Só os deuses do futebol são capazes de explicar uma virada como a que o Liverpool aplicou no Barcelona. Em sã consciência, nenhum observador seria capaz de crer que o time inglês, depois de perder o jogo de ida (3 x 0), teria como reverter e chegar aos 4 x 0 no jogo de volta, após sair para o intervalo apenas com 1 x 0. Mas o Liverpool conseguiu com dois fatores decisivos: vontade e determinação. Foi um time que não acreditou em bola perdida, em momento algum do jogo, cuja recheio maior foi a emoção do início ao fim.
O GOL DA VAGA – Suposto o uso comum seja começar pelo início, vamos iniciar pelo fim, indo direto ao quarto gol, o que valeu a classificação. Um gol surreal, não pela finalização de pé direito do meia holandês Divock Origi – que abriu e fechou a goleada -, mas pela observação do lateral Alexander-Arnold, de 20 anos, dos poucos do time nascido em Liverpool. Ele se afastou da bandeira de escanteio, e quando viu que a defesa estava desatenta, voltou para bater com precisão no pé direito de Origi. Os zagueiros do Barcelona só se deram conta depois que a bola entrou no ângulo direito, com o goleiro Ter Stegen só olhando.
O INÍCIO DE TUDO – O primeiro gol, que Origi marcou logo aos sete minutos, também foi por falha do lateral Jordi Alba, que atrasou mal de cabeça e o meia Henderson, capitão do Liverpool, aproveitou para avançar e finalizar da entrada da área. No rebote do goleiro, Origi completou. O jogo parou dos 29 aos 33 porque Henderson, caído, sentiu o joelho, atingido sem maldade pelo pé de Busquets, mas voltou ao campo. Fez parte da determinação e da vontade de ganhar dos jogadores ingleses.
CINCO CHANCES – O Barcelona teve poucas, mas boas chances. A marcação do Liverpool foi dura, implacável, principalmente a do volante brasileiro Fabinho. Ainda assim, Messi conseguiu chutar duas vezes rente à trave de Alisson – titular da seleção brasileira -, que fez duas boas defesas em chutes de Suarez e Coutinho, e no último lance do primeiro tempo, em que defendeu finalização do lateral Jordi Alba. Sem o uniforme rosa-choque do jogo de ida, desta vez Alisson usou um discreto cinza.
A GRANDE ARRANCADA – Alisson fez outra boa defesa, cara a cara com Suarez, logo aos cinco do segundo tempo. Quatro minutos depois, foi a vez de outro holandês se destacar na grande arrancada do Liverpool. O atacante Georgínio Wijnaldum entrou no intervalo no lugar do lateral-esquerdo Robertson, e marcou dois gols, aos 9 e aos 11, recorde do time inglês em jogos da Champions. Fez 2 x 0 em cruzamento de Mané e 3 x 0, de cabeça, em lançamento da esquerda do canhoto suíço Shaqiri. Quando estava 3 x 0, Alisson mandou a escanteio um chute com veneno de Messi.
OS AUTORES DOS GOLS – Divock Origi, belga de 24 anos, 1,85m, destro, chegou aos 26 gols em 95 jogos pelo Liverpool, que defende desde 2015, quando do Lille, do norte da França, onde marcou 16 gols em 88 jogos, de 2012 a 2014. De 2017 a 2018 esteve emprestado no alemão Wolfsburg, sem brilho, com 7 gols em 36 jogos. De sub 15 a sub 21, chegou à seleção principal na Copa de 2014 no Brasil, onde se tornou o mais jovem belga, aos 19 anos, 2 meses e 4 dias, a marcar gol em Copa do Mundo, no 1 x 0 sobre a Rússia. Sua família é toda do Quênia, na África Oriental, e seu pai e tios também foram jogadores.
