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Descumprindo decisão da Casa Civil da Presidência da República, que concedeu autorização para a Copa América no Brasil, sem público nos estádios, a Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol) ultrapassou os limites da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e do próprio governo federal, que só ficaram sabendo depois, e conseguiu a presença de sete mil convidados, ou até um pouco mais, na final Brasil x Argentina, neste sábado (10), no Maracanã.

PRESSÃO FORTE – O advogado paraguaio Alejandro Dominguez, de 49 anos, presidente da Confederação Sul-Americana de Futebol, sob forte pressão dos patrocinadores dos seus três eventos importantes, pela ordem, Copa América, Copa Libertadores e Copa Sul-Americana, tomou a iniciativa do contato com a Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro, a fim de obter autorização para que o Maracanã recebesse pelo menos 10% de sua lotação de 70 mil lugares.

NEM O PREFEITO – Não só as autoridades do governo federal nem os dirigentes da Confederação Brasileira de Futebol, mas também o prefeito do Rio, como ele próprio revelou no meio da tarde desta sexta (9), véspera do jogo, sabia que a Secretaria Municipal de Saúde havia liberado o Maracanã para os sete mil convidados, ou até um pouco mais, para a decisão da Copa América, com a exigência de que apresentem exame RT-PCR e usem máscara durante o evento.

USOU AS VACINAS – Fontes próximas ao presidente da Confederação Sul-Americana de Futebol dizem que ele usou como argumento, para conseguir 10% da liberação da capacidade do Maracanã, a doação de 20 mil doses de vacina que recebeu do laboratório chinês Sinovac, utilizando-as de acordo com seus interesses comerciais, em parceria com os patrocinadores. Alejandro Dominguez é considerado habilidoso e com muito jogo de cintura para resolver problemas.

ARGENTINOS – A mesma fonte revela que o presidente da Conmebol também sofreu pressão muito forte dos dirigentes argentinos, à frente o presidente Claudio Fabian Tapia, de 53 anos, ex-atacante e presidente da Associação do Futebol Argentino (AFA), igualmente interessado em levar seus muitos convidados ao Maracanã. Tapia pediu, e obteve, três mil ingressos e assim atenderá a todos os que sairão pela manhã, em voos fretados, de Buenos Aires ao Rio.

LIBERTADORES – Desde a decisão da Copa Libertadores 2020, que Palmeiras e Santos disputaram no Maracanã, sábado, 21 de janeiro de 2021, o presidente da Confederação Sul-Americana sentiu que não teria tanta dificuldade, mesmo em plena pandemia, de conseguir levar os convidados de seus patrocinadores ao estádio, e mais de cinco mil estiveram presentes. No toma lá dá cá, Palmeiras e mais três clubes levaram jogadores e comissões ao Paraguai para vacinação.

SEM AUTORIZAÇÃO – Não só o Palmeiras, mas o São Paulo, Atlético Mineiro e Atlético Goianiense também levaram jogadores, comissões técnicas e dirigentes, em voo fretado, para tomar a vacina na própria sede da Confederação Sul-Americana de Futebol, em Luque, cidade a 15 km da capital Assunção. As cinco mil doses de vacina não puderam entrar no Brasil, por não terem recebido autorização dos órgãos competentes, Anvisa e SUS.

BOM LEMBRAR – A Copa América 2020 seria a primeira em duas sedes, Argentina e Colômbia. Com a pandemia, a Confederação Sul-Americana de Futebol não teve outra alternativa, se não a do adiamento para 2021. A Colômbia desistiu, não só em virtude do coronavírus, mas devido aos problemas sociais, que obrigaram a Conmebol até a mudar sedes dos jogos da Libertadores, e a Argentina decidiu não sediar, em face dos problemas sanitários.

BRASIL SALVOU – Dois anos depois de ter sido sede em 2019, o Brasil atendeu o pedido da Conmebol, que, sem outra alternativa, realizou a Copa América pela segunda vez consecutiva, desde a primeira, em 1916, no mesmo país. Sem honrar o compromisso assumido com as autoridades do governo federal e passando por cima da própria CBF, a Confederação Sul-Americana vai reabrir o Maracanã com sete mil, ou até mais, convidados.

CAMINHO ABERTO – A liberação de sete mil, ou mais convites para a final da Copa América deste segundo sábado (10) de julho, deixa o caminho aberto para que o Maracanã volte a ter jogos com público na sequência do Campeonato Brasileiro. Era tudo o que o Flamengo vinha tentando há algum tempo, e vai conseguir bem antes do que esperava.