Pouco depois da vitória que lhe valeu o primeiro título como técnico, e de abraçar chorando a todos os jogadores do Palmeiras, Abel Ferreira se sentiu ainda mais emocionado com os parabéns, pelo celular, de Frederico Varandas, presidente do Sporting, líder e único invicto do atual Campeonato Português, que defendeu como lateral-direito e ganhou duas Taças e duas Supertaças de Portugal. Durante a entrevista no Maracanã, ele pediu que o Brasil valorize mais seus técnicos.
EXEMPLOS – Abel Ferreira citou os exemplos de Abel Braga, técnico do Internacional, e de Fernando Diniz, do São Paulo: “Quase demitiram o Abel Braga, após as eliminações da Libertadores e da Copa do Brasil. É uma pena que futebol brasileiro se apegue muito à cultura dos resultados e menos ao valor do trabalho. Na minha visão, os dirigentes dos clubes brasileiros deveriam dar muito mais valor aos técnicos formados no Brasil”.
BANHO GELADO – Enquanto Abel Ferreira concedia a entrevista, jogadores do Palmeiras mantiveram a tradição e deram um banho de água gelada no técnico, que sorriu e continuou: “O futebol brasileiro é bom em tudo o que faz, com recursos que não se encontram em outros países, mas a cultura dos resultados prejudica muito os profissionais. O Fernando Diniz foi ameaçado depois que o São Paulo perdeu a liderança. É preciso calma, muita calma com os técnicos no futebol brasileiro”.
TRÊS MESES – Abel Ferreira completou três meses no Palmeiras, com o retrospecto de 15 vitórias, 5 derrotas, 4 empates, desde o 1 x 0 no Bragantino, dia 5 de novembro, na Copa do Brasil, que vai decidir em fevereiro com o Grêmio. Após comandar a melhor campanha do Sporting de Braga, com recorde de pontos (75), vitórias (33) e gols (101), o PAOK, da Grécia, pagou a multa de 600 mil euros para tê-lo, como fez o Palmeiras, que também indenizou o clube grego.
ABEL FERREIRA, terceiro europeu campeão da Libertadores, é de Penafiel, distrito do Porto, e iniciou como lateral no FC Penafiel, em 97, passando pelo Vitória de Guimarães e pelo Sporting de Braga, que o vendeu por 750 mil euros ao Sporting de Lisboa, cuja camisa vestiu em 182 jogos. Durante um treino em 2011, sofreu ruptura dos ligamentos, fez boa cirurgia, mas a firmeza não era igual, e então iniciou como técnico, aos 34 anos, no sub-19 do próprio clube.
DESAFIO MAIOR – Campeão da Libertadores aos 42 anos, o técnico do Palmeiras vê desafio maior em fevereiro, na disputa do Mundial de clubes e ressalta: “Todos falam em Palmeiras x Bayern Munique na final, mas o histórico mostra que houve algumas surpresas nas semifinais, e é melhor falarmos do primeiro jogo, que não será nada fácil, seja com o Tigres (México) ou com Ulsan (Coreia do Sul)”. O Palmeiras jogará com o vencedor dia 7 de fevereiro. A final será dia, 11 em Doha, capital do Catar.
DEFINIÇÃO – Sobre a final da Libertadores – Palmeiras 1 x 0 Santos -, o técnico português definiu assim: “Já se esperava muito equilíbrio e que o jogo pudesse ser decidido por uma bola, como aconteceu. Duas equipes com grandes valores, embora isso nem sempre seja garantia de um jogo bonito porque a tensão se sobrepõe. Observei tensão dos dois lados, o que também era esperado pela grande importância do jogo”.
TRÊS EUROPEUS – Abel Ferreira igualou-se em 2020 no Palmeiras a Jorge Jesus em 2019 no Flamengo, mas, antes deles, o primeiro europeu a ganhar a Libertadores foi Mirko Jozic, campeão em 1991 com o Colo Colo, onde iniciou em 1988 no sub-17, e dirigiu o time principal, três vezes campeão chileno, em 90-91-93, e campeão da Recopa Sul-Americana em 92. O croata Mirko Jozic, hoje aos 80 anos, foi técnico da Croácia na Copa do Mundo de 2002, a última que o Brasil ganhou.
OUTROS TRÊS – Há mais três técnicos campeões da Libertadores, dirigindo equipes que não eram do país onde nasceram: Luis Cubilla, ponta uruguaio campeão em 61 no Peñarol e em 71 no Nacional, foi o técnico campeão em 79 e 90 com o Olímpia do Paraguai, que ganhou o terceiro título em 2002, dirigido pelo argentino Nery Pumpido, goleiro campeão do mundo em 86. Outro argentino campeão foi o zagueiro Edgardo Bauza, técnico da LDU, do Equdor, na decisão de 2008 com o Fluminense.
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