ROBERTO DINAMITE, o artilheiro dos artilheiros, tem histórias e recordes de 190 gols no Campeonato Brasileiro, campeão em 1974; de 279 gols no Campeonato Carioca, campeão em 77, 82, 87-88, 92; de 708 gols como maior artilheiro do Vasco, com 184 só em São Januário; de 1.110 jogos com a camisa do mesmo clube, e de 36 gols por temporada nos 22 anos de carreira, 21 no Vasco, clube de formação e do coração.

A VOCAÇÃO DO GOL começou logo no primeiro ano como juvenil, artilheiro do time com 10 gols no Carioca de 70, e em 71, campeão e artilheiro do campeonato, com 16 gols. Revelação do campeonato de 71, Roberto estreou como profissional no domingo, 14 de novembro de 71. Entrou no lugar do meia Pastoril, no intervalo, quando o Vasco já perdia por 1 x 0 para o Bahia, na Fonte Nova. 

ROBERTO MARCOU O 1º GOL COMO PROFISSIONAL, em seu terceiro jogo, na noite da 5ª feira, 25 de novembro de 71. Entrou no intervalo, quando o Vasco já vencia o Internacional por 1 x 0 e fez o 2º gol (Vasco 2 x 0): “Driblei o zagueiro Pontes e bati forte da entrada da área”, lembrando também a manchete do dia seguinte do Jornal dos Sports: “Garoto Dinamite explodiu no Maracanã”.

O APELIDO DINAMITE foi criado pelo jornalista Aparício Pires, com quem trabalhei na Última Hora, em 62, na Rua Sotero dos Reis, na Praça da Bandeira. Era um vascaíno bem-acostumado pelas grandes vitórias e shows de bola do fabuloso Expresso da Vitória, cinco vezes campeão carioca, de 45 a 52, com Barbosa, Danilo, Maneca, Ipojucan, o artilheiro Ademir Marques de Menezes e outros notáveis da história.

ROBERTO FOI LANÇADO titular pelo carioca Admildo Chirol, um ano antes preparador fisico da seleção campeã do mundo de 70, e consolidado em 74 pelo paulista Mario Travaglini, técnico do 1º título brasileiro do Vasco: “Foram dois treinadores importantes na minha carreira” – relembra, ao citar também o mineiro Orlando Fantoni, campeão carioca de 77, e o carioca Antonio Lopes, campeão carioca de 82.

DINAMITE ganhou os outros três títulos cariocas com dois técnicos: o de 87, com Joel Santana, que saiu durante a campanha para faturar alto no mundo árabe, e Sebastião Lazaroni, recém-saído do Flamengo. Lazaroni comandou o bi em 88 e Joel voltou em 92, no último título carioca de Roberto: “Dois treinadores observadores e inteligentes, que me ensinaram muito”.

ROBERTO NASCEU às 4:30 da manhã da 3ª feira, 13 de abril de 54, no bairro São Bento, em Duque de Caxias. Aos 12 anos já se destacava no time do EC São Bento, mas os garotos diziam que era fominha: “Ele fica pedindo a bola o tempo todo, mas não devolve”. Gradim, que fazia observações para o Vasco, levou-o a Celio de Souza, seu primeiro técnico: “Seu Celio me orientou sempre bem e devo também muito a ele”.

ROBERTO DESTACA a importância dos pais, José Maia e Neuza: “Devo tudo a eles, não só pelo que fui como jogador, mas pelo que sou como homem”. Neuza, a mãe, morava no Parque Lafaiete, e pedia ao goleiro José, do São Bento, que deixasse a bola entrar. Foi aí que começou o namoro. Dinamite lembra de outra história, contada pelo pai, que não chegou a ser um Moacyr Barbosa, mas era bom goleiro.

O SÃO BENTO estava ganhando de 2 x 0 do Pau Grande, time do Garrincha, que perdeu o trem e só chegou para o 2º tempo: “Aí já viu, né. O Pau Grande deu um show de bola e ganhou de 5 x 2” – recorda Roberto, com o sorriso de sempre, e dizendo que foi uma das boas histórias que ouviu do pai José Maia: “Ele contava e pedia para que todos acreditassem, o que nem era preciso em se tratando do Garrincha”.

NA SELEÇÃO – 47 jogos, 25 gols, 28 vitórias -, ROBERTO GANHOU o Torneio do Bicentenário dos Estados Unidos em 76. Fez o gol da vitória sobre a Inglaterra (1 x 0), em Los Angeles, e o último gol do 4 x 1 da final com a Itália, em New Heaven: “Nosso ataque era enjoado: Gil, eu, Zico e Lula, e no meio, Falcão, Neca e Rivelino”. Roberto recorda Osvaldo Brandão: “Conhecia e sabia ensinar. Foi outro técnico com quem aprendi muito”.

