PIONEIRO DOS AVANÇOS pela lateral; primeiro em defender e atacar, na época em que sua posição tinha apenas função defensiva, Nilton Santos foi tratado como A Enciclopédia, por conhecer tudo de futebol e ser completo como jogador fora de série, muito além do seu tempo. Bem carioca, extrovertido, alegre e brincalhão, ele completaria 98 anos hoje, nascido no sábado, 16 de maio de 1925. Saiu do Flexeiras, da Ilha do Governador, para brilhar no cenário do futebol mundial.
ENQUANTO CUMPRIA o serviço militar, foi levado por um major da Aeronáutica ao Botafogo, onde Zezé Moreira, técnico dos seus primeiros títulos, logo o aprovou. Nilton Santos estreou no domingo, 18 de julho de 1948, no estádio Caio Martins, em Niterói, ganhando de virada do Canto do Rio por 4 x 2, com três gols de Otávio, artilheiro do campeonato, em que venceu 17 e empatou 2 dos 20 jogos. Brincando, ele dizia que era o único campeão invicto, por não ter jogado na estreia, quando o Botafogo sofreu a única derrota, goleado pelo São Cristóvão por 4 x 0, em General Severiano.
NILTON SANTOS só vestiu, e honrou, duas camisas: a do Botafogo, campeão carioca em 48, 57, 61-62, e do Torneio de Paris de 63, penúltimo ano da carreira, e da seleção, titular em todos os 12 jogos do bi Mundial de 58 e 62. Com ironia, ele me disse um dia: “Tive que jogar duas Copas pra ser bi. O Fontana (zagueiro do Vasco) jogou um jogo em 70 e dizia que era tri”… Na seleção, de 49 a 62, Nilton ganhou 64 dos 85 jogos, o último, o da final com Tchecoslováquia (3 x 1).
O ÚNICO GOL que marcou em Copa do Mundo foi o 2º dos 3 x 0, na estreia com a Áustria, em 8 de junho de 58, no estádio de Udevalla, na Suécia. Avançando do próprio campo, Nilton passou por quatro marcadores e finalizou com o pé direito, encobrindo o goleiro Rudolf, aos 4 do 2º tempo. Quando lhe perguntei qual das duas – 58 ou 62? – foi a melhor, ele respondeu: “A de 62 conseguiu ser tão boa quanto à de 58 porque o Garrincha jogou por ele, e pelo Pelé”.
1º DOS 10 QUE MAIS jogaram pelo Botafogo, Nilton Santos (723 jogos, 11 gols), mais 111 que o compadre Garrincha (612 jogos, 245 gols). Completam a lista, o goleiro Jefferson (459); lateral Valtencir, 453; Quarentinha, único três vezes consecutivas artilheiro do Carioca (58-59-60) e maior goleador do clube (313 gols/444 jogos); o goleiro Manga (442); o volante Carlos Roberto (440); Geninho, meia-direita campeão de 48 (425); Jairzinho (413), único a fazer gol em todos os jogos de uma Copa, campeão do mundo em 70, e Wagner (412 jogos), goleiro campeão brasileiro de 95.
NILTON SANTOS, tal qual Pelé, absoluto, sem discussão, o melhor lateral-esquerdo do mundo de todos os tempos. Campeão sul-americano de 49, pan-americano de 52, busto na sede, estátua no estádio, com seu nome desde 10 de fevereiro de 2017, por votação dos torcedores, Nilton Santos é eterno entre os imortais do futebol de sempre. Só Nilton e Pelé conseguiram contrariar a frase de Nelson Rodrigues: “Toda unanimidade é burra”.
Fotos: Terceiro Tempo, Twitter, Meia Hora, Tribuna do Norte, Ludopédio e PNA Rota/Getty Images/Getty Images)