Os jogadores do Fluminense se despedirão nesta terça (8) do técnico Odair Hellmann, que aceitou a proposta do Al-Wasl FC, de Dubai, e será o terceiro brasileiro, depois de Antonio Lopes e Joel Santana, a dirigir o atual nono colocado entre os catorze times do campeonato dos Emirados Árabes Unidos, que em 2011 teve em Diego Maradona o treinador mais famoso de sua história, mas que só dirigiu a equipe durante um ano, em 44 jogos, sem título, com 21 vitórias, 18 derrotas, 5 empates.

ARTILHEIRO – Odair Hellmann vai encontrar em seu novo time o brasileiro Fabio Lima, atacante de 27 anos, paraibano de Araçagi, a 67 km da capital João Pessoa, desde 2014 no Al-Wasl FC, e já naturalizado cidadão dos Emirados Árabes Unidos, com o desejo de jogar pela seleção na Copa do Mundo de 2022. Ex-Vasco e Atlético Goianiense, ele é o estrangeiro com mais jogos (220) e mais gols (145) pelo time sete vezes campeão nacional e duas vezes campeão da Copa do Presidente.

COM A SAÍDA de Odair Hellmann, que deixou o time em quinto lugar com 39 pontos em 24 jogos – 11 vitórias, 7 derrotas, 6 empates, saldo de 8 gols (34 a 26) -, assume Marcão, que já faz parte da comissão técnica, é uma solução caseira econômica e foi aprovado pelos jogadores, antes que o clube chegasse a pensar em outro técnico. Poucos se lembram: Odair Hellmann e Marcão foram volantes do Fluminense, campeão brasileiro da Série C, em 1999, dirigidos por Carlos Alberto Parreira, técnico do quarto título mundial da seleção brasileira em 1994.

DESGASTE – Odair Hellmann não esconde que já vinha sofrendo muito desgaste com a cobrança de torcedores, sobretudo dos que usam as redes sociais, que ele não aceita, e também critica: “Não há quem possa garantir que são torcedores do Fluminense nem deixar de admitir que sejam pessoas, além de mal educadas, interessadas em prejudicar o clube” – resumiu. Ele dirigiu o time em 50 jogos, com 24 vitórias, 14 derrotas, 12 empates, de 11 de dezembro de 2019 a 5 de dezembro de 2020.

CONFORTÁVEL – Apesar de muito pressionado, Hellmann saiu em boa situação do Fluminense, com a vaga na fase de grupos da Libertadores 2021, e em condições de brigar, nos 14 jogos que faltam, por uma posição final ainda melhor. Ele deixa o time com 39 pontos, só menos 1 ponto que o Grêmio, quarto colocado, e apenas a 2 pontos do Flamengo, terceiro. Ganhou a Taça Rio, foi vice-campeão carioca, saiu na primeira fase da Copa Sul-Americana, e foi à quarta fase da Copa do Brasil.

MAIS VITÓRIAS – Se os números valorizam o trabalho do profissional, é bom que se ressalte: Odair Hellmann deixou o Fluminense 1 ponto à frente de três times que estão nas quartas de final da Libertadores: Internacional, Palmeiras e Santos, e com mais uma vitória que os três (11 a 10). Bom também destacar que o Fluminense só tem menos 1 vitória que o Flamengo, terceiro colocado, com 12 vitórias, e menos duas vitórias que o vice-líder Atlético Mineiro e o líder São Paulo, com 13. 

SOBREVIVENTE – Odair Hellmann encerrou a carreira de jogador, após 13 anos, traumatizado com a maior tragédia do futebol gaúcho. Ele estava no ônibus, que na quinta-feira, 15 de janeiro de 2009, caiu de um penhasco em Canguçu, a 38 km de Pelotas, na volta de um treino do time do Brasil de Pelotas, matando três jogadores, entre eles o uruguaio Claudio Millar, ídolo e artilheiro da equipe Xavante. “Não dava para continuar jogando, foi terrível” – recorda, como se estivesse vendo a cena.

OS TÍTULOS – Antes de campeão brasileiro da Série C, em 99, com o Fluminense, Hellman foi campeão gaúcho em 97 no Internacional, jogou no América do Rio em 2004, e foi campeão brasileiro da Série C em 2005 no Clube do Remo, de Belém. Na visão dele, o futebol evoluiu, mas sem avanço acentuado em muitos fundamentos, tipo passe e chutes de meia distância. Ele se considera um treinador detalhista, exigente e que nem sempre se torna compreendido por cobrar demais do jogador.

RECORDISTA – Depois de assistente entre 2015 e 2017, quando também foi auxiliar da seleção sub-23, Hellmann tornou-se recordista como técnico do Internacional, terceiro do Brasileiro de 2018, com 122 jogos – 65 vitórias, 29 derrotas, 28 empates -, ao completar 20 meses, o que não ocorria desde o tempo de Rubens Minelli, técnico bicampeão brasileiro 75-76, e 79. Com uma ponta de orgulho, ele resume: “Tive a honra de fazer o Inter voltar à Libertadores em 2019”. Nesse mesmo ano, Hellmann levou o Inter à final da Copa do Brasil, que perdeu para o Athletico Paranaense.

OURO OLÍMPICO – Uma das grandes alegrias do agora ex-técnico do Fluminense foi a de ter integrado a comissão técnica da seleção brasileira, como assistente do técnico baiano Rogerio Micale, que ganhou pela primeira vez a medalha de ouro dos Jogos Olímpicos de 2016, vencendo a Alemanha, nos pênaltis, no Maracanã. Hellmann destaca: “Além da qualidade dos jogadores, com Neymar à frente, a união foi a maior virtude do grupo, que se fechou para ganhar o ouro olímpico”.

O NOVO TÉCNICO – Marco Aurélio de Oliveira, o Marcão, petropolitano de 48 anos, viveu sua melhor fase de jogador entre 90 e 95 no Bangu – 216 jogos, 15 gols -, e no Fluminense, de 99 a 2005 – 397 jogos, 22 gols -, tornando-se auxiliar técnico de 2014 a 2016. Ele garante que aprendeu muito, não só em campo, mas com os técnicos que o orientaram: “A teoria é tão importante quanto à prática. Uma complementa a outra”.  Sobre a sequência do Fluminense, só três palavras: “Vamos trabalhar muito”.

Foto: UOL