O BRASIL x CHILE da noite desta 5ª feira, 24 de março de 2022, será o 14º das eliminatórias entre as seleções, desde o domingo, 28 de fevereiro de 1954, quando Baltazar, o cabecinha de ouro, artilheiro do Corinthians, fez os gols da vitória (2 x 0), diante de 25.085 pagantes, no Estádio Nacional de Santiago.

33 ANOS DEPOIS, Brasil e Chile voltam ao Maracanã, onde se enfrentarão apenas pela 3ª vez. A 2ª foi no jogo de volta das eliminatórias de 1954, domingo, 14 de março: Brasil 1 x 0, com outro gol do santista de 26 anos, cantado na marchinha do Corinthians: “Gol de Baltazar, gol de Baltazar. Salta o cabecinha, 1 x 0 no placar”.

COMO NOS BONS TEMPOS, 112.809 pagantes, no então maior estádio do mundo. 35 anos depois, no domingo, 3 de setembro de 1989, o Maracanã recebeu ainda mais público: 141.072. Brasil e Chile estavam iguais em pontos e só um teria vaga na Copa de 90 na Itália. O Chile havia eliminado o Brasil na Copa América de 87.

COM 1 x 1 NO JOGO DE IDA, em 13 de agosto em Santiago, a tensão aumentou. Romário levou uma mordida, antes mesmo do jogo. O Chile precisava vencer; o empate classificaria o Brasil pelo saldo de gols (11 a 6). Antes da viagem ao Rio, o goleiro Roberto Rojas, aos 32 anos, teve a ideia de levar uma lâmina, no velcro das luvas, para forjar uma agressão durante o jogo.

A INTENÇÃO DE ROJAS era mostrar que o Maracanã não tinha segurança, e que a suspensão do jogo, para ser disputado depois, em campo neutro, aumentaria a chance de vitória do Chile para disputar a Copa pela 7ª vez. Aos 24 do 2º tempo, um sinalizador foi lançado por uma torcedora, e caiu perto do goleiro chileno.

O BRASIL JÁ VENCIA por 1 x 0, gol de Careca, logo aos 3 minutos. Caído e coberto pela fumaça, Rojas tirou a lâmina do velcro da luva direita, se auto cortou na testa e sangrou muito. Sete minutos depois de assisti-lo, os companheiros resolveram carregá-lo, e a seleção chilena decidiu abandonar o gramado por falta de segurança.

O ÁRBITRO ARGENTINO Juan Carlos Loustau esperou 20 minutos e relatou na súmula o abandono de campo dos chilenos. Apesar de todo o bloqueio da FIFA, funcionários do quadro móvel do estádio facilitaram minha ida ao corredor de acesso ao gramado, onde o médico Lídio Toledo, no ar, me disse: “Grande farsa”. 

A GRANDE FARSA foi descoberta pelas imagens de Ricardo Alfieri, fotógrafo da revista argentina El Gráfico, usadas pela FIFA, que baniu Roberto Rojas do futebol. Três meses depois, o então já ex-goleiro tentou reduzir a pena. Disse ter sido ajudado pelo zagueiro Fernando Astengo, e que recebeu a lâmina do médico Alejandro Koch. 

O CHILE FOI PUNIDO com afastamento da Copa de 94. Rojas foi anistiado 12 anos depois pela FIFA, em 2001, aos 44 anos. Goleiro do São Paulo de 87 a 89, foi perdoado pelo clube, onde voltou a trabalhar como técnico e treinador de goleiros de 2003 a 2006. Ele mesmo resumiu: “Foi um corte profundo na minha própria dignidade”.

 ROSINERY Mello do Nascimento, de 25 anos, carioca, solteira, autônoma, soltou o sinalizador da arquibancada, atrás do gol à direita da Tribuna de Honra. Ganhou o apelido de Fogueteira e posou nua para a edição 11 da revista Playboy. Dona de bar em São Gonçalo, teve aneurisma cerebral aos 45 anos e morreu em 4 de junho de 2011.

DOIS MESES ANTES, SEBASTIÃO LAZARONI, técnico da seleção, recuperou a Copa América, que o Brasil não ganhava há 40 anos, desde 1949, quando ainda era Campeonato Sul-Americano, com 1 x 0, gol de Romário, na decisão com o Uruguai. Detalhe: no Maracanã e na mesma data – 16 de julho -, em que o Brasil perdeu a Copa de 1950 por 2 x 1, de virada, para o Uruguai.

NO JOGO DA FOGUETEIRA, no domingo 3 de setembro de 89, no Maracanã, Lazaroni utilizou três zagueiros: Taffarel (Internacional), Aldair (Benfica), Mauro Galvão (Botafogo) e Ricardo Gomes (Benfica); Jorginho (Bayer Leverkusen), Dunga (Fiorentina), Silas (Sporting), Valdo (Benfica) depois Tita (Vasco) e Branco (Porto); Bebeto (Vasco) e Careca (Napoli).

Foto: Twitter, Trivela, youtube, Efemérides do Éfemello, UOL Esporte