O Flamengo pagará R$1 milhão pela rescisão do contrato de Rogério Ceni, que se despediu com emoção dos jogadores do Fortaleza, na noite de ontem (9), durante a ceia, e nesta terça (10) chega ao Rio para ser apresentado e dirigir o único treino, na véspera do primeiro jogo das quartas de final da Copa do Brasil, amanhã (11), no Maracanã, com o São Paulo, único time em que jogou 25 anos ininterruptos, como o maior goleiro artilheiro da história do futebol mundial.

TERCEIRO – O Flamengo é o terceiro time de ponta de Rogério Ceni, depois do São Paulo em 37 jogos – 14 vitórias, 13 empates, 10 derrotas -, entre 19 de janeiro e 2 de julho de 2017 -, demitido (quanta ironia!) após perder (2 x 0, Guerrero e Diego) para o Flamengo, no Maracanã, pelo Brasileiro, e do Cruzeiro, em 2020, demitido antes de completar dois meses, após cinco jogos sem vitória e desentendimentos com vários jogadores, especialmente com o meia Tiago Neves.

COPA FLÓRIDA – Depois da Copa América Centenário, em que foi assistente do técnico Dunga na seleção brasileira, em 2016, Rogério Ceni foi apresentado aos jogadores do São Paulo como novo técnico em 8 de dezembro, mas só assumiu após as férias, e dirigiu o primeiro jogo na estreia da Copa América, em 19 de janeiro, com o River Plate (0 x 0 e São Paulo 8 x 7 nos pênaltis). Ganhou o torneio na decisão com o Corinthians (0 x 0 e 4 x 3 nos pênaltis). Seu único título como técnico do São Paulo.

FORTALEZA – Rogério Ceni assinou em novembro de 2017 para iniciar o trabalho em janeiro de 2018, ano do centenário do clube, e perdeu a decisão do campeonato para o Ceará. O time se recuperou na Série B, foi campeão com duas rodadas de antecedência, e ele renovou o contrato para 2019, outro bom ano. O Fortaleza deu o troco no Ceará e ganhou os dois jogos das finais do campeonato e a seguir foi campeão da Copa do Nordeste, com dois 1 x 0 no Botafogo da Paraíba. 

BOLA E BANCO – Aquariano de 22 de janeiro de 1973, Rogério Ceni nasceu em Pato Branco, no Sudoeste do Paraná, a 438 km da capital Curitiba, mas foi criado em Sinop, no Norte do Mato Grosso, a 505 km da capital Cuiabá, onde até hoje mora parte de sua família. Revelado no Sinop FC, foi do time que ganhou o primeiro dos três campeonatos mato-grossenses, em 1990, quando ele ainda se dividia entre o futebol e o Banco do Brasil, seu primeiro emprego, aos 17 anos.

A ESTREIA – No Sinop, Rogério Ceni jogou de 87 a 90, ano em que disputou com o Cáceres (hoje Cacerense) o primeiro jogo como profissional, dia 15 de abril. Assinou o primeiro contrato com o São Paulo, em 7 de setembro de 90, e em 20 de agosto de 92, no 0 x 0 em Campinas com o Guarani, Telê Santana o colocou na reserva de Zetti, a quem cita sempre como sua referência. Em 93 voltou aos juniores e ganhou em janeiro a Copa São Paulo.

ANOS DE OURO – Em 25 de junho de 93, na estreia como profissional do São Paulo, Rogério Ceni ganhou o Torneio Santiago de Compostela e defendeu um pênalti nos 4 x 1 da final com o Tenerife. Só em 96, com a saída de Zetti para o Santos, passou a ser o titular. Em 2005 foi campeão paulista, da Libertadores e do Mundial de clubes, e em 2006 ganhou os prêmios de melhor goleiro e melhor jogador do Brasileiro, em noite de uma linda festa no Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Em 2007, mais três prêmios: os de Melhor Goleiro, Craque do Brasileiro e Craque da Torcida.

O CARINHO – Maior ídolo da história do clube, titular de 1997 a 2015, em 1.327 jogos e com 131 – 61 de falta, 69 de pênalti e 1 com bola rolando -, Rogério detém marcas e recordes impressionantes, que levaram os torcedores a criar uma faixa que o emociona: “Todos têm goleiro, só nós temos Rogério Ceni”. Campeão paulista 98/2000/2005, campeão brasileiro 2006/07/08, campeão da Libertadores 93/2005 e campeão mundial de clubes em 2005.

