ENTRISTECE-ME MUITO registrar a morte de Ubirajara Mota, profissional decente, correto, aplicado, e uma das boas amizades que fiz no futebol. Então repórter de rádio e jornal, cobri do início ao fim, indo diariamente aos treinos, a campanha do Bangu, campeão carioca de 1966, em que ele foi titular em todos os 18 jogos e não sofreu mais do que 8 gols. Não só o time, mas o técnico Alfredo Gonzalez, meia argentino do Flamengo no início dos anos 40, era muito bom.
UBIRAJARA MOTA, Fidélis, Mário Tito, Luis Alberto e Ari Clemente; Jaime e o capitão Ocimar; Paulo Borges, Ladeira, Cabralzinho e Aladim, o time base dos 18 jogos, com 15 vitórias, 2 empates, e a única derrota, no último jogo do turno, em que Almir meteu a cara na lama, e quase bateu com a cabeça na trave, para fazer 2 x 1. O mesmo que se dopou na final, e na saída do intervalo, perdendo por 2 x 0, disse que o jogo não acabaria se o Bangu fizesse outro gol. Dito e feito.
UBIRAJARA MOTA tinha na época 30 anos, carioca de 4 de abril, nascido em 1936. Exercia uma liderança sem grito, sem gestos, ouvida e respeitada, com o sinal positivo dos companheiros. A campanha foi bonita: o time fez 50 gols e não sofreu gol em 12 dos 18 jogos, incluídos os 0 x 0 consecutivos do turno com Vasco e Botafogo. O ponta Paulo Borges foi o artilheiro do campeonato, com 16 gols, feito que repetiu no vice-campeonato de 1967 perdido por 2 x 1 para o Botafogo.

DOIS ANOS ANTES de título de 66, Bangu e Fluminense voltaram a decidir depois de 13 anos da final de 1951. Ubirajara Mota só disputou o primeiro jogo, que o Fluminense ganhou (1 x 0, no calço de Mario Tito em Amoroso). Teve problema grave no joelho e foi operado na véspera do segundo jogo, substituído pelo paulista Aldo. Ubirajara foi o primeiro a defender Arnaldo Santiago, médico do Bangu, que jogava basquete no Fluminense, acusado de antecipar a cirurgia.
DOIS ANOS DEPOIS, Ubirajara Mota foi um dos quatro goleiros convocados para a fase inicial de treinos da seleção, que cobri em Lambari e Caxambu, no Sul de Minas. Fabio, do São Paulo, e ele, não foram à Copa de 66, terceira e última do bicampeão Gylmar, e única de Manga. Na época, iam só dois goleiros. O Brasil ganhou da Bulgária e perdeu da Hungria e Portugal. Tempos depois ele me contou: “O Pelé me disse que foi bom eu não ter ido: a seleção era uma bagunça”.
UBIRAJARA MOTA só fez um jogo pela seleção, o amistoso de 6 de junho de 66, no Maracanã, 3 x 1 no Peru, gols de Fidélis, Tostão e Edu. A seleção, na época do 4-2-4: Ubirajara Mota (Bangu), Fidélis (Bangu), Brito, Fontana e Oldair (Vasco); Roberto Dias (São Paulo) e Denilson (Fluminense); Paulo Borges (Bangu), Alcindo (Grêmio), Tostão (Cruzeiro) e Edu (Santos). Técnico – Vicente Feola. O jogo teve 65 mil pagantes e foi apitado pelo escocês Williams Symes.
UBIRAJARA MOTA ganhou mais dois títulos cariocas, o de 72 no Flamengo, atuando em seis jogos, sem sofrer gol, sob a direção de Zagallo, e o de 74 no Flamengo, participando só de um jogo, sem sofrer gol, dirigido pelo ex-lateral Jouber. Ubirajara Mota foi vice-campeão em 64 e 67 no Bangu, e em 71, no Botafogo. Batemos o último papo, há dois anos, quando me recebeu no apartamento em que morava na Tijuca. Que Deus dê muita luz ao seu espírito.
Foto 1: Reprodução | Foto 2 : Roger Garcia