Foto: LUCAS MERÇON / FLUMINENSE F.C.
Com o anúncio da demissão do técnico Marcelo Oliveira, na tarde desta última quinta (29) de novembro, o Fluminense passou mais um atestado da incompetência e do desespero, a três dias de um jogo decisivo para sua permanência na Série A do maior campeonato de clubes do país e um dia depois de sua eliminação ter sido confirmada na final da Copa Sul-Americana, como já se esperava, após a derrota, por coincidência, pelo mesmo placar do jogo de ida, para o Atlético Paranaense.
A demissão do técnico é ato de rotina no futebol brasileiro e o Fluminense não poderia fugir à regra. É bem mais fácil demitir o técnico do que dispensar os maus jogadores. Justiça seja feita, o elenco do Fluminense está recheado. Atribuiu-se, portanto, ao técnico a culpa exclusiva pela eliminação do time, que completou oito jogos sem vitória e sem fazer gol, agora sob ameaça de novo rebaixamento à Série B. No ritmo em que está, nem mesmo se pode descartar a Série C em 2020.
 
TRAJETÓRIA – Conheço Marcelo Oliveira desde 75, quando voltei ao México, após a Copa de 70, e ele ganhou a medalha de ouro dos Jogos Pan-Americanos, titular do meio-campo da seleção dirigida por Zizinho e Cláudio Coutinho, assistente-técnico. Em 79, trocado pelo zagueiro Osmar, que foi para o Atlético Mineiro, Marcelo chegou ao Botafogo e tornamos a amizade mais frequente, mas, durou pouco, de vez que três meses depois ele comprou o passe e foi jogar no Nacional, em Montevidéu.
NOS RIVAIS – Marcelo Oliveira é caso similar ao de Evaristo Macedo, um dos maiores jogadores da história do Flamengo, ídolo do Barcelona e do Real Madrid, algo difícil de crer para que não conhece a dimensão da rivalidade. Marcelo tornou-se ídolo no Atlético e no Cruzeiro, cuja proporção não é menos intensa. Pelo trabalho sério e pelo respeito, até hoje é reconhecido e reverenciado como um dos profissionais mais corretos e capazes dos rivais mineiros.
 
RECORDE – A carreira de técnico de Marcelo Oliveira começou vitoriosa com o bicampeonato paranaense que ganhou em 2011-12, levando também o Coritiba a duas finais da Copa do Brasil, além de estabelecer um recorde mundial. Entre fevereiro e maio, sob seu comando, o Coritiba venceu 24 jogos consecutivos, marca histórica reconhecida pelo Guiness, o livro dos recordes, lançado em 36 idiomas, em 1955, com venda anual em torno de 100 milhões de exemplares.
BICAMPEÃO – O bi do Coritiba despertou o interesse do Cruzeiro e os bons números de Marcelo Oliveira se repetiram em Belo Horizonte. O Cruzeiro foi campeão brasileiro em 2013, ganhando 45 dos 59 jogos, com o técnico eleito pela CBF o melhor do campeonato. Em 2014, um ano ainda mais bonito na carreira do técnico, campeão mineiro invicto e bicampeão brasileiro por antecipação. Marcelo chegou aos 100 jogos, com aproveitamento de 74,4%, após 69 vitórias.
 
OUTRA MARCA – Marcelo Oliveira entrou no terceiro ano consecutivo como técnico do Cruzeiro, algo não muito comum no futebol brasileiro, conseguindo outra marca muito expressiva em 2015, com 100 vitórias em 152 jogos. Com justiça e reconhecimento, é considerado, entre tantos nomes de valor que comandaram o time em várias fases, o técnico de melhor rendimento da história do maior clube de Minas Gerais.
PALMEIRAS – Marcelo Oliveira foi o técnico campeão da Copa do Brasil de 2015 com Palmeiras, contratado com a saída do carioca Osvaldo de Oliveira. O treinador que o Fluminense demitiu na tarde desta quinta (29) foi também quatro vezes vice-campeão da Copa do Brasil, em 2011-12 com o Coritiba, em 2014 com o Cruzeiro e em 2016 com o Atlético Mineiro. Um currículo valorizado por campanhas bonitas em que teve à disposição jogadores de bom nível para formar as equipes.
 
FLUMINENSE – Contratado em junho, durante o recesso por conta da Copa do Mundo, Marcelo Oliveira dirigiu o time em cinco meses – 12 vitórias, 8 empates, 12 derrotas – e era impossível que fosse mais longe com um grupo tão fraco tecnicamente. Saiu após o oitavo jogo sem vitória e sem gol. No desespero e na incompetência, o Fluminense dá ao assistente-técnico Fabio Moreno dois dias para orientar o time e conseguir pelo menos empatar domingo (2) com o América Mineiro para não ser rebaixado.
O auxiliar-técnico vai dirigir o time, sem que se lhe possa creditar mérito por vitória ou culpa pela derrota. O Fluminense termina 2018 com um dos fracassos mais contundentes de sua história, envergonhado pelo recorde de oito jogos sem vitória e sequer sem fazer gol, o que nunca aconteceu desde 21 de julho de 1902, dia da inauguração de um clube que nasceu sob o signo de vitórias e de títulos.