NA COPA DE 78, ROBERTO não entrou no 1 x 1 com a Suécia e no 0 x 0 com a Espanha, e o Brasil ganhou a 1ª com o gol que fez na Áustria, aos 40 minutos. Não marcou no 3 x 0 no Peru; quase marcou no 0 x 0 com a Argentina, e fez o 2º e o 3º no 3 x 1 na Polônia. O Brasil ficou em 3º, com a virada (2 x 1) na Itália, e a Copa abriu as portas da Europa para Roberto, que no ano seguinte estava no Barcelona.

APESAR DE SÓ TER FICADO três meses no Barcelona – 11 jogos, 3 gols -, Roberto entrou para o Hall da Fama do clube. Com muito prestígio na Espanha, bicampeão em 49-50/50-51 no Atlético de Madrid, e bicampeão no Barcelona em 58-59/59-60, o técnico argentino Helenio Herrera voltou ao Barcelona em 79-81, e não gostava de jogador brasileiro. Roberto não teve chance e sentiu que era hora de voltar ao Brasil.

A VOLTA NÃO PODERIA TER SIDO MAIS TRIUNFAL, com 110 mil torcedores do Vasco em delírio, na tarde do domingo, 4 de maio de 1980, em jogo do Brasileiro. O Corinthians fez 1 x 0, gol de Caçapava, e Roberto enlouqueceu a galera com a virada de 4 gols, no 1º tempo (4 x 2, com Sócrates fazendo o outro gol do Corinthians). Mais um do Dinamite, o 5º gol, na volta do intervalo: Vasco 5 x 2 Corinthians.

ROBERTO RELEMBRA: “Foram mais de 1000 jogos, mais de 700 gols. Não é fácil lembrar só de um jogo, só de um gol e só de uma vitória. Claro que aquele jogo, na minha volta, com cinco gols e mais de 100 mil no Maracanã, é um dos jogos marcantes da minha vida com a camisa do Vasco”. O time jogou de preto com a faixa branca: “Era a minha camisa preferida porque é a camisa da história do Vasco”.

O GOL DO LENÇOL, na virada de 2 x 1 no Botafogo, pela Taça Guanabara, no domingo, 9 de maio de 76, foi o mais bonito dos 708 que Roberto marcou, e nesse jogo, que cobri como repórter de campo, a camisa era branca com a faixa diagonal preta. O meia Ademir fez o gol do Botafogo, e na volta do intervalo, Roberto empatou. Aos 44, Zanata cruzou de canhota da linha da grande área, Roberto matou no peito, deu o lençol em Osmar e chutou forte, antes de a bola cair. O gol inesquecível do artilheiro dos artilheiros.

COM OS VOTOS DE MILHARES DE VASCAÍNOS, retribuindo tantos gols, vitórias e títulos, Roberto foi eleito vereador em 1993 e reeleito em 1994. Depois, eleito para cinco mandatos consecutivos de deputado estadual, de fevereiro de 95 a janeiro de 2015. Roberto soube retribuir, desenvolvendo projetos sociais que beneficiaram milhares de famílias. 

ALÉM DE MAIOR ARTILHEIRO – 708 gols em 1.110 jogos – e de maior ídolo da bela história de 124 anos que o Clube de Regatas Vasco da Gama completará dia 21 de agosto, Carlos Roberto de Oliveira foi o único jogador presidente do clube, que o eternizou com uma estátua, inaugurada na noite da 5ª feira, 28 de abril de 2022, duas semanas após completar 68 anos. Bom dizer: torcedores do Vasco arrecadaram, em menos de cinco horas na internet, o valor para a construção da estátua. Prestígio maior, impossível!!!

ENQUANTO REPÓRTER, vi Roberto nascer para o sucesso porque na época as rádios cobriam os jogos de juvenis, e em 71 pedi ao presidente Agathyrno Silva Gomes, que sempre me tratou com muito carinho: “O Vasco não põe o Roberto pra jogar, presidente. Me empreste o Roberto para o Nacional (de Manaus, minha terra). E ele: “Não, esse, não. Pede outro que eu te atendo. O Roberto já vai entrar no time principal”. 

ROBERTO DINAMITE foi fonte de alegria permanente para os torcedores do Vasco. A querida Dulce Rosalina Ponce de Leon, criadora da Renovascão, começava a estender as faixas nas arquibancadas do Maracanã ao meio-dia, cinco horas antes do jogo. Uma delas, a mais marcante das que vi: “ROBERTO, ARTILHEIRO DOS ARTILHEIROS”. Essa faixa me inspirou a criar a frase que disse muitas vezes no rádio, até hoje bem lembrada pelos da época: “ROBERTO, A CAMISA QUE TEM CHEIRO DE GOL”.

Fotos: Marcelo Santos / Foto: Lance! / Daniel Ramalho / Vasco