A MORTE DE NELSINHO entristece os que conviveram com um profissional correto, competente e educado. Em cinco temporadas consecutivas, quando o 4-2-4 era o sistema mais usado, Nelsinho, com a 8, e Carlinhos, com a 5, formaram o meio-campo mais técnico dos anos 60, campeões cariocas de 63 e 65 (ano do IV Centenário do Rio), e vice-campeões de 62 e 66. Enquanto repórter de rádio, tive a alegria de vê-los e de entrevistá-los, após atuações notáveis do Flamengo.
NELSON ROSA MARTINS, carioca nascido na 4ª feira, 8 de dezembro de 1937, era um sagitariano tranquilo, de fala mansa, que me disse certa vez: “O técnico não tem o direito de gritar com o jogador. Aprendi enquanto jogava, com Armando Renganeschi, meu técnico, quando fomos campeões em 65. Era um argentino que se vestia bem, conhecia todos os segredos da bola e me ensinou muito”. (Renganeschi foi zagueiro campeão carioca de 1941 no Fluminense).
NELSINHO só jogou um ano no juvenil do Madureira, em 61, saindo para o Flamengo, quando assinou o primeiro contrato, em 62,, a pedido do técnico Flávio Costa, dos primeiros a ser chamado de professor. Nelsinho o admirava: “O Flávio era linha-dura, não abria mão da disciplina. Nas preleções, ele mostrava saber tudo sobre o adversário e nos orientava a explorar as falhas. Durante meu tempo de técnico, apliquei muito do que aprendi com ele”.
O 1º TÍTULO CARIOCA de Nelsinho como técnico foI em 1980, no Fluminense, já no 4-3-3, com uma equipe de garotos: Paulo Goulart, Edevaldo, Tadeu, Edinho e Rubens Galaxe; Delei, Gilberto e Mario; Robertinho, Claudio Adão e Zezé, que ganhou 12 dos 24 jogos, com saldo de 18 gols (43 a 28), e teve em Claudio Adão o artilheiro com 20. Na final, 1 x 0 no Vasco, gol de Edinho de falta: “Foi uma das equipes mais técnicas e velozes que dirigi” – resumiu.
NELSINHO foi o técnico do único tri do Fluminense no Maracanã, na virada sobre o Bangu por 2 x 1, em 85. O time-base ganhou 15 dos 24 jogos e teve saldo de 20 gols (32 a 12): Paulo Victor, Aldo, Vica, Ricardo Gomes e Branco; Jandir, Delei e Renê; Romerito, Washinton e Tato (Paulinho, que fez o gol do título em cobrança de falta). “Era uma equipe mais experiente, que Claudio Garcia e Carbone, em 83, e Luis Henrique e Carlos Alberto Torres, em 84, trabalharam bem.”
No tempo em que os campeões recebiam faixa, Nelsinho, entre o médicoClovis Munhoz e o preparador físico Ademar Braga.
O VASCO só havia sido campeão brasileiro em 74, com Mario Travaglini, bom técnico paulista, e Nelsinho quebrou o jejum 15 anos, ao vencer a final de 89 com o São Paulo, no sábado, 16 de dezembro, no Morumbi: 1 x 0. O lateral Winck cruzou e Sorato fez de cabeça, sem chance de defesa para o goleiro Gilmar Rinaldi. O time: Acácio, Winck, Quiñonez, Marco Aurelio e Mazinho; Zé do Carmo, Marco Antonio Boiadeiro e Bismarck; Sorato, Bebeto e William.
NELSINHO morreu ontem (16), aos 85 anos, depois de sete meses internado em um hospital da Tijuca, bairro da Zona Norte do Rio. Que Deus dê muita luz ao seu espírito.
Fotos: Terceiro Tempo e O Explorador