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ENTRISTECE-ME MUITO registrar a morte de Wendell, aos 74 anos, ocorrida ontem (23), no Recife, onde nasceu em 21 de novembro de 1947 e se formou como um dos bons goleiros brasileiros no Santa Cruz, bicampeão pernambucano em 69-70 e que voltaria a defender em 80-82. Wendell foi um goleiro tranquilo, incapaz de perder a calma por mais forte que fosse a pressão dos adversários.

LOGO EM SEU 1º ANO no Botafogo, em 1971, Wendell decidiu o Campeonato Brasileiro com o Atlético Mineiro, que venceu por 1 x 0, gol de Dario, na noite de 19 de dezembro, no Maracanã. Na outra trave, Renato, que com quem dividiria o gol da seleção na excursão de 73, que cobri enquanto repórter, à África e Europa. Renato foi o 1º a jogar de macacão, para evitar cortes na perna, no gramado artificial da Argélia.

WENDELL estreou na seleção, na noite da 4ª feira, 6 de junho de 73, Brasil 4 x 1 na Tunísia – Paulo Cezar (2), Valdomiro e Leivinha -, no Estádio Olímpico da capital Túnis. Seu segundo jogo foi na Europa e ele garantiu o 1 x 0, depois que Jairzinho fez o gol na antiga União Soviética, no velho Estádio Lênin, em Moscou, onde Waldir Amaral teve que comprar outro gravador porque fui furtado pelo motorista de táxi.

A PASSAGEM DE WENDELL pela seleção foi curta, mas muito boa. Dos 7 jogos, ganhou 5 e não sofreu gol em 4. Mantinha bom relacionamento com todos os companheiros, mas o mais frequente era o lateral Marinho, tratado pelo apelido de Bruxa. Quando estávamos na Suécia, onde o sol da meia noite é uma festa, Wendell riu até chorar, quando Marinho perguntou: “Esse sol é o mesmo que aparece lá no Brasil?”

WENDELL saiu do Botafogo em 77, e entrou campeão no Fluminense, terceiro brasileiro a ganhar a Teresa Herrera, depois do Vasco em 57 e do Santos em 59. O torneio era disputado desde 1946, no estádio Riazor, em La Coruña, bela cidade portuária do Noroeste da Espanha, e em 10 anos, o único campeão não espanhol foi a Lazio, de Roma, em 1950. A única final brasileira foi em 1959: Santos 4 x 1 Botafogo.

WENDELL teve atuação destacada na estreia do torneio e garantiu o 2 x 0, gols do argentino Doval, quando o Feyenoord, da escola holandesa de Cruyff, pressionou no 2º tempo tentando o empate. O Fluminense foi à final com o Dukla de Praga, que eliminou o Real Madrid, e não fez por menos: 4 x 1 no time que era base da seleção tcheca. Luis Carlos, Doval, Zezé e Marinho. O gol que Wendell sofreu foi de pênalti.

COM 1,81m, E BRAÇOS LONGOS, Wendell foi o primeiro a erguer e a jogar pro alto, na comemoração, o técnico Pinheiro, ex-zagueiro e capitão, 2º que mais vestiu e honrou a camisa tricolor, em 605 jogos: “O Pinheiro enxerga longe, conhece como poucos” – reconhecia Wendell, que integrou a comissão técnica da seleção nas Copas de 94, 98 e 2006. Taffarel, treinado por ele, postou mensagem de pesar.

WENDELL LUCENA RAMALHO, goleiro bom e tranquilo, soube cumprir bem a missão na terra. Correto, educado, de fino trato. Profissional zeloso e aplicado, buscava sempre melhorar mais a cada treino, a cada jogo. A bandeira da sede do Botafogo está a meio mastro e o minuto de silêncio será respeitado antes do jogo com o Coritiba, domingo (29), quando o Fluminense fará o mesmo, antes do Fla-Flu. 

Que Deus, do alto da sua infinita bondade, dê muita luz ao espírito de Wendell, uma das boas amizades que o futebol me proporcionou.

Fotos: Terceiro Tempo, UOL e Yahoo