos presidentes mais competentes da história do clube, o brilhante advogado Antonio Augusto Dunshee de Abranches, que entrevistei na premiação dos jogadores e com quem almocei, após o jogo, no salão do Takanawa Prince Hotel, em Tóquio. Sorrindo, ele brincou: “Que hamburguer caro”. Servido com umas poucas batatas fritas, o bife realmente não passava de um hamburguer, e o hotel cobrou 30 dólares pelo almoço…

A VIAGEM, AINDA QUE MUITO CANSATIVA, FOI EXCELENTE. Nas asas da inesquecível Varig, com o padrão de qualidade do incomparável serviço de bordo da melhor empresa aérea brasileira de todos os tempos, fizemos escalas em Lima e Los Angeles, antes da chegada ao aeroporto de Narita, na província de Chiba, a 60 km de Tóquio. Fui na confortável picape reservada ao Flamengo, a convite dos roupeiros e massagistas, meus amigos Babão e Isaías. A camisa 4, de Mozer, que me deram, está na coleção do meu filho Fabio. 

ELEGANTE E ATENCIOSO, o técnico inglês Robert Paisley, então aos 62 anos, elogiou o Flamengo: “Para ser franco, só conhecia Zico e Junior, mas a equipe inteira mostrou qualidades individuais bem próprias do valor do futebol brasileiro”. Ex-lateral, Paisley só atuou no Liverpool, destacando-se em nove temporadas consecutivas, e mais ainda quando passou a técnico, que conquistou três títulos ingleses e três dos cinco títulos europeus do clubes, em quase meio século no clube”.

A ESTÁTUA DE ZICO, em tamanho natural, e os bustos de Nunes, Leandro, Andrade e Adílio estão na entrada da sede do clube, visitados diariamente por torcedores dos mais diversos pontos do país. Tive a alegria de ser convidado para participar de todas as inaugurações, que devem ser retomadas em breve, homenageando outras figuras expressivas da maior conquista de todos os tempos do futebol do Flamengo, campeão mundial de clubes de 1981.

Foto: Lance!