Sinto-me feliz e alegre em registrar o aniversário de 95 anos que Nilton Santos completaria hoje, sábado, 16 de maio de 2020. É uma homenagem simples, mas que presto com emoção a um dos notáveis do futebol. Ele honrou muito a camisa do Botafogo e da seleção, titular em todos os doze jogos das duas primeiras Copas do Mundo que o Brasil ganhou.

OS TRÊS GOLS – Nilton Santos só fez 3 gols em 85 jogos pela seleção. O primeiro, na estreia, em 27/3/53, na derrota (2 x 1) para o Paraguai, no estádio Nacional de Lima, Peru, no Sul-Americano, hoje Copa América. O último, por coincidência em jogo com o Paraguai, em 21/4/62, diante de 95 mil torcedores, nos 6 x 0, pela Taça Oswaldo Cruz.

ÚNICO EM COPA – Nilton Santos foi titular da seleção nas Copas de 54, 58 e 62, embora convocado, aos 25 anos, para a de 1950, no Brasil, como reserva de Nena, gaúcho da Portuguesa de Desportos. Seu único gol pela seleção foi o terceiro, dos 3 x 0 na Áustria, na estreia da Copa de 58, em 8 de junho, no estádio de Udevalla, município do Sul da Suécia.

Nilton Santos, capitão, na entrada das seleções para o amistoso Inglaterra 4 x 2 Brasil, em 9 de maio de 1956, no antigo Estádio Imperial de Wembley, que recebeu 97 mil torcedores. Atrás dele, o goleiro Gilmar, e ao lado Billy Wright, maior capitão inglês de todas as épocas.

16 TÍTULOS – Dos 85 jogos com Nilton Santos, a seleção ganhou 64, empatou 10 e perdeu 11. Nilton Santos campeão: Sul-Americano (1949). Copa Rio Branco (1950), Taça Oswaldo Cruz (50, 55, 56, 58, 61, 61). Pan-Americano (1952). Taça Bernardo O’Higgins (55, 59, 61). Taça do Atlântico (56, 60) e as Copas do Mundo (58, 62).

GOL HISTÓRICO – Quatro vezes campeão carioca – 48, 57, 61, 62 -, Nilton Santos só não disputou três dos 91 jogos. O único gol que marcou, em 88 jogos dos quatro títulos, foi o do 1 x 0 sobre o América, aos 20 do primeiro tempo, na tarde de 17 de setembro, no estádio de General Severiano, pela penúltima rodada do campeonato de 1948.

ÚNICO INVICTO – O Botafogo ganhou 19 vezes o título carioca, nenhum invicto. Mas, Nilton Santos, sim, é o único de todos os jogadores da história do Glorioso, campeão invicto. E logo no seu primeiro ano como titular. O Botafogo só perdeu (4 x 0) no campeonato de 48, para o São Cristóvão, mas ele jogou na preliminar, pelo time de aspirantes, e ganhou 2 x 1.

Nilton Santos no lance do seu único gol em Copa do Mundo, o terceiro dos 3 x 0 na Áustria, na estreia, em 8 de junho de 1958, no estádio de Udevella, no Sul da Suécia. Ao fundo, Mazzola, autor dos dois primeiros gols.

NO MARACANÃ – Só em 1957, no primeiro título carioca no Maracanã, Nilton Santos participou de todos os jogos da campanha (19), em que o time, dirigido por João Saldanha, teve saldo de 43 gols (64 x 21) em 22 jogos, mais do que marcaram sete das 12 equipes do campeonato! As duas únicas derrotas: 3 x 1 para o América, 3 x 0 para o Vasco.

MINUTO FINAL – Ditado antigo no futebol: há coisas que só acontecem ao Botafogo. Foi o que houve em 1961, campeão com três rodadas de antecipação e poderia ter sido invicto. Na única derrota – 2 x 1 para o América -, perdeu no minuto final com gol contra de Zé Maria, parceiro de Nilton Santos, já então zagueiro, com Chicão ou Rildo na lateral.

MUITO FÁCIL – O campeonato de 1961 foi tão fácil, que o Botafogo saiu para amistosos no Brasil e no exterior. Na mesma rodada em que o Botafogo perdeu a chance de ser campeão invicto, ganhou o título faltando três rodadas porque o Vasco perdeu (2 x 1) para o Olaria. A torcida levou faixa para o Maracanã: “Nunca foi tão fácil”.

NILTON SANTOS foi como técnico, mas não resistiu ao apelo, e entrou um tempo em cada jogo, exibindo a velha categoria. O governador Danilo Areosa, ao lado do presidente da FAF, Flaviano Limongi, entrou em campo e se disse emocionado ao apertar a mão de Nilton Santos: “Parabéns! O futebol brasileiro tem um dever de gratidão com você, Nilton“.

SHOW DE 62 – No bicampeonato, último título de Nilton Santos, em 62, o Botafogo deu mais um show, com os 3 x 0 na final com o Flamengo, dois gols de Garrincha, que fez sua última grande exibição. Didi saiu para o Sporting Cristal do Peru e o técnico Marinho Rodrigues lançou Arlindo, pouco depois vendido para o América do México.

RELAXADO – Nilton Santos não era de muita conversa, mas, quando preciso, falava grosso. A facilidade do título de 61 fez do Botafogo um time relaxado no início de 62. Perdeu na estreia para o recém promovido Campo Grande (1 x 0), no Maracanã, e Nilton Santos pagou geral. A outra derrota foi para o Vasco, também por 1 x 0. 

