O goleiro Marcial na última defesa do jogo. O zagueiro Luis Carlos (3) e o lateral Murilo (2), entre Evaldo e Escurinho, comemoram.

Neste sábado 15 de dezembro de 2018 faz 55 anos que o Fla-Flu decisivo do Campeonato Carioca de 1963 bateu o recorde mundial de público, no Maracanã, o maior estádio do mundo desde a inauguração em 16 de junho de 1950. O clássico terminou 0 x 0 e o Flamengo foi campeão, diante de 177.020 pagantes, mas há registro do público total de 194.603, alguns retirados da marquise, por PMs, por medida de segurança, de vez que não havia mais lugar. A geral teve a lotação completa de 35 mil torcedores, todos em pé, e nas arquibancadas, sentados nos últimos degraus, muitos assistiram com as pernas balançando.

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A MOEDA DA ÉPOCA era o cruzeiro. Além do recorde mundial de público, o Fla-Flu também registrou arrecadação excepcional: 57 milhões, 993 mil e 500 cruzeiros. O árbitro Claudio Magalhães, professor de educação física, era dono da Academia Guanabara, na Rua Raimundo Corrêa, em Copacabana, e seus assistentes no clássico, na época chamados de bandeirinhas, foram Gualter Portela Filho e Waldemar Meireles, todos com atuação muito boa, em jogo sem faltas graves. Os capitães foram Carlinhos, meio-campo do Flamengo, e o zagueiro Procópio, em seu primeiro ano no Fluminense, substituindo Pinheiro.

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SETE ANOS DEPOIS – O Flamengo não era campeão carioca desde o primeiro tri no Maracanã – 53-54-55 – e sua última final havia sido no ano anterior (62), que perdeu (3 x 0) para o Botafogo. Flávio Costa teve que mudar o time em 63, afastando alguns jogadores, entre eles Gerson, que se recusou a jogar a final de 62, porque queria que ele recuasse para ajudar o lateral Jordan a marcar Garrincha. O Flamengo deu razão ao técnico e meses depois vendeu o meia ao Botafogo por 150 milhões de cruzeiros!

Gérson só disputou três jogos em 63. Dos que haviam sido tricampeões em 55, foram mantidos na campanha vitoriosa de 63 o lateral-esquerdo Jordan – passista do Carnaval da Mangueira -, disputou 6 dos 24 jogos; o lateral-direito Jouber, que participou de apenas 2 jogos, e depois foi técnico, lançando vários valores jovens, e o alagoano Dida, que entrou em 13 jogos. Na primeira Copa do Mundo que o Brasil ganhou em 58, Pelé era reserva do Dida, que era o ídolo do Zico.

CAMPANHA DOS CAMPEÕES – Na época, o Campeonato Carioca era por pontos perdidos e a vitória valia dois pontos. O Flamengo foi campeão com 39 pontos – 17 vitórias, 5 empates, 2 derrotas, 46 gols a favor e 17 contra – e o artilheiro do time, Airton, chamado de Airton Beleza, fez 17 gols. Com 18, o artilheiro do campeonato foi Bianchini, do Bangu, terceiro colocado com 36 pontos. O Flamengo não sofreu gol em 13 dos 24 jogos. Uma prova do equilíbrio: o Fluminense, vice-campeão com 38 pontos, ganhou 16 jogos, empatou 6 e perdeu 2, marcando 48 gols (dois a mais que o Flamengo) e sofrendo 10 (menos 7 que o Flamengo).


