O futebol brasileiro teve ontem (23) dois campeões estaduais dirigidos por técnicos argentinos, em pouco tempo de trabalho no país: o São Paulo, de Hernan Crespo, ex-atacante de 45 anos, e o Fortaleza, de Juan Pablo Vojvoda, ex-zagueiro de 46 anos. Crespo conseguiu em três meses o título que o São Paulo não ganhava há dezesseis anos, e Vojvoda só precisou de duas semanas para fazer o Fortaleza campeão invicto, com ataque mais positivo e defesa menos vazada.
NONA DECISÃO – Na única final direta, em dois jogos, São Paulo e Palmeiras voltaram a decidir o Campeonato Paulista depois de 29 anos. Como em 1992, com 4 x 1 na primeira (3 de Raí e 1 de Cafu) e 2 x 1 na segunda (Cerezo e Muller), o São Paulo foi bem em 2021, mantendo 0 x 0 como visitante e ganhando (2 x 0) em casa. Luan fez o do primeiro tempo, de fora da área, aos 36, e Luciano marcou o segundo aos 32, pouco depois de substituir Pablo, consolidando o melhor desempenho da equipe.
OS CAMPEÕES – Tiago Volpi, Arboleda, Miranda e Leo; Igor Vinícius, Luan (Rodrigo Nestor), Liziero (Willian), Gabriel Sara e Reinaldo; Igor Gomes (Rojas) e Pablo (Luciano) – o São Paulo do segundo título de Hernan Crespo, técnico campeão da Copa Sul-Americana 2021 com o modesto Defensa y Justicia. Bom lembrar: o último treinador argentino campeão paulista com o São Paulo foi José Poy, um dos bons goleiros da história do clube, campeão paulista em 1957.
GOLS DO TÍTULO – Luan, paulistano de 22 anos, com o contrato estendido até 2023, fez o gol do primeiro tempo, aos 36, com chute forte de fora da área. O leve desvio da bola em Felipe Melo tirou a chance de defesa do goleiro Weverton. O São Paulo esteve mais presente e voltou melhor do intervalo, mas só conseguiu o segundo gol aos 32, com assistência de Rodrigo Nestor, que deixou Luciano, goiano de Anápolis, de 28 anos, livre para marcar.
42 DIAS, TRÊS VICE – A sequência do ano não está sendo boa para o Palmeiras, após ganhar o Paulista, a Libertadores e a Copa do Brasil. Em 42 dias, o time ficou com três vice, na Supercopa do Brasil, perdida para o Flamengo; na Recopa Sul-Americana, perdida para o Defensa y Justicia, e no Paulista, perdido ontem (23) para o São Paulo. O nervosismo excedeu o limite quando o técnico Abel Ferreira interpelou o meia Liziero de forma em que não há exagero ao classificá-la como grosseira.
CHORO DE CAMPEÃO – Bem experiente aos 65 anos, o paulistano Muricy Ramalho, coordenador técnico, elo de ligação entre jogadores e o treinador, não conseguiu segurar o choro ao rever o clube ser campeão. Um filme de boa lembrança, como o de 77, em que foi o meia-armador campeão brasileiro no São Paulo, orientado pelo paulistano Rubens Minelli, hoje aos 92 anos, a quem se igualaria como técnico, com três títulos consecutivos em 2006-07-08, e depois o de 2010 no Fluminense.
EMOÇÃO DE CAMPEÃO – Ainda no gramado, Crespo sentiu uma emoção especial, ao se afastar das comemorações para poder atender a uma chamada de video pelo celular. Depois explicou: “Eram minhas filhas. Elas estão na Itália e viram o jogo todo pelo computador, felizes, alegres. As distâncias estão diminuindo cada vez mais. Voltar a ver o sorriso delas me deu muita emoção. É o melhor que um pai pode querer”.
BANHO DE CAMPEÃO – Antes mesmo de responder às perguntas, na sala de imprensa do Morumbi, Hernan Crespo levou um banho de água fria dos jogadores. Refeito, recolocou a máscara, passou a mão no rosto e no cabelo, e pediu para dizer da alegria de trabalhar com Muricy: “Grande, grandíssimo Muricy. Que belo profissional, simples, humilde. É muito, muito bom conviver com ele”. Os da equipe de trabalho, que compartilham o dia a dia do clube, resumem que a sintonia é perfeita.
UMA GRANDE MAGIA – O técnico fez um grande afago nos torcedores: “O São Paulo é muito além do que se imagina em termos de grandeza. Somos uma equipe de 20 milhões de pessoas, não só uma comissão técnica, dirigentes, jogadores, somos muito mais. O futebol é uma grande magia, magia pura. É difícil entender e alcançar a dimensão. Quem pode explicar a felicidade de muitos meninos vendo o São Paulo campeão pela primeira vez?”
CAPITÃO LEMBRADO – O lateral Daniel Alves, capitão do time, não pôde jogar porque sentiu um problema muscular, ainda no primeiro tempo do primeiro jogo, sem tempo para se recuperar, mas foi lembrado: “Técnico e experiente, é fundamental no trabalho de Crespo” – escreveu OLÉ, principal diário esportivo argentino. O jornal destaca mais: “Crespo implantou bem em três meses seus conceitos e ideias. Sabe trabalhar com empenho e exige muito para conseguir o melhor”.
SEQUÊNCIA – Já classificado em primeiro, o São Paulo completa a fase de grupos amanhã (25) com o peruano Sporting Cristal, no Morumbi, onde estreará no Brasileiro 2021, sábado (29), às 21 horas, com o Fluminense. O primeiro jogo de junho será na estreia da terceira fase da Copa do Brasil, terça (1), na Arena Ytacoatiara, em Piripiri, município do Piauí, a 160 km da capital Teresina, com o 4 de Julho. O nome do clube é homenagem à data da emancipação política de Piripiri.
FORTALEZA CAMPEÃO – Com a vantagem do empate, por ter feito a melhor campanha, o Fortaleza ficou no 0 x 0 com o Ceará, na tarde de ontem (23), na Arena Castelão, e ganhou o Campeonato Cearense de 2021, invicto – 6 vitórias, 3 empates -, ataque mais positivo (26), defesa menos vazada (2). Nos últimos quatro jogos, o Fortaleza marcou 20 gols e sofreu 1. Título 44 e o terceiro tri – 2019-20-21 -, depois de 1926-27-28 e 2003-04-05. O Fortaleza foi tetra em 2007-08-09-10.
OS CAMPEÕES – Felipe Alves, Tinga, Marcelo Benevenuto, Titi e Carlinhos; Éderson, Felipe (Mateus Jussa) e Mateus Vargas (Daniel); Robson (Lucas Crispim), Wellington Paulista ( Igor Torres) e David (Romarinho) – o Fortaleza, do primeiro título do técnico argentino Pablo Vojvoda, de 46 anos, vice-campeão chileno no La Calera. Antes, ele havia feito bom trabalho no Defensa y Justicia e no Talleres de Cordoba.