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Metrópoles

Posso me considerar um dos privilegiados da crônica esportiva por ter visto os shows do maior ataque da história do Santos FC, primeiro brasileiro bicampeão da Libertadores e Mundial de clubes. Quando de um lado entravam Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe, e do outro, Garrincha, Didi, Quarentinha, Amarildo e Zagalo, mais da metade da seleção estava em campo. Não foram poucos os Santos x Botafogo inesquecíveis que vi em tardes e noites maravilhosas no Maracanã.

Alegra-me recordar, como saudosista de carteira assinada, o que esses notáveis fizeram. Coutinho cumpriu sua missão terrestre e passa ao plano espiritual com muita luz, como só acontece com as pessoas de bem. Revelado aos 14 anos e descoberto por Lula, técnico recordista de títulos da história do clube, Coutinho foi o melhor e o mais completo parceiro de Pelé. Uma de suas primeiras obras de arte foi a tabelinha de cabeça, do meio do campo à área do Grêmio, no antigo estádio Olímpico, em Porto Alegre, onde Coutinho deu o passe de cabeça para o gol de Lima, que acompanhava a jogada.

TÍTULOS E MAIS TÍTULOS – Além das duas Libertadores e dos dois Mundiais de clubes consecutivos, em 62-63, quando o Santos goleou o Benfica em Lisboa e o Milan no Maracanã, quantos títulos disputasse, era taça na sede. Coutinho foi seis vezes campeão paulista; cinco vezes consecutivas campeão da Taça Brasil; ganhou cinco torneios internacionais consecutivos na Costa Rica, no México e na Espanha, entre eles o Teresa Herrera, e o então famoso torneio de Paris.

457 JOGOS, 370 GOLS – No Santos, a disputa era sempre pelo segundo lugar da artilharia. Nem poderia ser diferente com Pelé em campo. Por isso, o ponta-esquerda Pepe – 750 jogos, 405 gols – diz brincando: “O maior artilheiro da história do Santos sou eu. O Pelé veio de outro planeta”, referindo-se ao mais famoso camisa 10, que marcou 1.283 gols e foi 11 anos consecutivos artilheiro do Campeonato Paulista. Coutinho é o terceiro artilheiro do Santos: 370 gols em 457 jogos.

O APELIDO – Coutinho nasceu em Piracicaba, região noroeste do estado e a 164 km de São Paulo, em 11 de junho de 1943, e foi registrado como Antônio Wilson Vieira Honório. Nas peladas do campo anexo do XV de Piracicaba, era chamado pela molecada de Cotinho. O apelido ficou, mas a letra u foi acrescentada e ficou Coutinho, o quinto maior artilheiro dos times brasileiros. Poucos se lembram, mas depois que voltou do Club Atlas, de Guadalajara (México), Coutinho jogou em 71-72 no Bangu. 

EM JANEIRO, Coutinho teve que ser internado para se recuperar de pneumonia. Diabético, pouco depois teve que amputar três dedos do pé esquerdo. Morreu ontem (11), em Santos, onde viveu a maior parte de seus dias, três meses antes de completar 76 anos. Coutinho continuará presente na memória dos que o viram em campo, alegria que tive inúmeras vezes como repórter, além de ser sempre bem atendido por ele nas entrevistas, como um dos notáveis do futebol brasileiro.

Fotos: PressFrom , Museu da Pelada , Arquivo/Santos FC ,
Guto Marchiori , Pedro Ernesto Guerra Azevedo/Santos FC , Santos TV,
Arquivo/A Tribuna de Santos , Jornal Hoje em Dia , Daily Mail , Correio 24 horas e Rodrigo Linhares