O goleiro Marcial salva o Flamengo no Fla-Flu de 1963 / Jornaleiros.blogspot.com

OS CAMPEÕES – Marcial, Murilo, Ananias, Luis Carlos e Paulo Henrique; Carlinhos e Nelsinho; Espanhol, Airton, Dida (Geraldo) e Osvaldo. O lateral Murilo e o ponta Espanhol participaram de todos os 24 jogos. Ananias e Airton (23). Luis Carlos (22). Carlinhos e Nelsinho (19). O ponta Osvaldo, que era paulista, participou de 18 jogos e ganhou o apelido de Osvaldo Ponte Aérea porque assim que acabava o jogo ele saía rápido do vestiário para o Santos Dumont para pegar o primeiro avião para São Paulo…


O ponta-direita rubro-negro Espanhol passa por Altair, lateral-esquerdo tricolor
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DESPEDIDA – O Campeonato Carioca de 63 foi o último que Flávio Costa ganhou, tornando-se o primeiro técnico a conquistar oito títulos. O primeiro, em 1939 – 16 vitórias, 4 empates, 4 derrotas, 67 gols pró, 34 contra -, tendo como artilheiro, com 13, o argentino Alfredo Gonzalez, que disputou todos os 24 jogos, e 27 anos depois seria o técnico do Bangu, campeão carioca de 66.

Técnico Alfredo González / Gazeta Press

FLÁVIO COSTA – Foi o técnico do primeiro tricampeonato do Flamengo, em 42-43-44. Em 42, com 20 vitórias, 5 empates, 2 derrotas, 67 gols a favor e 29 contra, com o artilheiro Pirilo marcando 22. Em 43, com 11 vitórias, 6 empates, 1 derrota, 51 gols pró e 18 contra, com o artilheiro Perácio marcando 14. Em 44, com 13 vitórias, 2 empates, 3 derrotas, 50 gols a favor, 18 contra, com o artilheiro Pirilo fazendo 13 gols. Foram destaques do tri: Domingos da Guia, Biguá, Bria e Jaime, Zizinho e Pirilo.

TEMPOS DEPOIS, marcado pela perda da Copa, em 16 de julho de 1950, para o Uruguai (2 x 1, de virada), no Maracanã, Flávio Costa foi um dos maiores técnicos da história do futebol brasileiro. Além dos cinco títulos do Flamengo, foi três vezes campeão no Vasco – invicto em 47 e 49. Ganhou em 1950, na decisão com o América (2 x 1), o primeiro título carioca no Maracanã, com o artilheiro Ademir Menezes marcando 25 dos 74 gols em 17 vitórias e 3 derrotas. 


Revista do Esporte número 296 – 7 de novembro de 1964 / tardesdepacaembu.wordpress.com

DEMITIU SALDANHA – Flávio Rodrigues da Costa – 14/9/1906 – 22/11/1999 -, mineiro de Carangola, criou-se no Rio e morou anos na Rua Maia Lacerda, no Estácio. Era chamado de professor. Estudou no Colégio Militar da Tijuca, onde aprendeu a ser intransigente com a disciplina. Foi o técnico que mais dirigiu o Flamengo – 784 jogos -, desde 1934. Treinou o FC Porto (56-57 e 65-66), o Colo Colo (Chile) em 59/60, o São Paulo em 61 e seu último time foi o Bangu. Em seu último jogo, no sábado 14 de março de 1970, no estádio do Bangu, empatou (1 x 1) no amistoso com a seleção brasileira, o que resultou na demissão do técnico João Saldanha, substituído por Zagallo, menos de dois meses antes da viagem para a Copa do Mundo no México.

João Saldanha / pt.wikipedia.org

BOM LEMBRAR – Na época do Fla-Flu de 63, os técnicos ficavam sentados na escada do túnel que dava acesso ao gramado. Do lado do Fluminense, um desafeto de Flávio Costa, o paraguaio Fleitas Solich – 30/12/1900 – 24/3/1984 -, que foi o técnico do primeiro tri do Flamengo – 53/54/55 -, no Maracanã. No time do Fluminense, a estreia como profissional do recém saído juvenil Carlos Alberto (Torres), o capitão da Copa de 70, que foi para o Santos em 65. E o penúltimo ano do goleiro Castilho, o que mais vestiu a camisa tricolor (698 jogos, de 1947 a 1964, quando se despediu campeão carioca).