A COINCIDÊNCIA do dia (12), do mês (julho) e do dia da semana (4ª feira), reacendeu a superstição no Botafogo, 28 anos depois da chegada do carioca Paulo Autuori, técnico campeão brasileiro de 1995, com a chegada do português Bruno Lage, que assume o time na liderança do Campeonato Brasileiro de 2023, com 10 pontos de vantagem sobre o vice-líder e o terceiro colocado. Bom lembrar: Autuori era técnico do Marítimo, da Ilha da Madeira, e estava voltando de Portugal.
CARLOS MARTINS DA ROCHA – 11/11/1894 – 12/3/1981 -, campeão carioca de 1912 (goleiro); de 1935 (técnico) e de 1948, presidente, foi o precursor da superstição no Botafogo: obrigava os jogadores a tomar gemada; adotou o cachorro-mascote Biriba, branco, com o focinho preto, e mandava amarrar as cortinas da sede para o time ganhar. Carlito Rocha foi o símbolo da superstição, que outros herdaram e mantiveram em memoráveis conquistas do futebol do clube.
DOMINGO, 21 de novembro de 1948, 7ª rodada do 2º turno do Campeonato Carioca, Rua Bariri, o meia Valter fez Olaria 3 x 1 Botafogo, aos 3 minutos do 2º tempo. Carlito Rocha deu a chave do carro para o roupeiro Aloísio ir a General Severiano, “voando”, ver se as cortinas estavam amarradas. Não estavam. Aloísio amarrou, e quando voltou ao estádio, já estava 3 x 3. Cinco minutos depois, o meia Otávio fez o gol da vitória: Botafogo 4 x 3. Carlito carregou Aloísio no colo…
Carlito Rocha e Biriba: símbolos imortais de um Botafogo campeão
DOMINGO, 28 de novembro de 1948, 8ª rodada do 2º turno do Campeonato Carioca, em General Severiano, o Botafogo perdia para o Flamengo (3 x 1), no início do 2º tempo. A entrada em campo de um cão fez o árbitro inglês Allan Dewine paralisar o jogo. No reinício, Otávio, Braguinha, Pirilo e Paraguaio marcaram os gols da virada: 5 x 3. O Botafogo venceu o América (2 x 1) e voltou a ser campeão carioca depois de 11 anos, com 3 x 1 no Vasco, em 12 de dezembro de 1948.
DESDE ENTÃO, o cão branco, com focinho preto, que era do ex-zagueiro Macaé, foi adotado pelo presidente do Botafogo, e passou a entrar em campo com o time, nos braços de Carlito Rocha, que desafiou até a proibição do Vasco e entrou em São Januário com o mascote Biriba: “Ninguém me impede, nem quem estiver comigo, de entrar em lugar algum” – disse Carlito Rocha a Antonio Rodrigues Tavares, presidente do Vasco, campeão carioca de 1949.
CARLITO ROCHA criou outra superstição, a de ter um jogador do Flamengo para ser campeão, e contratou Sylvio Pirilo, do tri rubro-negro de 1942-43-44, que foi vice-artilheiro e campeão carioca de 1948 no Botafogo. Em seu primeiro campeonato no Maracanã, em 1957, o Botafogo foi buscar Servilio, lateral do 2º tri do Flamengo (1953-54-55). Em 61, Dequinha; em 62, Jadir; em 68, o ponta-direita Zequinha; em 89, o volante Vítor e em 90 o zagueiro Gonçalves.
Roberto Miranda (esq.) e Dr. Lídio Toledo
O BOTAFOGO recuperou o título carioca após 21 anos, com 1 x 0, na noite de 21 de junho de 1989. Eu estava com a seleção na cidade suíça da Basileia, e no meio da madrugada, coloquei o Dr. Lídio Toledo, emocionado, para conversar com o capitão Mauro Galvão pelo rádio. O meia Luisinho usava a camisa azul do Napoli, presente de Maradona, nas preleções de Espinosa, que quando o viu sem a camisa, cobrou. Luisinho foi buscar na sacola e vestiu. “Nunca fui supersticioso, mas no Botafogo não tinha como deixar de ser” – dizia o bom técnico gaúcho.
SÁBADO, 15 de dezembro de 1962, 151 mil torcedores na final do Carioca, 40 graus no Maracanã, Botafogo 3 x 0 Flamengo . O Botafogo jogou de manga comprida porque o roupeiro Aloísio, aluno de Carlito Rocha, “esqueceu” a camisa de manga curta, mas Nilton Santos, Rildo, Quarentinha, Amarildo, Zagalo e Garrincha, que fez dois gols e deu um show, não estavam nem aí. Valia tudo em nome da superstição e do 1º bi do Glorioso no então maior estádio do mundo.
Foto: Vítor Silva/Botafogo, site Terceiro Tempo e Blog do PC