17. 4 EM BRANCO – De 1948 a 1964, Nilton Santos fez 723 jogos, e assinou em branco, quatro dos dezessete contratos. Certa vez, ele me contou: “Alguns companheiros não gostavam de mim porque eu não exigia do clube, enquanto eles só pensavam em dinheiro. Eu jogava porque sentia prazer e gostava do Botafogo, tanto que nunca quis sair.

ÚNICA EXIGÊNCIA – Em Palmas, quando me convidou para a festa de inauguração do estádio com seu nome, na capital do Tocantins, Nilton Santos me disse: “Sabe qual foi a única exigência que fiz ao Botafogo? Que contratasse o Garrincha. No primeiro treino ele acabou comigo. Presidente, quero esse cara no meu time, não contra

A ALEGRIA – Nilton Santos falava pausado e baixo, quase sempre rindo. As maiores alegrias dele foram a de nunca ter perdido uma decisão: “Ganhei do Vasco, que era o Expresso da Vitória, em 48, no meu primeiro título; depois os 6 x 2 no teu Fluminense, maior placar de uma final no Maracanã, em 57, e o chocolate de 3 x 0 no Flamengo em 62.

BOLA DE OURO – Nilton Santos me contou que o jogo de despedida do Botafogo, em 64, com 1 x 0 no Flamengo, gol de Roberto, foi marcante: “Foi a única vez que ganhei uma Bola de Ouro, que o Carlinhos, capitão do Flamengo, me entregou antes do jogo. Uma lembrança que me tocou muito, vindo do nosso maior adversário“.

GOL DO MAJOR – Nilton Santos nasceu em uma pequena vila de pescadores, sem luz elétrica, na Ilha do Governador, bairro da Zona Norte do Rio. Aos 12 anos, iniciou no  Flecheiras, e quando foi servir na Aeronáutica, já bom de bola, era o único soldado no time dos oficiais, com regalias: um passe para o major fazer um gol, dois dias de folga…

AS GEMADAS – Foi o major Olímpio quem o indicou ao presidente Carlito Rocha, que obrigava os jogadores do time campeão de 48 a tomar gemada três vezes por semana. Carlito ganhou um cachorro, que apelidou de Biriba, e entrava em campo com ele nos jogos: “O homem era cheio de superstições” – contava Nilton Santos.

FUSQUINHA – Quando foi convocado pela primeira vez para a seleção, em 1949, Nilton Santos andava de bonde. O primeiro carro que comprou foi um fusquinha, depois de ser bicampeão do mundo em 62… Algumas vezes, quando morava em Copacabana, ia a pé e atravessava o túnel novo para chegar ao treino em General Severiano…

POLICIAL – Nilton Santos ganhava 7 mil cruzeiros – hoje, 2 mil reais – e quando o Botafogo lhe deu um prêmio de 30 mil cruzeiros, ele colocou as notas nos bolsos da calça e saiu andando para casa. Ao lado dele, um policial fardado, chamado pelo diretor José Brandão Filho, que era delegado de polícia…

ESTÁTUA – Nilton Santos tem estátua em tamanho natural, com o pé direito sobre a bola, na frente do estádio com seu nome, no Engenho de Dentro, bairro da Zona Norte do Rio. Foi inaugurado com a capacidade máxima – 43.810 lugares – em Botafogo 2 x 1 Fluminense, no domingo, 30 de junho de 2007, pelo Campeonato Brasileiro. 

O RÁDIO – Na Copa de 58, Garrincha queria porque queria ouvir notícias do Brasil e reclamava todo dia de não ter um rádio. Didi, que era gozador, aproveitou uma folga e comprou um dos primeiros portáteis da época. Vendeu pelo dobro a Garrincha, dizendo que as pilhas eram um presente. Nilton Santos fez Didi devolver o dinheiro depois que Garrincha falou: “Não entendo nada do que ouço”… O rádio, claro, era com programas das rádios em sueco…

MANAUS – Nilton Santos sabia que eu sou amazonense e sempre me perguntava: “Como está a terrinha?” Em 1968, perguntei se queria conhecer, e ele aceitou na hora. Reuni um grupo de amigos – Vavá, bicampeão mundial, Ubirajara Mota, Moreira, Carlos Roberto e outros- para dois jogos com o Nacional, no estádio da Colina, no bairro de São Raimundo. 

AS TIRADAS – Nilton Santos era bom observador e de quando em vez lançava suas tiradas. Certa vez, ele me disse assim: “Você já pensou em uma coisa nos times do Rio?” Como demorei um pouco enquanto tentava descobrir, ele completou: “O Flamengo é na Gávea. O Fluminense é nas Laranjeiras. O Vasco é em São Januário. Só o Botafogo é em Botafogo”…

A ENCICLOPÉDIA – Em um de seus comentários, o botafoguense Luiz Mendes chamou Nilton Santos de A Enciclopédia, que resume o conhecimento de tudo. E assim o craque passou a ser chamado, embora sua timidez fosse muito acentuada e seu sorriso bem tímido. Nilton Santos nasceu em 16/5/1925 e morreu do mal de Alzheimer e com infecção pulmonar, em 27/11/2013, na Fundação Bela Lopes, em Botafogo. O clube pagou as despesas médicas e o enterro no São João Batista.

Fotos: Wikipédia, O curioso do futebol, Fogaonet, Pinterest, getty images, Ana Ramalho.