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No livro de registros do futebol, há um capítulo especial que destaca a família Antunes como a que mais fez gols na história do Maracanã, no auge da imponência de maior estádio do mundo e cenário das mais belas decisões. Entre muitos, o que a técnica refinada de Edu e Antunes, o Zeca, levou ao delírio, na tarde do domingo, 29 de maio de 1967, quando se abraçaram após o gol antológico do 1 x 0 sobre o Nacional do Uruguai, sob aplausos de 90 mil torcedores. 

O repórter-fotográfico Marcelo Santos registrou nosso retorno à casa da Rua Lucinda Barbosa, em Quintino, onde dona Matilde e seu Antunes souberam criar e educar os filhos. Eduardo Antunes Coimbra, o notável Edu, maior artilheiro e ídolo de todos os tempos do América, recebeu-nos com a simpatia de sempre, recordou fatos marcantes e não deixou pergunta sem resposta. Esperamos você no canal RESENHA do youtube. Inscreva-se, veja e compartilhe.

4 x 0 NA ABERTURA – Sete anos depois do último título carioca, primeiro do novo estado da Guanabara, o América FC ganhou o Torneio Internacional Governador Negrão de Lima, com exibições primorosas. Na abertura, em 25 de maio de 1967, a ala-esquerda Edu e Eduardo dividiu os gols dos 4 x 0 no Huracan da Argentina. O cor de rosa Jornal dos Sports e os demais jornais abriram espaço para destacar a goleada e o show de bola do América e de Edu.

GOL INESQUECÍVEL – Você 212 gols, Edu. Qual foi o gol inesquecível? Edu abriu o coração: “Não foi meu, foi o gol do Zeca (como Antunes era tratado pela família), quando vencemos o Nacional do Uruguai (1 x 0). Fiz o lançamento, ele envolveu Emílio Álvarez e Manicera (zaga do Uruguai, um ano antes na Copa de 66 na Inglaterra), e tocou na saída do goleiro. O estádio se levantou para aplaudir, e quando nos abraçamos para comemorar, os aplausos pareciam dobrar (Edu mostrou arrepios no braço, ao recordar o gol inesquecível, o gol do mano Zeca, o Antunes).

TRÊS GOLS NA DECISÃO – Na final da conquista do América, que ganhou o torneio internacional mais importante do ano, a consagração de Edu, que fez os três gols nos 3 x 1 no Vasco (gol do ponta-direita goiano Luisinho). Edu jogou oito anos consecutivos no América e fez 212 gols, entre 66 e 74. Artilheiro e campeão do Rio-São Paulo de 69, Edu sofreu a falta de Gerson, do Fluminense, na final da Taça Guanabara de 74, convertida pelo lateral Orlando no gol do título. 

NOVAS CONQUISTAS – Predestinado a vitórias e títulos, Edu acumulou novas conquistas ao sair do América. Campeão baiano de 75 no Bahia, tornou-se ídolo da torcida. Artilheiro do Campeonato Paranaense de 75 e 78 no Paraná Clube, também saiu idolatrado, como foi, no mesmo ano, no Joinvile, campeão catarinense de 78. A carreira terminou na Zona Oeste do Rio, ainda brilhando no Campo Grande AC, o Campusca, em 80 e 81.

FLAMENGO 75-76 – Edu destaca o trabalho de Carlos Fronner, técnico gaúcho que o dirigiu em duas temporadas no Flamengo: “Passava a impressão de ser durão, mas era uma pessoa doce, amável, que sabia tratar bem a quem comandava. Aprendi boas lições com ele, uma delas a de que técnico ganha jogo, sim”. Bem-sucedido também como treinador, Edu ganhou a Taça Rio de 82 com o América, a Taça Rio e o vice Brasileiro de 84 com o Vasco. Foi campeão catarinense de 87 com o Joinvile e paranaense de 89 com o Coritiba.

A MÁGOA DE 70 – Edu teve irmão preso pela ditadura da revolução de 64 e não tem dúvida de que deixou de ser convocado para a Copa de 70 por influência dos militares, que mandavam na seleção. E relembra: “Eu estava no melhor da minha forma e não iria disputar posição com Pelé, Tostão e Rivelino. A vaga teria que ser disputada com o Dario, que era bom jogador, artilheiro, mas o meu momento era melhor que o dele. Essa mágoa o tempo não vai apagar nunca”.

EDU FOI TÉCNICO da seleção em três amistosos em 84: com a Inglaterra (2 x 0), no Maracanã; com a Argentina (0 x 0), em São Paulo, e com o Uruguai (1 x 0), em Curitiba. Dirigiu a seleção do Iraque (86); o Barcelona do Equador (88); campeão carioca no Botafogo em 90; o Vera Cruz do México (91); o Sport Boys do Peru, e o Kashima (95). Em parceria com o irmão caçula, Zico, assistente técnico da seleção do Japão; do Fenerbahçe, Bunyodkor, CSKA Moscou, Olympiakos e em 2011 a volta à seleção do Iraque.

– Garrincha ou Pelé?
– Os dois. É injusto citar um e não falar do outro. Gênios.

Cruyff, Beckenbauer, Maradona, Messi, qual foi o melhor dos estrangeiros?
– Esses aí são figurinhas carimbadas. Entre os bons, sem poder separar um e dizer quem é o melhor, gostava muito daquele zagueiro Ruud Krol, da Holanda, vice-campeã do mundo em 74 e 78. Jogava muito.

– Um jogador diferenciado que você viu?
– Vermelho, um meia do Bangu. Foi o único que vi bater corner de letra. E sempre bem.

A Copa de 2022 volta a ser nossa ou serão cinco Copas sem Copa?
– A Eurocopa que a Itália ganhou mostrou que precisamos dar uma melhorada. 

Aprendeu mais jogando ou com os técnicos?
– Das duas maneiras. É praticamente impossível não ligar a teoria à prática. Tive bons técnicos, que me passaram excelentes orientações. Um deles foi Lourival Lorenzi, que me lançou no time profissional do América.

– Embora tenha contratado uma técnica sueca para a seleção feminina, a CBF não admite técnico estrangeiro na seleção masculina. O que você pensa?
– Não vejo nada de mais que um técnico estrangeiro assuma a seleção brasileira. Vários brasileiros já dirigiram seleções estrangeiras em Copa do Mundo, entre eles, Zico e eu como assistente. Se for competente, por que não?

Antunes, Nando, você e Zico, o mais novo, todos jogaram muita bola. Como era o relacionamento?
– De irmão pra irmão, um torcendo muito pelo sucesso do outro, sem que nunca tenha havido qualquer problema. Assim fomos criados e assim nos mantemos. Não vai mudar nunca.