WIJNALDUM – O meia-atacante Georgínio Wijnaldum nasceu em 11/11/90, em Roterdam, a mais importante cidade portuária da Holanda, tem 28 anos,1,75m, destro, jogou em dois times holandeses importantes – Feyenoord (135 jogos, 25 gols) e PSV (154 jogos, 56 gols) – e saiu para o inglês Newcastle (40 jogos, 11 gols), que o vendeu em 2016 ao Liverpool. Com os dois nos 4 x 0 no Barcelona, chegou aos 13 gols em 137 jogos. Dois gols em dois minutos, nunca antes um jogador do Liverpool havia conseguido na Liga dos Campeões.
24 ANOS DEPOIS – O Liverpool FC volta à final da Champions League após o quinto e último título, ganho em 2004-2005, nos pênaltis (3 x 2), depois de emocionante 3 x 3 com o Milan, que chegou a fazer 3 x 0, na tarde de 25 de maio de 2005, diante de 72.059 torcedores, no estádio Ataturk, em Istambul, capital da Turquia. Os títulos anteriores foram o bi de 76-77 e 77-78, e os invictos de 80-81 e 83-84. O Liverpool foi 18 vezes campeão inglês e adota o uniforme vermelho, cor da cidade, desde 1965. Uma das mais importantes do noroeste do Reino Unido, Liverpool passou a ser mundialmente conhecida desde TheBeatles.
O LEMA DO CLUBE – Fanáticos ao extremo, os torcedores criaram o lema do clube: You’ll Never Walk Alone (Você Nunca Caminhará Sozinho”), que exibem em faixa no Anfield Road, estádio cinco estrelas, a cinco minutos do Centro da cidade, inaugurado em 28/9/1884, oito anos após a fundação do clube (3/6/1892). Após os 4 x 0 no Barcelona, todos os jogadores e a comissão técnica se abraçaram, na meia lua da área, à frente da trave onde o time conseguiu a classificação para a final.
LIVERPOOL – Alisson, Alexander-Arnold, Virgil van Djik, Matip e Robertson (Wijnaldum, intervalo); Fabinho, Henderson (cap) e James Milner; Mané, Origi (Joe Gomez, 39 do segundo tempo) e Shaqiri (Daniel Sturridge, 45 do segundo tempo). Técnico – Jurgen Klopp. O Liverpool usou uniforme vermelho.
BARCELONA – Ter Stegen, Sergi Roberto, Piquet, Lenglet e Jordi Alba; Arturo Vidal (Arthur, 29 do segundo tempo), Busquets e Rakitic (Malcom, 35 do segundo tempo); Messi (cap), Luis Suarez e Philippe Coutinho (Semedo, 15 do segundo tempo). O Barcelona usou uniforme amarelo.
CINCO CARTÕES – Árbitro de 42 anos, natural de Istambul, capital da Turquia, Cuneyt Çakir teve atuação sem falha. Aplicou dois cartões amarelos no primeiro tempo: aos 11 em Fabinho, por falta em Suarez, e aos 46 em Busquets, por falta em Fabinho. No segundo tempo, aos 7, amarelo para Rakitic, por mão na bola. Aos 20, para o zagueiro Matip, por falta em Messi, e aos 31 puniu o lateral Nelson Semedo, que puxou Mané pela camisa. Çakir é da FIFA (2006) e do grupo de elite de árbitros europeus (2010).
AJAX É O FAVORITO – Depois de ganhar (1 x 0) o jogo de ida, em Londres, o Ajax só precisa do empate na noite desta quarta (8), na Arena Johann Cruyff, com os 55 mil lugares ocupados, para decidir a Liga dos Campeões 2018-19 com o Liverpool, no sábado, 1 de junho, no Wanda Metropolitano – 68 mil lugares -, o moderno estádio do Atlético de Madrid, construído pelo Wanda Group, um dos maiores conglomerados do mundo, com sede na China. O Tottenham terá que vencer por 2 x 0. Se ganhar por 1 x 0, prorrogação e pênaltis.
Foto: PHIL NOBLE / REUTERS