700 JOGOS – Rogério Ceni bateu o recorde mundial como capitão de um só time, em 28 de outubro de 2010, em São Paulo 2 x 1 Athletico Paranaense, ao completar 700 jogos. Ele já era o capitão desde 1999. Em 22 de maio de 2011, na abertura do Campeonato Brasileiro, Fluminense 0 x 2 São Paulo, tornou-se o jogador do clube com mais minutos consecutivos em campo: 8.786. Em 16 de outubro de 2012, São Paulo 2 x 0 Figueirense, não conteve a emoção ao completar 500 jogos.

OUTROS RECORDES –  Em 1 de setembro de 2007, São Paulo 6 x 0 Paraná, Rogério Ceni superou Valdir Peres, que em 1963 havia ficado 694 minutos sem sofrer gol, ao completar 990 minutos. Em 23 de janeiro de 2013, em São Paulo 5 x 0 Bolívar, no Morumbi, tornou-se recordista de jogos do time na Libertadores, com 83, superando Manga, goleiro do Internacional e do Nacional do Uruguai, com 82. Em 19 de agosto de 2009, em São Paulo 1 x 0 Fluminense, o recorde de 370 jogos no Brasileiro. Zinho, no Palmeiras, Flamengo e Cruzeiro, havia feito 369.

OUTROS MAIS – Campeão brasileiro em 2006, Rogério Ceni passou a ser o jogador do São Paulo com mais títulos (14), superando o zagueiro Ronaldão e o atacante Muller, com 13. Em 27 de julho de 2005, com 618 jogos com a camisa do São Paulo bateu o recorde de 617 jogos de Valdir Peres. Em 22 de julho de 2007, em Cruzeiro 1 x 2 São Paulo, Rogério Ceni completou 309 jogos, novo recorde do Campeonato Brasileiro, superando Roberto Dinamite com 308.

NA SELEÇÃO – Rogério Ceni, campeão do mundo em 2002 – última Copa que o Brasil ganhou -, fez 17 jogos pela seleção, e no único que disputou no primeiro Mundial na Ásia e em dois países (Japão e Coreia do Sul), quebrou tabu de 40 anos, ao substituir Dida, aos 36 do segundo tempo, nos 4 x 1 sobre o Japão. A seleção só havia escalado dois goleiros na Copa de 1966, na Inglaterra: Gilmar, nos jogos com Bulgária e Hungria, e Manga, no jogo com Portugal.

REI PELÉ – Ao completar 1.237 jogos pelo São Paulo, Rogério Ceni bateu o recorde do Rei Pelé, que fez 1.116 jogos pelo Santos, casos raros de jogadores que só vestiram uma camisa no Brasil. Rogério Ceni superou também o zagueiro norte-irlandês Noel Bailie, recordista europeu, com 1.014 jogos pelo Linfield United. Rogerio Ceni é o recordista de vitórias pelo mesmo time, com 601, superando o ponta Ryan Giggs, com 589, recordista do inglês Manchester United.

A DESPEDIDA – O último jogo de Rogério Ceni foi na Vila Belmiro – Santos 3 x 1 São Paulo -, em 28 de outubro de 2015, e o jogo de despedida, em noite emocionante, com 95 mil torcedores no Morumbi, em 11 de dezembro de 2015, em jogo entre os bicampeões 92-93 e os campeões 2005 (time em que jogou). No intervalo, a banda IRA! fez show e ele cantou Envelheço na Cidade, junto com o vocalista Nasi.

O DELÍRIO – Logo depois de cantar, Rogério Ceni pediu silêncio aos 95 mil torcedores, que o atenderam, para dizer: “Gostaria que quando eu morresse, fosse cremado, e as minhas cinzas fossem jogadas aqui no Morumbi para que eu possa sempre lembrar do que aconteceu”.  A multidão foi ao delírio.

M1TO E MÚSICA – Os torcedores criaram M1TO, substituindo a letra pelo número da camisa de Rogério Ceni. Pai de Clara e Beatriz, gêmeas de 16 anos, e de Henrique, de 8 anos, Rogério Ceni é superfã do tenista suíço Roger Federer, recordista mundial de títulos de Grand Slam, e de shows de música. Gosta muito de Roger Waters, baixista e vocalista da banda inglesa de rock Pink Floyd, como também de Scorpions, Meat Loaf, AC/DC e Dire Straits.

ROGÉRIO CENI foi homenageado em 2008 com a música Número 1, pela Dr.Sin, a maior banda brasileira de Hard Rock, formada em 1991 por Eduardo Ardanuy e pelos irmãos Ivan e Andria Busic, filhos do trompetista de jazz André Busic. Todos, fanáticos pelo São Paulo, exclusivamente por causa deles, que o tratam como Ídolo Maior, Ídolo de Sempre, o eterno M1TO.

Foto: Yahoo Esportes