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Gosto de datas e algumas, de tão marcantes na minha vida profissional de repórter desde 1958, ano em que cheguei de Manaus ao Rio, não precisam de anotação. Por exemplo, o recorde mundial de pagantes (177.020), em um jogo de times da mesma cidade, o Fla-Flu do domingo, 15 de dezembro, final do Carioca de 63, Flamengo campeão com o 0 x 0, no oitavo e último título de Flávio Costa, técnico brasileiro dos mais vitoriosos.

OUTRA DATA que está na memória, em evento também no Maracanã: 13 de maio de 1959, quarta-feira. Primeiro jogo da seleção brasileira, no Brasil, onze meses depois de ganhar a Copa do Mundo, pela primeira vez, em 29 de junho de 1958, na virada (5 x 2) sobre a Suécia. De volta de seis jogos no Sul-Americano, que perdeu para a Argentina, em Buenos Aires, a seleção venceu (2 x 0) o amistoso com a Inglaterra, diante de 160 mil torcedores. Hoje, 13 de maio de 2020, faz 61 anos.

Julinho, Didi, Henrique Frade, Pelé e Canhoteiro

MUITA VAIA – Era intensa a expectativa de rever Garrincha, pela primeira vez campeão do mundo. Mas, quando o locutor Vitório Gutemberg, marcante com o bordão A Suderj informa!, apresentou a escalação e fez uma pausa,depois de dizer número 7… Ju – linho!!!, o estádio iniciou a vaia, que o obrigou a esperar cinco minutos para completar o anúncio. A seleção entrou em campo vaiada. Nunca se ouviu vaia tão longa em um jogo no Maracanã.

SETE MINUTOS – Nada além de sete minutos, o tempo de que o notável e extraordinário Julio Botelho, o Julinho, precisou para levar ao delírio os 160 mil torcedores. Lançado em diagonal por Didi, ele recebeu a bola rente à linha lateral e enfileirou quatro ingleses com seus dribles desconcertantes, antes de soltar a bomba, quase sem ângulo e sem defesa para o goleiro Hopkinson: 1 x 0. Julinho foi aplaudido de pé!

REPETECO – O Brasil continuou com o domínio e liquidou o jogo ainda no primeiro tempo. Em outra jogada primorosa, própria do seu elevado nível técnico, Julinho fez repeteco do gol que marcou, ao driblar de novo quatro marcadores e atrasar a bola da linha de fundo para Henrique Frade, artilheiro do Flamengo, fazer 2 x 0, aos 32 minutos, e levar de novo os 160 mil torcedores ao delírio. Palmas e mais palmas para Julinho!

BOM LEMBRAR – A seleção do primeiro jogo no Brasil, após ganhar a Copa do Mundo de 58, não teve quatro campeões: além de Garrincha, o apoiador Zito, do Santos, substituído por Dino Sani, do São Paulo, que só disputou os dois primeiros jogos;  Vavá, que foi para o Atlético de Madrid, entrando Henrique Frade, e Zagallo, que sentia o tornozelo.

A SELEÇÃO do Brasil, no jogo da mais longa vaia do Maracanã: Gilmar (Corinthians), Djalma Santos (Portuguesa de Desportos), Bellini (Vasco), Orlando (Vasco) e Nilton Santos (Botafogo); Dino Sani (São Paulo) e Didi (Botafogo); Julinho (Palmeiras), Henrique Frade (Flamengo), Pelé (Santos) e Canhoteiro (São Paulo).  Técnico – Vicente Ítalo Feola. Brasil 2 x 0 Inglaterra foi apitado pelo argentino Juan Brozzi, que marcou 14 faltas (8 do Brasil).

O TÍTULO E O GOL DA COPA

Personagem da maior vaia a um jogador na história de 70 anos do Maracanã, Julinho tinha 29 anos, nascido em 29 de julho de 1929, na Penha, bairro da zona leste da capital de São Paulo, onde morreu de ataque cardíaco em 10 de janeiro de 2003, aos 73 anos. Não passou em teste do Corinthians e foi para a Portuguesa de Desportos, que defendeu de 51 a 54, com 101 gols em 191 jogos.

QUATRO GOLS – Julinho foi o destaque do jogo de 10 gols na vitória (7 x 3) da Portuguesa sobre o Corínthians, em 25/11/1951, no Pacaembu. Ele deu um show e fez quatro gols! Em 52 foi campeão do Torneio Rio-São Paulo, feito que repetiu em 55 com a camisa da Lusa, que o vendeu por 5 mil e 500  dólares – uma fábula, na época – à Fiorentina.

MELHOR DA HISTÓRIA – Fundada em 26/8/1926, a Fiorentina esperou trinta anos para ser campeã italiana, em 1955-56, com a chegada de Julinho, o melhor jogador do campeonato, que levou o time aos dois vice-campeonatos nos anos seguintes. De 55 a 58, Julinho fez 89 jogos e 22 gols, voltando à Florença, em 96 para receber o prêmio de melhor jogador da história do clube, que em 2013 o incluiu no Hall da Fama do estádio Artemio Franchi. Com a saída de Julinho, a Fiorentina só voltou a ser campeã italiana em 68-69, segundo e último título.

ACADEMIA – Julinho voltou ao Brasil em 59 e foi supercampeão paulista pelo Palmeiras, derrotando o todo-poderoso Santos de Pelé. Em 1960, campeão brasileiro. Foi a primeira Academia, que fez a então CBD escolher o Palmeiras para representar o Brasil na festa de inauguração do Mineirão, em 7 de setembro de 1965. 3 x 0 no amistoso com o Uruguai, na única vez em sua história que a seleção brasileira foi dirigida por um estrangeiro, o argentino Nelson Filpo Nuñez.

GOL MAIS BONITO – Julinho, 1,77m, de bom porte físico, foi campeão Pan-Americano em 52 no Chile. Marcou o gol mais bonito da Copa do Mundo de 1954, na Suíça, única que disputou, em 27 de junho, no estádio Wankdorf, em Berna, onde o Brasil foi eliminado pela Hungria (4 x 2), no único jogo das 21 Copas em que o Brasil teve dois expulos: o meia Humberto, do Palmeiras, revelado no São Cristóvão, e Nilton Santos. Na seleção, Julinho fez 13 gols em 31 jogos.

RECUSOU 1958 – Julinho estava em seu último ano na Fiorentina quando recusou o convite para disputar a Copa do Mundo. Por isso, Joel, do Flamengo, outro excelente ponta-direita, foi convocado e disputou os dois primeiros jogos, com a Áustria e a Inglaterra, até Garrincha entrar no jogo com a então União Soviética, hoje Rússia. Julinho disse ao supervisor Carlos Nascimento: “Não estou jogando no Brasil e não acho justo tirar a vaga de um companheiro”.

Fotos: Folhaspress, Trivela, chumbogordo.com.br e Imortais do Futebol.